Israel e Hamas firmaram um acordo para a libertação de reféns e um cessar-fogo, com reações globais positivas e expectativa de avanços políticos e humanitários na região.
Há movimentações intensas na Praça dos Reféns, em Tel Aviv, e no Muro das Lamentações, o local mais sagrado do Judaísmo em Jerusalém. Sob pressão intensa do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, Israel e o Hamas concordaram em implementar a primeira fase do plano para acabar com a guerra. Globalmente, lideranças internacionais reagiram de maneira positiva.
Henry Galsky, correspondente da RFI em Israel, e informações da AFP
O Fórum dos Familiares dos Reféns enviou uma carta de agradecimento ao presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e convidou-o a discursar na Praça dos Reféns.
Nas ruas, as pessoas se cumprimentam e se abraçam diante da expectativa de que, 734 dias depois, os 20 reféns vivos mantidos em cativeiro pelo Hamas em Gaza estejam em breve de volta para que o país inicie um "processo de cura interna", como disse à RFI o especialista em estresse pós-traumático Tuly Flint.
Como no acordo há menção ao prazo de 72 horas para a libertação dos reféns, ainda não está claro o momento exato em que isso irá ocorrer. Por isso, segundo apuração da RFI, as autoridades israelenses já começaram os preparativos para recebê-los em três hospitais da região central.
Segundo a rede de TV saudita Al-Arabiya, o Hamas também começou a reunir os israelenses que mantém em cativeiro antes do processo de libertação.
De acordo com o Canal Público israelense, já começaram as discussões entre os mediadores e as equipes de negociação sobre o dia seguinte à guerra na Faixa de Gaza.
Volta dos reféns
A primeira fase tem como foco a libertação dos 48 reféns israelenses, 20 dos quais ainda vivos. Segundo Trump, os reféns vivos serão libertados juntos até segunda-feira.
Não haverá qualquer cerimônia de libertação por parte do Hamas, como aconteceu anteriormente.
Os corpos dos reféns mortos devem ser devolvidos a Israel aos poucos porque o Hamas diz precisar de tempo para "encontrá-los".
Uma fonte do Hamas citada pela imprensa israelense diz que, em troca dos reféns vivos, Israel irá libertar dois mil prisioneiros palestinos. Nenhum deles da unidade Nukhba, ou seja, a unidade de elite do Hamas que invadiu Israel em 7 de Outubro de 2023.
Após a assinatura do acordo em Charm el-Sheikh, no Egito, e a entrada em vigor do cessar-fogo, o gabinete de Israel se reunirá para aprovar o acordo formalmente. Em seguida, Israel deve iniciar a retirada das tropas da Faixa de Gaza.
O presidente Donald Trump foi convidado para fazer um discurso especial no Knesset, o parlamento israelense, e disse ao Canal 12 que virá ao país.
Reações
Globalmente, as reações foram predominantemente positivas. O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, pediu a libertação de todos os reféns "de maneira digna" e pela garantia de um cessar-fogo permanente. Guterres insistiu que "a luta deve parar de uma vez por todas" e fez apelo à entrada imediata e desimpedida de ajuda humanitária em Gaza.
O presidente palestino, Mahmud Abbas, expressou a esperança de que o acordo seja "um prelúdio para alcançar uma solução política permanente", resultando no estabelecimento de um Estado Palestino independente.
A chefe da Política Externa da União Europeia, Kaja Kallas, classificou o acordo como uma "grande realização diplomática" e uma "chance real" de encerrar o conflito e libertar os reféns.
Aliados e críticos de Israel na Europa também reagiram. A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, aliada de Trump, chamou a notícia de "extraordinária". O presidente francês, Emmanuel Macron, manifestou a esperança de que o acordo abra caminho para uma "solução política", e o chanceler alemão, Friedrich Merz, considerou os desenvolvimentos "encorajadores" e se disse "confiante" em uma solução nesta semana. O primeiro-ministro da Espanha, Pedro Sanchez, um dos críticos mais vocais da ofensiva israelense, enfatizou que a população civil deve ser apoiada e que as "atrocidades vividas nunca se repitam".
O primeiro-ministro do Reino Unido, Keir Starmer, elogiou os esforços diplomáticos "incansáveis" dos mediadores — Egito, Catar, Turquia e Estados Unidos —, bem como de parceiros regionais, para garantir o que ele descreveu como um "primeiro passo crucial". Starmer acrescentou que o acordo deve ser "implementado integralmente, sem demora, e acompanhado pelo levantamento imediato de todas as restrições à ajuda humanitária vital para Gaza".
A Turquia, por sua vez, destacou o papel dos EUA, com o presidente Recep Tayyip Erdogan agradecendo especificamente a Donald Trump por demonstrar "a vontade política necessária para encorajar o governo israelense em direção ao cessar-fogo".
A China também se manifestou, com o porta-voz do ministério das Relações Exteriores, Guo Jiakun, reiterando a esperança de um "cessar-fogo permanente e abrangente" em Gaza o mais rápido possível, a fim de aliviar a crise humanitária e acalmar as tensões regionais. Guo Jiakun ainda afirmou que "a China defende a adesão ao princípio de que 'os palestinos devem governar a Palestina'".