COP30: países repudiam rascunho final por ausência de 'mapa do caminho' para fim de combustíveis fósseis

Nova versão do documento final foi divulgada na madrugada desta sexta-feira, 21

21 nov 2025 - 08h36
(atualizado às 12h33)
Pavilhão italiano na COP30 recebeu debate sobre jornalismo ambiental
Pavilhão italiano na COP30 recebeu debate sobre jornalismo ambiental
Foto: ANSA / Ansa - Brasil

A Presidência da 30ª Conferência das Nações Unidas para o Clima (COP30) publicou uma nova versão do rascunho do documento final na madrugada desta sexta-feira, 21, por volta das 3h. O documento, no entanto, não traz destaque para o chamado 'mapa do caminho' que tem como objetivo acabar com o uso de combustíveis fósseis --um dos principais vilões do aquecimento global. 

Chamado de "Decisão Mutirão", o texto foi rejeitado por 29 países que afirmaram "não poder auxiliar" e "não poder apoiar um resultado que não inclua um roteiro sobre combustíveis fósseis". Eles exigem “firmemente” uma “proposta revisada”.

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“Expressamos profunda preocupação com a proposta atual em consideração, que é do tipo ‘aceitar ou rejeitar’. Não podemos apoiar um resultado que não inclua um roteiro. Solicitamos respeitosamente, mas com firmeza, que a presidência apresente uma proposta revisada. O sucesso da presidência dependerá da apresentação de um resultado equilibrado e voltado para o futuro, em vez de pedir que outros aceitem apenas o que os menos ambiciosos estão dispostos a permitir", afirmou o grupo.

Além da Colômbia, poucos países que rejeitam a ausência do 'mapa do caminho' são, de fato, produtores ou exportadores de combustíveis fósseis. Segundo especialista ouvido pelo Terra, a maioria dos países produtores de petróleo não quer ver essa menção no texto.

O “mapa do caminho” foi uma das demandas apresentadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) durante a Cúpula de Líderes, que antecedeu a COP30. Medida que também foi defendida pelo secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, em um discurso realizado na quinta-feira, 20. 

"Acho que este não é o momento de falar sobre a possível falha da COP30. Este é o momento de garantir que esse fracasso não aconteça. Por isso, estou plenamente convencido de que um compromisso é possível, que leve em conta, como mencionei, as preocupações legítimas sobre adaptação e as preocupações legítimas sobre mitigação, que, é claro, incluem a necessidade de considerar a questão dos combustíveis fósseis, como foi feito na Cúpula de Dubai, a COP anterior", disse Guterres.

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Sem a apresentação do 'mapa do caminho', o rascunho final afirmou que é necessário "apelar a esforços para triplicar o financiamento para adaptação" e que o "acelerador de implementação global é voluntário", ainda que a proposta pelo fim dos combustíveis fósseis já houvesse sido apoiada por 80 países. Desde a COP28, esse tem sido um tema de intenso debate entre as delegações. 

Entre os signatários da carta de repúdio estão Áustria, Bélgica, Chile, Colômbia, Costa Rica, Croácia, República Tcheca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Guatemala, Honduras, Islândia, Irlanda, Liechtenstein, Luxemburgo, Ilhas Marshall, México, Mônaco, Países Baixos, Panamá, Palau, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido e Vanuatu.

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Repúdio de ambientalistas

O rascunho final apresentado pelas lideranças da COP30 também frustrou os ambientalistas, que esperam avanços mais significativos na transição energética.

“O texto atual da COP30 está muito aquém do que as pessoas nas ruas de Belém e nos corredores da COP exigem – e do que o próprio Presidente Lula defendeu. A falta de um plano concreto para lidar com a produção de carvão, petróleo e gás só aumenta a urgência de um Tratado sobre Combustíveis Fósseis", pontuou Kumi Naidoo, presidente da Iniciativa do Tratado sobre Combustíveis Fósseis. 

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"Não podemos nos dar ao luxo de esperar mais um ano por outro sinal político fraco enquanto comunidades inteiras queimam e se afogam", completou ele, que destacou que o Tratado sobre Combustíveis Fósseis oferece um roteiro eficaz, 'um roteiro que prioriza a justiça, a equidade e a urgência'. 

"Dezoito países já o apoiam, sendo o Camboja o mais recente a aderir na COP30. A proposta do Tratado é o caminho mais ambicioso disponível. Qualquer nação que leve a sério o cumprimento do limite de 1,5°C e apoie um roteiro para a transição para longe dos combustíveis fósseis deve se juntar a este corajoso grupo de países.”

Em nota, o Greenpeace também afirmou rejeitar o rascunho apresentado pela COP30 e pediu que as Partes devolvessem o documento à Presidência para revisão. “As metas de emissão para 2035 estão muito aquém do esperado e este texto da Decisão Mutirão é praticamente inútil, pois contribui muito pouco para reduzir a lacuna de ambição de 1,5°C e para pressionar os países a acelerarem suas ações. Não há outra opção senão os países rejeitá-lo e devolvê-lo à presidência para revisão", pontua Carolina Pasquali, diretora executiva da entidade.  

*Essa reportagem foi produzida como parte da Climate Change Media Partnership 2025, uma bolsa de jornalismo organizada pela Earth Journalism Network, da Internews, e pelo Stanley Center for Peace and Security.

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Fonte: Portal Terra
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