Afeganistão: candidato 'derrotado' reivindica vitória

Em um discurso perante milhares de partidários em Cabul, Abdullah disse que houve fraude na contagem de votos e que não aceitaria a derrota

8 jul 2014 - 18h32
<p>Votos estão sendo recontados, o que poderá alterar significativamente o resultado da eleição afegã</p>
Votos estão sendo recontados, o que poderá alterar significativamente o resultado da eleição afegã
Foto: Getty Images

O ex-ministro das Relações Exteriores e candidato Abdullah Abdullah reivindicou vitória na eleição presidencial do Afeganistão apesar de resultados darem vantagem ao reu rival, Ashraf Ghani.

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Em um discurso perante milhares de partidários em Cabul, Abdullah disse que houve fraude na contagem de votos e que não aceitaria a derrota.

Ghani reagiu dizendo que apoia a recontagem de votos. O secretário de Estado americano, John Kerry, que tinha alertado contra qualquer tentativa de tomada ilegal de poder no país, é aguardado no Afeganistão na sexta-feira para ajudar na busca por uma solução para a crise eleitoral.

Resultados preliminares na segunda-feira deram vantagem a Ghani, com 56,44% dos votos no segundo turno, realizado em 14 de junho. Abdullah, que esteve perto de ser eleito logo no primeiro turno, aparecia com 43,56%.

Recontagem

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Milhares de votos estão sendo recontados em quase um terço dos locais de votação - mais de 7.000 -, o que pode alterar significativamente o resultado, que deverá ser anunciado no dia 22 de julho.

Esta deverá ser a primeira transição democrática de poder na história do Afeganistão. O atual presidente, Hamid Karzai, governa o país desde a queda do Talebã em 2001 e, pela Constituição, não pode concorrer a um terceiro mandato.

A falta de segurança continua a ser um dos maiores problemas no país. O Talebã constantemente realiza ataques em diversas regiões e será um grande desafio a longo prazo para qualquer governante, com a possibilidade do grupo tentar recuperar poder.

Os governos de Estados Unidos e Afeganistão fecharam um acordo para permitir que milhares de soldados americanos permaneçam no país após a saída das forças de combate da Otan no fim deste ano para treinar forças de segurança afegãs.

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Mas Karzai se recusou a assinar o documento e exige que os Estados Unidos cumpram certas condições.

Um acordo final com os Estados Unidos deverá ser prioridade do novo presidente. Todas as outras questões, como tentar negociar algum acordo de paz com o Talebã, reduzir a pobreza, a corrupção e o tráfico de drogas, dependem disso.

'Governo paralelo'

Em seu comício em Cabul, Abdullah não mencionou a criação de um governo paralelo - como muitos de seus partidários haviam sugerido que ele faria. Ele pediu por um país unificado.

"Nós não queremos guerra civil, não queremos uma crise", disse. "Queremos estabilidade, união nacional, não divisão".

Partidários de Abdullah estão revoltados com os resultados da eleição. Eles acreditam que ocorreram fraudes sob as vistas de Karzai, a comissão eleitoral e Ashraf Ghani, segundo o correspondente da BBC Harun Najafizada, em Cabul.

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"Muitos líderes influentes - governadores, líderes distritais, prefeitos - declararam apoio a ele. Mas o Afeganistão é um país dividido - tanto Ghani quanto Abdullah têm muito apoio", disse.

"Analistas ficarão muito preocupados. Eles sabem que o que (partidários de Abdullah) têm sido sugerido - um governo paralelo - pode afetar a estabilidade, economia, segurança e relações do Afeganistão com a comunidade internacional. O Exército por todo o país é tão dividido que é difícil saber como ele responderá. Todos concordam que isso parecer ser uma crise".

Um grupo de partidários de Abdullah rasgou um poster com a imagem de Karzai e muitos gritavam "Morte a Karzai. Vida longa a Abdullah!".

Ambos os candidatos expressaram preocupações sobre a transparência do processo. A última eleição presidencial, de 2009, foi marcada por acusações de fraudes e intimidação. Abdullah, então, se retirou do segundo turno, e Karzai foi declarado vencedor.

Países doadores deixaram claro que só manterão as doações se as eleições forem limpas. No primeiro turno, milhares de funcionários eleitorais foram demitidos após acusações de fraude.

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