A Cúpula do Clima, que antecede a COP30 em Belém, chamou atenção pelos altos preços de alimentos, infraestrutura inacabada e foco nas discussões sobre mudanças climáticas e combustíveis fósseis, com destaque para o discurso do presidente Lula.
Os bastidores da COP30 não são feitos apenas de espanto com os preços das hospedagens. Comer na Zona Azul do Parque da Cidade, área voltada às delegações, à imprensa e outras pessoas credenciadas, também custa caro. Durante a Cúpula do Clima, que teve início nesta quinta-feira, 6, em esquenta às negociações climáticas, foi possível sentir o termômetro: pão de queijo vendido a R$ 45, fatia de bolo a R$ 40, água mineral a R$ 25 e mais. Tudo isso em um ambiente incompleto ainda em clima de obra.
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No primeiro dia da Cúpula do Clima, é possível encontrar dois espaços voltados para a compra de comidas. O primeiro é na sala de imprensa, onde há lanchonetes montadas em meio à área. Em uma delas há produtos vendidos pelo Nanay Café – empreendimento que funciona originalmente no Shopping Castanheira, também em Belém.
Na COP, o estabelecimento vende fatias de bolo – no estilo “café da tarde” – a R$ 35 ou R$ 40, dependendo do sabor; coxinhas e pães de queijo a R$ 30 e croissants a R$ 40. Um cafezinho coado de 60 ml custa R$ 18, e um de 160 ml R$ 20. Água mineral de 350 ml sem gás, R$ 25.
Comparando os preços com os disponibilizados pela loja em seu perfil de venda online no Ifood, há uma discrepância. Lá, pedaços de bolos confeitados giram em torno de R$ 25, o mesmo croissant é vendido a R$ 24,90 e o pão de queijo a R$ 14,50, por exemplo. Água mineral de 500 ml: R$ 10.
Na Cúpula, para além dos preços, o empreendimento enfrentou problemas com a falta de energia. A falha interrompeu a venda de café, por exemplo, até cerca de 11h. E quem não quis comprar, ou esperar, disputou uma dose na garrafa de café comunitária do setor da imprensa -- área que se manteve quase sempre vazia.
Veja o cardápio na íntegra:
O Terra questionou a COP sobre as obras em andamento, foi respondido que "as obras estruturais e permanentes relacionadas à COP30 já foram concluídas. No caso da Blue Zone, por se tratar de estruturas temporárias, a finalização ocorre naturalmente nas vésperas do evento. As obras estão sendo executadas dentro do prazo previsto, sem quaisquer atrasos". Posteriormente, a reportagem também solicitou uma manifestação sobre os preços e aguarda retorno. O espaço segue aberto e será atualizado em caso de resposta.
‘Dining area’
Enquanto a sala de imprensa é voltada aos profissionais da comunicação, a Zona Azul conta com a ‘Dining area’ – um espaço de refeições localizado em área aberta que também serve como local para fumantes. Além do choque da temperatura provocado pelo ar-condicionado gelado no interior da estrutura da Cúpula com o calor externo, há também um clima de obra no local, com escadas espalhadas e banheiros ainda com instalações incompletas.
Lá há guichês que vendem alimentos – sendo lojas, repartidas em dois blocos pricipais, um mais à esquerda e outro mais à direita do espaço. Os preços variam entre os empreendimentos, mas os custos seguem acima dos valores padrões de mercado. A reportagem encontrou quiches a R$ 40, copos com mini pães de queijo também a R$ 40, empadas de 130g a R$ 39 e sucos a R$ 35, por exemplo.
Visualmente, até o fim desta quinta, a maior parte das ‘lojas’ parecem estar ainda sendo montadas, com prateleiras vazias e falta de cardápios impressos.
Confira alguns dos produtos e seus valores comercializados no espaço:
Além desses guichês há ainda uma estrutura similar a um shopping com dois andares, onde o que seriam lojas, são restaurantes. Até a Cúpula do Clima, apenas o primeiro andar estava funcionando com algumas opções de restaurantes -- e o planejado é que tudo seja inaugurado na segunda-feira, com a COP30. Além disso, por lá é possível encontrar de forma gratuíta latas de água iguais às diponibilizadas na "área vip" de forma.
Por mais que a água mineral esteja sendo vendida a preços considerados abusivos em cafés espalhados pela Zona Azul, há diversos galões de água espalhados por toda a Zona Azul para que todos tenham acesso gratuito à hidratação.
Modo específico de compra
Todos os serviços de alimentação dentro do Parque da Cidade, tanto na Zona Azul quanto na Zona Verde (que funcionará durante os dias da COP30 na próxima semana) terão o pagamento unificado por meio de um cartão exclusivo para consumo dentro do evento.
Como funciona? É preciso encontrar os funcionários identificados com uniforme amarelo e placa “Caixa". Com eles você escolher o valor que irácarregar o cartão e pagar com crédito, débito, PIX ou dinheiro em reais. Para se cadastrar é preciso apenas informar o CPF. Depois, caso o valor termine, é possível recarregar. E se for o caso de “sobrar” algum crédito até o final da COP, é possível pedir o reembolso por meio do site da empresa.
Cúpula dos Líderes e COP30: entenda
Belém deixou de ser apenas a capital do Pará e passou, temporariamente, a ser a capital do Brasil para receber a COP30, a 30ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. É a primeira vez que o evento acontece no Brasil.
As programações da COP, em si, terão início na próxima segunda-feira, dia 10. No entanto, diversas atividades esquentam o período de negociações climáticas. Nesta quinta-feira, por exemplo, teve início a Cúpula do Clima, onde os líderes mundiais se encontraram para articularem sobre os principais desafios e compromissos no enfrentamento à crise climática.
Ao longo do dia, os chefes de delegação fizeram discursos formais sobre o clima. Quem não falou nesta quinta, irá se pronunciar na sexta-feira, dando continuidade ao evento.
Lula está em Belém desde o dia 1° de novembro participando de encontros com líderes, inaugurando obras de infraestrutura e indo a encontro com comunidades locais. O presidente seguirá na capital até o dia 7, conforme divulgado em sua agenda, quando tem fim a Cúpula do Clima.
Os combustíveis fósseis seguem sendo o 'elefante na sala', e devem ser o tópico central da discussão -- como já apontaram especialistas, como Thelma Krug, que afirmou que Brasil não fará feio na COP, mas alerta: 'não é sobre floresta, é sobre combustíveis fósseis'. E em seu discurso, Lula deu ênfase à problemática – mesmo com o posicionamento encarado como contraditório de apoiar os estudos para exploração na Foz do Rio Amazonas.
A maior parte das emissões globais são devido à queima de combustíveis fósseis -- com ênfase no setor da energia. Estão entre os países que mais emitem China, Estados Unidos, União Europeia, Índia e Rússia.
No caso do Brasil, o cenário é diferente. O país emite gases de efeito estufa principalmente por mudanças do uso do solo --- o que inclui queimadas, desmatamento e atividades agropecuárias. A cidade que mais emite, por exemplo, é São Félix do Xingu, onde há cerca de 40 cabeças de gado por habitante.
* A repórter Beatriz Araujo viajou a Belém com apoio do ClimaInfo.