Pela primeira vez em mais de quatro meses, o combustível entregue pela ONU chegou a Gaza nesta quinta-feira (10), mas o carregamento não é suficiente nem para um dia inteiro, segundo as Nações Unidas. Na Cidade de Gaza, o Hospital Al-Shifa, um dos dois maiores do enclave, encontra dificuldades para manter seus serviços funcionando e só tem o suficiente para acionar seus geradores por mais algumas horas.
Rami El Meghari, correspondente da RFI na Faixa de Gaza, e Justina Fontaine, enviada especial a Jerusalém
Devido à guerra e à falta de recursos suficientes, apenas alguns hospitais continuam funcionando no território palestino. Na sexta-feira, 3.000 litros de diesel foram entregues pela Organização Mundial da Saúde (OMS) ao Al-Shifa, o suficiente para alimentar os geradores por apenas 48 horas. A administração, portanto, precisa racionar a eletricidade.
"Temos duas unidades de produção de oxigênio e duas unidades de dessalinização de água. Isso requer energia 24 horas por dia, 7 dias por semana", explica Ziyad Abu Ehmeedan, diretor técnico do Hospital Al-Shifa.
"Devido à falta de combustível, usamos pequenos geradores nas unidades de emergência vital, que consomem menos energia e são ligados conforme a necessidade. [...] Se um paciente precisa de quatro horas de diálise, agora só podemos fazê-la por duas horas", lamenta.
Vidas de pacientes em risco
"Também tivemos que reduzir a produção de oxigênio, o que pode colocar a vida dos pacientes em risco", diz.
O racionamento já dura quase um mês. A falta de combustível e eletricidade pode causar a morte de pacientes durante as cirurgias, como relata o diretor do hospital.
"Há alguns dias, uma paciente morreu durante uma cirurgia torácica, na sala de cirurgia [...]. Porque naquele dia, um dos pequenos geradores movidos a bateria parou repentinamente [...]. A paciente ficou sem respirador por muito tempo: quando conseguimos reiniciá-lo, já era tarde demais", diz Ziyad Abu Ehmeedan, que solicita mais combustível com urgência.
A situação é ainda mais crítica porque nenhum hospital no norte da Faixa de Gaza está funcionando. Todos os serviços de saúde do enclave também carecem de equipamentos, medicamentos e pessoal.
Além disso, os centros de saúde enfrentam, nas últimas semanas, o aumento da afluência de pessoas feridas por balas. Quase todos os dias, o exército israelense atira em multidões que esperam perto dos centros de distribuição de ajuda humanitária, em busca de comida.
Os poucos hospitais que ainda funcionam no enclave lutam para lidar com o fluxo constante destes feridos.
Na região de Khan Yunis, no sul da Faixa de Gaza, os hospitais estão praticamente fora de serviço "devido à intensificação das hostilidades", segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). No começo da semana, seu diretor emitiu um alerta sobre os últimos hospitais em funcionamento na região, como o Al-Nasser e o Al-Amal.
Embora o exército israelense afirme não exigir a evacuação de hospitais como parte de suas operações contra o Hamas, os moradores não têm mais acesso a eles.
"O hospital está funcionando plenamente para os pacientes. Mas a unidade está dentro do perímetro das evacuações forçadas ordenadas pelo exército israelense", diz Raed el-Nims, porta-voz do Crescente Vermelho Palestino que administra o Hospital Amal. "Esperamos que as pessoas possam novamente ter acesso aos portões do hospital com liberdade e segurança para receber tratamento."