Brasil pode se tornar o primeiro país a zerar emissões, diz Carlos Nobre pré-COP30

Cientista climático explicou que estudo a ser apresentado na COP30 mostra ser 'totalmente factível' que realidade seja alcançada até 2040

6 out 2025 - 11h49
(atualizado às 17h47)

O Brasil pode ser o primeiro país a zerar as emissões de gases de efeito estufa até 2040. É o que afirmou o cientista climático Carlos Nobre ao abrir o palco do teatro da Baía dos Vermelhos, no TEDx Ilhabela, realizado nesta segunda-feira, 6, no litoral de São Paulo. A projeção é fruto de um estudo que o especialista irá apresentar na COP30, que terá o País como centro da discussão ambiental global, em Belém, daqui a 35 dias.

Atualmente, o Brasil é o sexto maior emissor de gases de efeito estufa. Diferentemente do perfil dos países que ocupam o topo do ranking, o 'grosso' das emissões não é proveniente da energia, com a queima de combustíveis fósseis -- mas sim da emissão de gases devido ao desmatamento, queimadas e o impacto da agropecuária como um todo.

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"Nosso estudo mostra que o Brasil pode zerar as emissões em 2040. Ser o primeiro país do mundo, totalmente factível. Zerar o desmatamento, a degradação e, obviamente, não mais usar combustíveis fósseis", afirmou o cientista.

Ao zerar os combustíveis fósseis, Nobre explica que há muito a melhorar com relação à energia renovável. "A energia renovável --solar, eólica-- custa de um terço a um quarto do preço da energia elétrica, das termoelétricas, e não emite poluentes. Então, esse é o nosso estudo, nós vamos lançar agora e vamos levar para a COP30", complementou.

Em esquenta para a COP30, TEDx Ilhabela promove nesta segunda-feira, 6, imersão na Mata Atlântica com debates e reflexões sobre meio ambiente, fortalecimento territorial e ancestralidade
Em esquenta para a COP30, TEDx Ilhabela promove nesta segunda-feira, 6, imersão na Mata Atlântica com debates e reflexões sobre meio ambiente, fortalecimento territorial e ancestralidade
Foto: Beatriz Araújo/Terra

Carlos Nobre é considerado um dos principais especialistas em modelagem do clima e referência internacional nos estudos sobre Amazônia e mudanças climáticas.  Um dos autores do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU) e uma das principais vozes brasileiras que marcarão presença na COP 30, Nobre é também professor da Universidade de São Paulo (USP) e co-presidente do Painel Científico para a Amazônia.

Em sua fala, Nobre relembrou a declaração do presidente Lula no final do G20, em novembro passado, no Rio de Janeiro. Na ocasião, o presidente falou que a crise climática é tão grave que todos os países têm que tomar cuidado para zerar as emissões líquidas até 2040, não mais do que até 2045. 

"Então vamos torcer muito que a COP30 se torne a mais importante de todas as COPs. A ciência mostra que nós vamos ter cerca de 10 milhões de quilômetros quadrados em todo o mundo com restauração dos biomas para remover o gás carbônico. [Nisso] o Brasil pode ser o país com mais de 1 milhão de quilômetros quadrados, até 2040, incluindo os biomas, Amazônia, Mata Atlântica, Cerrado, Caatinga e Pantanal. Então, vamos torcer muito que a COP30 seja a mais importante", finalizou.

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TEDx Ilhabela

Em um teatro literalmente rodeado pela Floresta Amazônica, o evento buscou se alinhar aos pilares da sustentabilidade
Foto: Beatriz Araújo/Terra

O TEDx Ilhabela, em esquenta para a COP30, promoveu uma imersão na Mata Atlântica com debates e reflexões sobre meio ambiente, fortalecimento territorial e ancestralidade.

Em um teatro literalmente rodeado pela floresta, o evento buscou se alinhar aos pilares da sustentabilidade desde ações simples, como a entrega de um copo único para se usar ao longo do dia. Já a alimentação teve como foco a gastronomia caiçara local, com alimentos que vieram da terra em destaque. O evento ainda contou com diversas intervenções artísticas ao longo do dia.

De forma fixa, tecidos vermelhos, representando arteriais, entrelaçaram os caminhos do público desde a entrada até o palco principal --em uma analogia à busca pelo "pulsar", o que foi repetido diversas vezes no palco. E em diversos detalhes estava presente também a figura do tiê-sangue, pássaro que foi o símbolo do TEDx.

Com relação aos palestrantes, imprevistos marcaram o evento -- por mais que sem avisos claros aos participantes. Entre encontros e desencontros, quatro das figuras femininas previstas não compareceram: Laura Braga, mulher quilombola do Quilombo da Fazenda, em Ubatuba, que é referência na articulação entre ancestralidade, território e direitos; Renata Vanzetto, chef de cozinha e empreendedora que preza pela valorização local de Ilhabela; e Aline Gonçalves, jovem liderança caiçara da comunidade de Castelhanos, em Ilhabela.

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O TEDx Ilhabela contou com diversas intervenções artísticas ao longo do dia.
Foto: Beatriz Araújo/Terra

A quarta foi Cris Takuá, filósofa indígena do povo Maxakali, da aldeia do Rio Silveira, que também não esteve fisicamente no espaço, mas se manifestou por meio de vídeo. No momento, ela falou sobre descolonização do pensamento e a importância de se valorizar as escolas vivas, dos conhecimentos sensíveis ligados aos territórios.

Além disso, ainda se apresentaram nesta primeira edição do TEDx Ilhabela:

  • Hermes de Sousa, educador popular e uma das principais lideranças comunitárias das periferias paulistas, que falou sobre a força da comunidade;
  • Florisbela dos Santos, educadora, guardiã dos saberes ancestrais e liderança do Quilombo do Cipó, que compartilhou sobre ancestralidade;
  • Estevan Sartoreli, que liderou um modelo inovador de produção de cacau que une justiça econômica, revitalização de territórios e regeneração da Mata Atlântica;
  • Eudes Assis, chef caiçara e especialista em gastronomia reconhecido por prêmios no Brasil e no mundo; e
  • David Schurmann, cineasta que ao concluir sua terceira volta ao mundo, a bordo de um veleiro sustentável desenvolvido pela sua família, decidiu transformar sua história e paixão pelo Planeta Água em ação;
  • 
Neide Palumbo, educadora caiçara e contadora de historias; e
  • Karaí Mirim, indígena Guarani e comunicador do Museu das Culturas Indígenas de São Paulo, que representou presencialmente Cris Takuá.

     

Fonte: Portal Terra
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