Pré-COP30, Cúpula do Clima começa com desinformação, bloqueios e protesto em Belém

Líderes globais se encontram nesta quinta-feira, 6, na capital do Pará

6 nov 2025 - 11h28
(atualizado às 17h10)
Cúpula de Líderes começa em meio a protesto de indígenas
Cúpula de Líderes começa em meio a protesto de indígenas
Foto: Beatriz Araújo/Terra

A abertura da Cúpula do Clima, que recebe líderes globais, em Belém, nesta quinta-feira, 6, começou com dificuldades para chegar ao local do evento e manifestações de povos indígenas que ficaram de fora da COP30, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima -- a primeira a acontecer no Brasil.

Belém, capital do Pará, também se torna temporariamente a capital do Brasil para receber a COP. Ao longo dos últimos meses, a escolha da cidade foi alvo de críticas devido a questões de disponibilidade de hospedagens e infraestrutura. Já nas últimas semanas, hospedagens abaixaram os preços e a cidade se encontra 'moldada' para o evento internacional. 

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Em um primeiro momento, o que se notou foi uma falta de sinalização para os caminhos possíveis para chegar à região na Zona Azul, onde acontece o encontro dos líderes. O Terra conversou com diversas pessoas que tiveram problemas com informações desencontradas sobre o trajeto e muito trânsito. No caso da reportagem, um caminho que deveria levar 15 minutos, demorou uma hora, tanto por falta de sinalizações como por interdições.

A segurança também foi bastante reforçada, com agentes armados espalhados por todos os lados, a inclusão de detectores de metais em todas as entradas, além da detecção e mitigação de drones não autorizados em áreas sensíveis relacionadas à COP30. 

Segundo a Polícia Federal, desde o início das operações, o sistema de monitoramento identificou 316 Aeronaves Remotamente Pilotadas (ARPs) não autorizados e mitigou 31 tentativas de sobrevoo irregular em áreas de interesse estratégico.

A PF ressalta que a pilotagem de drones está terminantemente proibida nas áreas de interesse da conferência e da segurança presidencial, especialmente nas proximidades do Aeroporto Internacional de Belém, Parque da Cidade, Porto Miramar, Porto Outeiro e locais onde se encontrar o Presidente da República.

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Protesto na recepção

Chegando em frente à Zona Azul, uma faixa com a frase: "Financiamento direto para quem cuida da floresta", em protesto organizado pela Aliança dos Povos pelo Clima. Dezenas de pessoas estavam concentradas no local, onde também indígenas faziam falas de protesto e entoavam cânticos tradicionais.

"A gente está na Amazônia, um grande evento vai acontecer na Amazônia, mas os povos indígenas vão estar do lado de fora. E a gente está mesmo do lado de fora mostrando que nós estamos aqui", disse Walter Kumaruara, de Pedra Branca, no Baixo Tapajós, do município de Santarém, do Pará, representando a Aliança.

"Nós não somos só para estar em outdoor, a gente existe" -- Walter Kumaruara, indígena representante da Aliança dos Povos pelo Clima.

Cúpula de Líderes começa em meio a protesto de indígenas
Foto: Beatriz Araújo/Terra

Encontro de líderes

A Cúpula do Clima de Belém, que reúne líderes globais, tem início no começo da tarde com a Abertura da Plenária Geral dos Líderes, após a recepção dos mesmos pelo presidente Lula na Zona Azul do Parque da Cidade.

Ao longo do dia, os chefes de delegação farão seus discursos formais sobre o clima. O primeiro a falar é Lula, representando o Brasil. Depois está prevista a fala de um representante das Nações Unidas, da Organização Meteorológica Mundial, de representantes da sociedade civil e depois tem início os chefes das nações em ordem alfabética.

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Deve falar hoje, também, o príncipe William, do Reino Unido. Ele já está no Brasil, tendo mediado o evento Earthshot ontem,  quarta-feira, dia 5. 

Grupo indígena cobra participação na COP30
Foto: Beatriz Araújo/Terra

A previsão é que os discursos sigam até 18 horas. O restante dos países irão se pronunciar amanhã, sexta-feira, na continuação do evento.

Já Lula está em Belém desde o dia 1° de novembro participando de encontros com líderes, inaugurando obras de infraestrutura e indo a encontro com comunidades locais. O presidente seguirá na capital até o dia 7, conforme divulgado em sua agenda, quando tem fim a Cúpula do Clima.

"Tenho certeza de que nós vamos fazer a melhor COP de todas as COPS já realizadas até hoje. Nós já fizemos o melhor G20, já fizemos o melhor BRICS, e vamos fazer a melhor COP de todas”, afirmou o presidente na terça, dia 4, em coletiva com a imprensa internacional.

A COP tem inicio dias após o governo Lula liberar estudos para a exploração na Foz do Rio Amazonas -- movimento criticado por especialistas, ambientalistas e a comunidade científica, que também apontaram riscos de acidentes e impactos socioambientais profundos na região. Nessa mesma entrevista ele chegou a questionar as criticas que recebe sobre o assunto.

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"Nós temos autorização para fazer o teste. Se a gente encontrar o petróleo, que se pensa que tem, vai ter que começar tudo outra vez para dar licença. Nós iremos fazer, se tiver que explorar, da forma mais cuidadosa que alguém pode fazer”, disse Lula, segundo registros da Agencia Gov.

“Eu seria incoerente se, num ato de irresponsabilidade, dissesse: ‘nós não vamos utilizar mais petróleo’. Seria um ato de incoerência e irresponsabilidade, porque não sobreviveríamos sem isso. E nenhum outro no mundo consegue sobreviver sem isso. Eu acabo o petróleo e vou utilizar o quê? Nós temos que ter responsabilidade.”, reforçou na ocasião.

Os combustíveis fósseis seguem sendo o 'elefante na sala', e deve ser o tópico central da discussão -- como já apontaram especialistas à reportagem. A maior parte das emissões globais vem da queima de combustíveis fósseis -- com ênfase no setor da energia. Estão entre os países que mais emitem China, Estados Unidos, União Europeia, Índia e Rússia.

No caso do Brasil, o cenário é diferente. O país emite gases de efeito estufa principalmente por mudanças do uso do solo --- o que inclui queimadas, desmatamento e atividades agropecuárias. A cidade que mais emite, por exemplo, é São Félix do Xingu, onde há cerca de 40 cabeças de gado por habitante.

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*A repórter viajou a Belém (PA) com o apoio do ClimaInfo

Fonte: Portal Terra
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