A ONU declarou que o país precisa de uma votação "livre, justa, inclusiva e legítima, que reflita a vontade do seu povo", segundo comunicado do escritório da organização em Mianmar.
Após votar no início da manhã em Naypyidaw, capital administrativa, o chefe da junta, Min Aung Hlaing, afirmou que a eleição é "livre e justa". "Está sendo organizada pelo Exército; não podemos permitir que nosso nome seja manchado", declarou.
Enquanto isso, a ex-líder e ganhadora do Prêmio Nobel da Paz, Aung San Suu Kyi, continua presa. Seu partido foi dissolvido após o golpe militar de fevereiro de 2021, que encerrou a experiência democrática do país.
Além da ONU, diversos países ocidentais e organizações de direitos humanos condenaram as eleições, denunciando a repressão a qualquer sinal de oposição. O Partido da União, Solidariedade e Desenvolvimento (USDP), pró-militar, deve vencer por ampla margem, uma manobra que críticos consideram uma tentativa velada de perpetuar o regime.
Com cerca de 50 milhões de habitantes, Mianmar está devastado por uma guerra civil. As eleições não serão realizadas em grandes áreas controladas por rebeldes. A votação ocorrerá de forma escalonada, durante um mês. A primeira das três fases começou neste domingo, às 6h (20h30 de sábado, horário de Brasília), principalmente em Yangon, Mandalay e Naypyidaw, cidades sob controle do governo.
Clima de repressão
"A eleição é muito importante e trará o melhor para o país", disse Bo Saw, o primeiro eleitor a votar ao amanhecer em uma seção eleitoral no distrito de Kamayut, em Yangon, perto da casa de Aung San Suu Kyi. "A prioridade deve ser restaurar uma situação segura e pacífica", acrescentou.
Em uma seção próxima ao Pagode Sule, jornalistas e mesários superavam em número os primeiros eleitores. Entre eles, Swe Maw, de 45 anos, ignorou as críticas internacionais: "Há sempre quem goste e quem não goste", afirmou. Os militares governam Mianmar desde a independência, em 1948, com exceção de um breve período democrático entre 2011 e 2021, que trouxe reformas e otimismo para o futuro da nação do Sudeste Asiático.
Esse otimismo acabou quando a Liga Nacional para a Democracia (LND), liderada por Suu Kyi, derrotou decisivamente os candidatos pró-militares nas eleições de 2020. O general Min Aung Hlaing tomou o poder alegando fraude eleitoral generalizada.
A Prêmio Nobel, hoje com 80 anos, cumpre pena de 27 anos de prisão por múltiplas condenações, que vão de corrupção à violação das normas da Covid-19. "Não acho que ela consideraria estas eleições significativas, de forma alguma", disse seu filho, Kim Aris, do Reino Unido.
Segundo a Rede Asiática para Eleições Livres, os partidos que conquistaram 90% das cadeiras nas últimas eleições não constam nas cédulas desta vez, após terem sido dissolvidos pela junta militar. Mais de 200 pessoas estão sendo processadas por "tentativa de sabotagem do processo eleitoral", incluindo qualquer protesto ou crítica à votação, que não ocorrerá em cerca de um quinto dos distritos eleitorais da câmara baixa.
"Estas eleições estão claramente ocorrendo em um clima de violência e repressão", afirmou o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, esta semana.
A segunda fase da votação está prevista para daqui a duas semanas, antes da terceira e última etapa, marcada para 25 de janeiro.
Com AFP