Como lidar com queimaduras causadas por águas-vivas

Especialistas alertam que práticas como lavar região agredida com água doce e uso de pomadas podem agravar situação

23 dez 2025 - 20h12

No verão, com o aumento da procura por praias em dias de sol, é comum o registro de incidentes envolvendo animais marinhos.

De acordo com o "Manual de Diagnóstico e Tratamento de Acidentes por Animais Peçonhentos", do Ministério da Saúde, essas ocorrências estão associadas principalmente a espécies do grupo dos celenterados, como as caravelas (Hydrozoa) e as águas-vivas (Scyphozoa), cuja presença é mais frequente na região Sul do País, especialmente nos Estados de Santa Catarina, Paraná e Rio Grande do Sul.

Publicidade

As queimaduras provocadas por esses animais costumam ser superficiais, mas, principalmente em crianças, podem evoluir para quadros mais graves, com sintomas como desmaios e convulsões. Embora a maioria dos acidentes não resulte em complicações severas, é importante ficar atento à progressão dos sintomas.

Segundo Flávia Prevedello, dermatologista pediátrica do Hospital Pequeno Príncipe, as crianças são mais suscetíveis a esses acidentes por terem menor área corporal. "Além disso, dependendo do grau de exposição, a toxina tende a ter um efeito mais potente, já que o sistema circulatório da criança é mais eficiente, o que favorece a dispersão mais rápida do veneno", explica.

Quais são os sintomas comuns da queimadura?

Após o contato com uma água-viva, é comum que a região da pele atingida fique marcada de forma semelhante a uma "chicotada". A lesão é provocada pelos tentáculos do animal, afirma Flávia. "A gravidade da reação depende da área atingida, da extensão do contato e também da exposição a mais de um animal durante o acidente", complementa a médica.

As águas-vivas são animais marinhos de estrutura circular, com vários tentáculos que contêm organelas capazes de ejetar veneno com ação neurotóxica e necrosante. "Um único tentáculo pode ter milhões dessas estruturas, que podem provocar um envenenamento importante", afirma a dermatologista Adriana Lima Gürtler, membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia e da Sociedade Brasileira de Cirurgia Dermatológica.

Publicidade

Entre os principais sintomas, comuns tanto em crianças quanto em adultos, estão a dor intensa e imediata, além do surgimento de placas lineares, inchadas e avermelhadas, que reproduzem o formato dos tentáculos. Essas lesões podem evoluir para bolhas e costumam ser bastante dolorosas.

Apesar da intensidade da dor, os sintomas costumam diminuir entre uma e duas horas após os primeiros cuidados. Já a coceira e a vermelhidão podem persistir por semanas, segundo as especialistas. As manchas que surgem na pele também podem demorar para desaparecer, completa Adriana.

Quais cuidados tomar após a queimadura?

Assim que perceber que a pele entrou em contato com um celenterado, a orientação é lavar a área com água salgada e, se disponível, aplicar vinagre no local por 30 segundos a um minuto. "Esse método ajuda a neutralizar a liberação de toxinas", explica Flávia.

A dermatologista ressalta ainda que, caso haja tentáculos aderidos à pele, é importante removê-los com o auxílio de luvas ou de um objeto rígido, como um cartão, evitando o contato direto com as mãos.

Publicidade

Para aliviar a dor, a recomendação é aplicar no local compressas de água morna, que têm efeito analgésico, segundo Adriana. "Compressas ou banho de vinagre ajudam a bloquear as células peçonhentas que permanecem aderidas à pele e ainda não foram disparadas", afirma.

Como podem surgir manchas e infecções secundárias, é importante evitar a exposição da área ao sol e manter a pele limpa, observando o aparecimento de feridas ou sinais de inflamação. Também não é recomendado esfregar a região, aplicar gelo, água doce ou urina no local nem utilizar pomadas ou outros produtos sem orientação médica, práticas que podem favorecer a dispersão das toxinas.

Quando procurar auxílio médico?

De acordo com as especialistas, em casos de inchaço intenso, vômitos, queda da pressão arterial, tremores ou outros sintomas de intoxicação, a orientação é buscar atendimento médico imediato, pois esses sinais podem indicar reações mais graves ao veneno das águas-vivas.

Também é recomendado procurar ajuda profissional se o contato ocorrer na região dos olhos, face ou genitais; se a dor piorar mesmo após os primeiros cuidados; se o acidente envolver crianças, idosos ou pessoas imunossuprimidas; ou diante do surgimento de sintomas sistêmicos, como dificuldade para respirar, chiado no peito, inchaço facial ou sinais de infecção.

Publicidade

Para evitar acidentes, as dermatologistas orientam que banhistas evitem nadar em áreas onde haja sinais da presença de águas-vivas ou caravelas. Em algumas regiões, é comum que bandeiras ou avisos indiquem a ocorrência desses animais no mar.

O uso de roupas de proteção, como camisetas ou peças específicas para uso na água, também pode ajudar a reduzir o risco de contato com os tentáculos.

Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se