ONU afirma que fome em Gaza terminou, mas insegurança alimentar persiste

A fome em Gaza acabou, mas a maioria da população do território continua enfrentando altos níveis de insegurança alimentar, afirmou a ONU nesta sexta-feira (19). A preocupação entre organizações humanitárias que atuam na Faixa de Gaza aumenta devido a um novo procedimento israelense de registro, que ameaça reduzir drasticamente a presença de ONGs em seu território.

19 dez 2025 - 11h54

"Após o cessar-fogo declarado em 10 de outubro de 2025, a análise mais recente do IPC (Classificação Integrada das Fases da Segurança Alimentar) indica uma melhora notável na segurança alimentar e nutricional", informou a agência da ONU responsável pela classificação, com sede em Roma.

No entanto, a maioria da população da Faixa de Gaza continua enfrentando altos níveis de insegurança alimentar, e a situação permanece crítica, apesar do acesso para entregas de alimentos humanitários e comerciais ter sido facilitado, segundo a organização.

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"Toda a Faixa de Gaza está classificada como estando em situação de emergência (Fase 4 do IPC) até meados de abril de 2026. Nenhuma área está classificada em situação de fome (Fase 5 do IPC)", afirmou a agência.

De acordo com a previsão do IPC para o período de 1º de dezembro de 2025 a 15 de abril de 2026, "a situação deverá permanecer grave, com aproximadamente 1,6 milhão de pessoas ainda enfrentando insegurança alimentar em nível de crise ou pior (Fase 3 do IPC ou superior)".

Israel contesta relatório da ONU

"Diante de evidências esmagadoras e inequívocas, até mesmo o IPC teve que admitir que não havia fome em Gaza. No entanto, o relatório do IPC é mais uma vez deliberadamente distorcido e não reflete a realidade na Faixa de Gaza", declarou Oren Marmorstein, porta-voz do Ministério das Relações Exteriores de Israel, na rede social X.

"O relatório ignora o volume considerável de ajuda humanitária que entra na Faixa, pois se baseia principalmente em dados relativos a caminhões da ONU, que representam apenas 20% de todos os caminhões de ajuda", acrescentou.

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No entanto, a desnutrição não é o único problema em Gaza, aponta o IPC, pois "o acesso à água, saneamento e higiene também é muito limitado" e "as condições de vida em moradias superlotadas aumentam o risco de epidemias". Além disso, "mais de 96% das terras agrícolas estão danificadas ou inacessíveis, ou ambas as coisas".

"O gado foi dizimado e as atividades de pesca continuam proibidas. Grande parte da infraestrutura essencial para a movimentação e o armazenamento de alimentos importados foi severamente danificada ou destruída. O dinheiro é escasso e a taxa de desemprego atingiu 80%", segundo o IPC.

Em agosto passado, o IPC declarou estado de fome em Gaza, o primeiro a atingir o Oriente Médio, atraindo a ira de Israel, que denunciou o anúncio como "baseado em mentiras do Hamas".

Restrição a ONGs agrava cenário

Além disso, cresce a preocupação entre organizações humanitárias que atuam na Faixa de Gaza devido a um novo procedimento israelense de registro de ONGs, que ameaça reduzir drasticamente sua presença no território. Quatorze entidades já foram proibidas de entrar no país. Diversos funcionários humanitários denunciam a medida como uma tentativa de "controle político" das operações.

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Entre as ONGs não autorizadas está a Save the Children, uma das mais antigas e atuantes em Gaza, onde presta auxílio a quase 120 mil crianças. Essas organizações têm 60 dias para retirar toda a equipe internacional de Gaza, da Cisjordânia ocupada e de Israel. Elas não poderão mais fornecer ajuda humanitária à região.

"As consequências serão dramáticas se os acessos dessas organizações forem negados", alerta Séverine Rey, diretora regional do Escritório de Coordenação Humanitária da ONU (OCHA). Ela destaca o risco de desmantelamento das operações humanitárias em Gaza.

"Estamos falando do fechamento integral de todos os centros de nutrição atualmente em serviço em Gaza, sabendo que temos mais de 130 mil crianças que sofrem de desnutrição aguda. Isso teria consequências imediatas sobre a vida das pessoas", insiste.

As autoridades israelenses afirmam que recusam o registro de ONGs "hostis" ou que estariam envolvidas em "terrorismo", "antissemitismo" ou que "deslegitimam o Estado de Israel". Mas seu objetivo de controlar a ação humanitária contraria o direito internacional, lembra Séverine Rey. "O acesso humanitário não é só uma opção, não pode estar condicionado a questões políticas; é uma obrigação legal. As autoridades envolvidas são obrigadas a autorizar e facilitar a transferência rápida e sem impedimentos da ajuda humanitária."

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A ONU alertou que não poderá compensar as restrições impostas por Israel às ONGs.

RFI com AFP

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