O túmulo do ex-ministro da Justiça francês, Robert Badinter, foi vandalizado nesta quinta-feira (9), no cemitério de Bagneux, na região metropolitana de Paris. A profanação ocorreu poucas horas antes da entrada do jurista no Panteão, em homenagem nacional. Badinter foi responsável pela abolição da pena de morte e pela descriminalização da homossexualidade na França. "Vergonha para aqueles que tentaram manchar sua memória", denunciou o presidente francês Emmanuel Macron.
Com informações de Valérie Nivelon e da AFP
A prefeitura de Bagneux relatou pichações no túmulo de Badinter "que insultam seus compromissos contra a pena de morte e pela descriminalização da homossexualidade". Segundo uma fonte policial, as palavras "Eterna gratidão: os assassinos, os pedófilos, os estupradores e a República o santificam" foram pichadas com tinta azul na sepultura do ex-advogado, falecido em fevereiro de 2024.
A profanação ocorreu poucas horas antes da cerimônia solene de entrada de Badinter no Panteão, que será presidida por Emmanuel Macron na noite desta quinta-feira, em Paris.
O presidente francês condenou o ato: "O túmulo de Robert Badinter foi profanado. Vergonha para aqueles que quiseram manchar sua memória. Esta noite, ele entrará no Panteão, morada eterna da consciência e da justiça", escreveu Macron na rede X. "A República é sempre mais forte que o ódio", acrescentou.
"Ato covarde"
A prefeita comunista de Bagneux, Marie-Hélène Amiable, classificou a pichação como um "ato covarde". "As inscrições encontradas pela polícia são indignas deste ex-ministro e senador, defensor de avanços históricos que permitiram abolir a pena de morte na França, em 1981, e descriminalizar a homossexualidade em 1982", afirmou em comunicado.
A prefeita de Paris, Anne Hidalgo, também reagiu com indignação, denunciando o ato como "covarde" e pedindo que os responsáveis sejam "identificados e punidos". A ministra da Cidade, Juliette Méadel, escreveu na rede X: "Pode-se profanar um túmulo, mas não uma consciência".
Uma investigação foi aberta pela polícia de Hauts-de-Seine. Os autores da profanação podem ser condenados a até um ano de prisão e multa de € 15 mil (cerca de R$ 93 mil).
No início da tarde (horário de Paris), as pichações já haviam sido apagadas, e o túmulo do ex-ministro da Justiça, de origem judaica, estava sendo vigiado por cerca de dez policiais.
Quem foi Robert Badinter
Ao ser nomeado ministro da Justiça em 1981, após a chegada da esquerda ao poder, o advogado e ativista de direitos humanos Robert Badinter entrou para a História em 9 de outubro daquele ano, ao conseguir aprovar no Parlamento a abolição da pena de morte na França. O fim do uso da guilhotina era uma promessa de campanha do então presidente François Mitterrand. Para Badinter, foi o desfecho de uma longa luta, seguindo os passos de grandes intelectuais humanistas franceses como Victor Hugo, Alphonse de Lamartine, Flora Tristan e Albert Camus.
Também é importante lembrar o compromisso inabalável de Badinter com a descriminalização da homossexualidade na França e no mundo. Ele defendeu a Lei Forni, apresentada pela deputada Gisèle Halimi. O texto, promulgado em 4 de agosto de 1982, revogou definitivamente o "crime de homossexualidade" no país.
Robert Badinter morreu aos 95 anos, na noite de 8 para 9 de fevereiro de 2024. Ele era casado com a filósofa e feminista francesa Elizabeth Badinter, que estará presente na homenagem nacional.
Sua entrada no monumento dos heróis franceses foi anunciada logo depois de sua morte pelo presidente Emmanuel Macron, em 14 de fevereiro de 2024, durante uma homenagem ao jurista na Praça Vendôme, em frente ao Ministério da Justiça, em Paris.
A cerimônia começa às 17h em Paris (12h em Brasília) com a chegada do caixão com o nome do ex-ministro da Justiça ao Panteão. A homenagem será presidida por Macron e deve representar uma pausa na grave crise política enfrentada pelo presidente e pela França.