Lula busca revitalizar o IBAS durante o G20, destacando a cooperação trilateral entre Índia, Brasil e África do Sul para abordar questões como desigualdade, transição energética, inteligência artificial e agenda climática, enquanto propõe fortalecer a governança global do Sul Global.
Em meio a um G20 marcado por ausências importantes e pela competição entre diferentes grupos do Sul Global, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) buscou, neste domingo, 23, dar novo fôlego ao Fórum de Diálogo Índia, Brasil e África do Sul (IBAS).
Receba as principais notícias direto no WhatsApp! Inscreva-se no canal do Terra
O encontro, realizado paralelamente à cúpula, reuniu líderes dos três países pela primeira vez desde 2011 e foi visto como uma tentativa de reativar um mecanismo que havia perdido visibilidade, especialmente após a expansão dos BRICS.
A retomada do IBAS acontece enquanto o Brasil tenta manejar vários espaços de negociação e defender temas como desigualdade, transição energética e regulação da inteligência artificial diante das principais economias do mundo. No discurso, Lula resumiu o dilema atual do grupo: “Qual é o papel do IBAS?”
Lula também traçou um panorama da relação entre minerais críticos, inteligência artificial e trabalho decente em discurso no segundo do G20. Para ele, a forma de integrar esses três vetores define não apenas o presente, mas o futuro das próximas gerações.
No painel "Um Futuro Justo e Equitativo para Todos", o presidente alertou para os riscos da inovação tecnológica aprofundar desigualdades e enfatizou a urgência de uma governança global da IA centrada na ONU. “Os países com grande concentração de reservas de minerais não podem ser vistos como meros fornecedores, enquanto seguem à margem da inovação tecnológica", declarou.
"O que está em jogo não é apenas quem detém esses recursos, mas quem controla o conhecimento e o valor agregado que deles derivam", defendeu.
IBAS x BRICS
A fala de Lula também refletiu a preocupação com o risco de o IBAS continuar ofuscado pelo BRICS, hoje ampliado e com maior peso geopolítico. O presidente defendeu que o fórum trilateral desenvolva sua própria agenda, com foco em governança digital, direitos humanos, equidade de gênero e regras para inteligência artificial — temas que encontram menos convergência dentro do BRICS, devido às diferenças políticas entre seus integrantes.
Para diplomatas brasileiros, a estratégia permite manter diálogo próximo com Índia e África do Sul sem provocar atritos com a China e a Rússia. Criado em 2003, o IBAS sempre foi visto como um espaço mais democrático e voltado à cooperação entre países do Sul Global.
Desigualdade e clima
O encontro trilateral ocorreu após dois dias de intensa participação de Lula no G20. No sábado, o presidente defendeu que a desigualdade seja tratada como uma “emergência global” e propôs medidas como taxação de super-ricos e a troca de dívidas externas por investimentos em clima — ideias que enfrentam resistência entre países desenvolvidos.
Lula também pressionou por metas concretas para acelerar a transição energética e reduzir o uso de combustíveis fósseis, um dos temas mais sensíveis da cúpula.
A agenda ambiental também esteve presente. Lula voltou a defender o Fundo Florestas Tropicais para Sempre, apresentado como uma alternativa para garantir recursos de longo prazo a comunidades tradicionais e à proteção da Amazônia. A iniciativa é uma das apostas brasileiras para ampliar o financiamento internacional da preservação.
Cooperação trilateral
No encontro do IBAS, Lula destacou o fundo do grupo, que já apoiou 51 projetos em 40 países, como exemplo de cooperação simples e de resultados. Para ele, o mecanismo inspira a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, proposta brasileira que ganhou força dentro do próprio G20.
O presidente também pediu mais coordenação entre Índia, Brasil e África do Sul em áreas como acesso a vacinas, medicamentos e insumos, além de temas de saúde reprodutiva e direitos sexuais, pauta sensível em outros fóruns multilaterais.
A tentativa de revitalizar o IBAS ocorre num cenário em que outras democracias emergentes, como Indonésia, México e Turquia, também buscam espaço no debate global. Lula sugeriu aproximação com esses países, mas sem mencionar uma possível expansão formal do fórum.
O presidente defendeu ainda que as decisões tomadas no IBAS tenham impacto nas negociações da ONU, do BRICS e do próprio G20. A África do Sul, que preside o IBAS neste ano sob o lema “Solidariedade, Igualdade e Sustentabilidade”, será responsável por conduzir as discussões sobre o futuro do grupo.
Participei hoje da Cúpula de Líderes do IBAS, um Fórum de Diálogo entre Índia, Brasil e África do Sul, junto com o Primeiro-Ministro @narendramodi e o presidente @CyrilRamaphosa .
O IBAS nasceu como um importante foro de coordenação de três grandes democracias e economias do Sul… pic.twitter.com/atMHgsgdro
— Lula (@LulaOficial) November 23, 2025