O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, recebeu, nesta sexta-feira (5/12), o recém-criado Prêmio da Paz da Fifa.
A premiação aconteceu em Washington, durante a cerimônia de sorteio da Copa do Mundo de 2026.
Trump recebeu um troféu e uma medalha das mãos do presidente da Fifa, Gianni Infantino, que já afirmou que o presidente americano merecia ganhar o Prêmio Nobel da Paz por sua contribuição ao cessar-fogo entre Israel e Gaza, além de elogiar com entusiasmo suas políticas.
A relação estreita entre eles tem sido criticada por colocar em questão a neutralidade política da FIFA, prevista em seus estatutos.
Ao receber o prêmio durante a cerimônia, Trump disse ser "uma das maiores honras" de sua vida.
"Muito obrigado. É realmente uma das maiores honras da minha vida. Muito mais que palavras podem falar. Salvamos milhões e milhões de pessoas, o Congo é um exemplo. Mais de 10 milhões de pessoas morreram, e mais de 10 iriam morrer. Índia, Paquistão e tantas outras guerras que conseguimos encerrar, outras que terminamos antes mesmo de começar. Conseguimos fazer isso. É uma honra estar com Infantino, que o conheço há muito tempo", declarou Trump.
Essa foi a primeira edição do Prêmio da Paz da Fifa- O Futebol Une o Mundo, que será uma premiação anual.
Em novembro deste ano, a FIFA anunciou que criaria o prêmio para condecorar pessoas, que, segundo a instituição, tenham tomado "medidas excepcionais e extraordinárias pela paz e, ao fazê-lo, unido pessoas em todo o mundo".
A Copa do Mundo de 2026 acontecerá nos Estados Unidos, México e Canadá. Além de Trump, participam da cerimônia os líderes dos outros dois países anfitriões: a presidente do México, Claudia Sheinbaum, e o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney.
O sorteio da Copa do Mundo 2026 definirá os 12 grupos para a competição. As seleções estão distribuídas em quatro potes para sorteios.
O Brasil está no pote 1, junto com as seleções mais bem classificadas no ranking da Fifa até 19 de novembro: Espanha, Argentina, França, Inglaterra, Portugal, Holanda, Bélgica e Alemanha.
Essa será a primeira Copa do Mundo que contará com a participação de 48 seleções.
'Eu deveria ganhar um Nobel da Paz'
Desde seu primeiro mandato (2017-2021), o presidente americano sempre deixou claro o desejo de receber o Prêmio Nobel da Paz.
Apesar de ter sido nomeado mais de uma vez, o republicano nunca conseguiu igualar o feito de seu antecessor, Barack Obama (2009-2017), que foi agraciado com a distinção em 2009.
Em setembro, em discurso na Assembleia Geral da ONU, Trump disse que deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz e disse que acabou com sete guerras.
"Todos dizem que eu deveria ganhar o Prêmio Nobel da Paz por cada uma dessas conquistas, mas, para mim, o verdadeiro prêmio serão os filhos e filhas que viverão para crescer com suas mães e pais porque milhões de pessoas não estão mais sendo mortas em guerras intermináveis e laureadas pela ONU", disse o presidente.
A BBC já verificou essa informação no passado: algumas das guerras mencionadas por Trump duraram apenas alguns dias — embora fossem resultado de tensões de longa data —, e não está claro se alguns dos acordos de paz vão ser duradouros.
Relação de Trump e Gianni Infantino
Críticos consideram que Infantino e Trump têm uma relação muito estreita, o que envia a mensagem de que o órgão máximo do futebol mundial está se alinhando ao movimento Make America Great Again (MAGA) e que apoia o que muitos veem como uma administração que promove a divisão.
Eles questionam se é sensato que a Fifa se associe tão estreitamente a um homem que, nesta mesma semana, fez comentários depreciativos sobre migrantes, descrevendo-os como "lixo".
Consultado sobre o prêmio, em meio a relatos de que o Conselho da Fifa não tinha conhecimento a respeito, um alto funcionário do órgão dirigente declarou à BBC Sport:
"Por que não pode ser mais importante do que o Prêmio Nobel da Paz? O futebol conta com um enorme apoio mundial, por isso é justo que reconheça esforços extraordinários pela paz todos os anos".
Trump e Infantino têm aparecido juntos, com certa regularidade, em eventos fora do âmbito esportivo.
Desde sua primeira visita ao Salão Oval em 2018, durante o primeiro mandato de Trump, Infantino foi visto com o presidente no Fórum Econômico Mundial em Davos, na assinatura dos Acordos de Abraão em Washington (um pacto entre Israel e alguns países árabes do Oriente Médio em 2020) e até mesmo como convidado na segunda posse de Trump em janeiro.
A Fifa celebrou formalmente a estreita amizade entre os dois após esse evento, e o próprio Infantino insistiu que era algo lógico, dada a importância dos Estados Unidos sediar tanto o Mundial de Clubes expandido quanto a Copa do Mundo.
A Fifa também afirmou que Infantino tinha o dever de desenvolver e promover o futebol globalmente e que ele também mantinha reuniões regulares com outros líderes mundiais.
A proximidade de Infantino com Trump tem provocado reações no futebol.
No início deste ano, delegados da Uefa, entidade que rege o futebol europeu, abandonaram o Congresso da Fifa no Paraguai quando Infantino chegou com horas de atraso após acompanhar Trump em uma viagem pelo Oriente Médio, acusando-o de priorizar "interesses políticos privados", o que "não beneficia o futebol".
Em 2018, o próprio Infantino declarou: "É muito claro que a política deve ficar fora do futebol e o futebol deve ficar fora da política."
No entanto, ele defendeu a viagem com Trump, insistindo que ela havia sido crucial, pois lhe permitiu "representar o futebol" em "discussões importantes" com "líderes mundiais da política e da economia".
Mas o episódio apenas intensificou o escrutínio da relação, assim como a decisão da Fifa de estabelecer um novo escritório na Trump Tower, em Nova York.
Infantino também fez uma aparição surpresa em uma cúpula no Egito, em outubro, onde Trump e outros líderes mundiais assinaram uma declaração para estabelecer a paz em Gaza.
Ele afirmou que o futebol poderia contribuir para os esforços de paz e assegurou que a Fifa ajudaria a reconstruir instalações em Gaza, mas sua presença gerou novamente controvérsia.