Um trecho de 2 km da praia do Cassino, em Rio Grande (RS), foi interditado devido ao acúmulo de lama causado pelo transporte natural de sedimentos provenientes da bacia hidrográfica regional, agravado por desmatamento e mau uso do solo.
Cerca de 2 km da praia do Cassino, em Rio Grande (RS), foram interditados após a invasão de lama na região. Essa é considerada a maior do Brasil, devido a sua extensão contínua de 256 km. A medida foi tomada por questões de segurança. O Terra consultou um oceanógrafo para explicar o motivo do ocorrido.
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De acordo com a Secretaria do Cassino, o expurgo da lama ocorreu no último dia 20. Equipes foram até o local para colocar marachas --pequenos muros de areia-- para delimitar e restringir o acesso entre a região da Rua Rio de Janeiro até as proximidades do canal de drenagem Farroupilha.
Além disso, conforme nota do secretário Miguel Satt, a pasta segue monitorando o local e, se necessário, será feita mais uma intervenção. Mas, afinal, por que isso acontece?
De acordo com o professor de oceanografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Osmar Olinto Möller Junior, esse fenômeno está ligado ao transporte natural de sedimentos, originados na bacia hidrográfica, cujas águas são drenadas para o oceano pela Lagoa dos Patos, a maior da América do Sul.
Ele aponta ainda que os estudos indicam que descargas no oceano desse material, composto de silte e argila da ordem de toneladas por dia, e, quando há grandes tempestades, isso acaba sendo transportado para a praia.
"Em períodos das chuvas mais intensas e frequentes do final de inverno e primavera, chega-se a várias toneladas por dia, lançadas diretamente no oceano”, reforça.
Nada tem a ver com a dragagem
O professor salienta que o local de despejo desses sedimentos é estável, ou seja, não sofre erosão depois que é feita a dragagem na região. "Existe um depósito de lama mais fluída, mais fácil de ser ressuspensa, mais ou menos centrada na profundidade de 6 metros. Normalmente, este material se deposita na cava, a parte mais profunda entre os bancos de areia. A espessura, área e volume tem sido constantemente monitorada. É esse o material que está disponível para ser lançado durante uma tempestade”, descreve.
Desde 2018, um convênio entre a Furg, o Portos RS e pesquisadores do Sistema de Monitoramento da Costa Brasileira (Simcosta), monitora vários aspectos da área portuária e da região costeira, onde são feitos levantamentos batimétricos do sítio de despejo e da espessura do bolsão de lama.
Möller Junior explica que o problema dessa lama na praia está associado às condições da bacia hidrográfica que é maltratada com desmatamento, mal uso de solos, retirada de matas ciliares e crescimento de áreas urbanas.
“Desmatamento, além de expor solos à erosão, também diminui a evapo-transpiração, aumentando o escoamento superficial. Este também aumenta com o crescimento de áreas urbanas, pois a não infiltração diminui e mais água escoa para os rios. O que devemos fazer? Cuidar mais das bacias hidrográficas! Isso é difícil, depende de políticas públicas, de movimentos dos comitês de bacias onde vários interesses estão misturados entre outras coisas. Daí, culpar a dragagem é mais fácil”, desabafa.