Quando as Forças Armadas dos EUA realizaram seu primeiro ataque contra um barco suspeito de tráfico de drogas no Caribe, em 2 de setembro, o ataque começou com uma munição de fragmentação que explodiu sobre a tripulação de 11 membros como um guarda-chuva de estilhaços.
Um vídeo do ataque, mostrado aos parlamentares dos EUA na quinta-feira e descrito à Reuters por duas fontes familiarizadas com as imagens, mostrou a fumaça se dissipando e dois homens, que de alguma forma sobreviveram à explosão, agarrados a uma parte cortada da frente da embarcação em um esforço inútil para sobreviver.
Eles estavam sem camisa, desarmados e não carregavam nenhum equipamento de comunicação visível. Também pareciam não ter ideia do que acabara de atingi-los ou de que os militares dos EUA estavam avaliando a possibilidade de acabar com eles.
"O vídeo os acompanha por cerca de uma hora enquanto tentavam virar o barco. Eles não conseguiram", disse uma fonte.
O almirante Frank Bradley, que era o chefe do Comando Conjunto de Operações Especiais na ocasião, concluiu que os destroços provavelmente estavam sendo mantidos porque havia cocaína em seu interior e poderiam ficar à deriva por tempo suficiente para serem recuperados, disseram as fontes.
Assim, Bradley decidiu que, para completar a missão designada pelo secretário de Defesa Pete Hegseth e neutralizar a ameaça representada pelo barco, ele precisaria atacar a embarcação novamente.
O vídeo mostrou três munições adicionais sendo disparadas contra a embarcação danificada, disseram as fontes.
"Era possível ver seus rostos, corpos... Então bum, bum, bum", disse a primeira fonte.
O vídeo foi exibido a portas fechadas no Capitólio por Bradley e pelo general Dan Caine, presidente do Estado-Maior Conjunto. As reações dos parlamentares que assistiram ao vídeo se dividiram de acordo com as linhas partidárias, com os democratas expressando angústia, mas os republicanos defendendo o ataque como legal.
Esse foi o primeiro de 22 ataques a embarcações realizados pelas Forças Armadas dos EUA como parte da campanha do governo Trump para conter o fluxo de drogas ilegais para os Estados Unidos. Os ataques mataram 87 pessoas, sendo que um deles foi realizado no leste do Pacífico na quinta-feira.
"Vi dois sobreviventes tentando virar um barco, carregado de drogas com destino aos Estados Unidos, para que pudessem continuar na luta", disse Tom Cotton, do Arkansas, presidente republicano do Comitê de Inteligência do Senado.
Ele afirmou que Bradley e Hegseth fizeram exatamente o que se esperava deles.
Mas o deputado Jim Himes, de Connecticut, principal democrata do Comitê de Inteligência da Câmara, disse aos repórteres, após a reunião, que foi "uma das coisas mais preocupantes" que ele viu.
O Manual da Lei de Guerra do Departamento de Defesa proíbe ataques a combatentes que estejam incapacitados, inconscientes ou naufragados, desde que se abstenham das hostilidades e não tentem fugir. O manual cita o disparo contra sobreviventes de naufrágios como exemplo de uma ordem "claramente ilegal" que deve ser recusada.
No entanto, os Estados Unidos enquadram os ataques como uma guerra contra os cartéis de drogas, chamando-os de grupos armados, e dizem que as drogas que estão sendo transportadas para os EUA matam norte-americanos.