Macron deve defender um 2026 'útil' diante de crise e recorde de impopularidade

Neste último dia de 2025, marcado por crise política e pessimismo na França, assessores da presidência indicam que Emmanuel Macron deve usar seu tradicional discurso de Ano-Novo na TV para propor um 2026 "útil". A expectativa é que a mensagem transforme os votos do chefe de Estado em um apelo contra o "French bashing" - expressão usada na França para designar críticas sistemáticas ou depreciativas ao país -, defendendo a imagem nacional e combatendo essa visão negativa.

31 dez 2025 - 08h27

Segundo pesquisas de opinião do instituto Ipsos, publicados pelo Le Parisien nesta quarta-feira (31), a França assumiu a liderança do ranking mundial das nações mais pessimistas, empatada com a Coreia do Sul: 85% dos franceses consideram 2025 um ano ruim e não imaginam melhora para o próximo.

Esta captura de tela tirada do canal de televisão francês France 2 em 31 de dezembro de 2023 mostra o discurso de Ano-Novo do presidente Emmanuel Macron aos franceses.
Esta captura de tela tirada do canal de televisão francês France 2 em 31 de dezembro de 2023 mostra o discurso de Ano-Novo do presidente Emmanuel Macron aos franceses.
Foto: AFP - SEBASTIEN BOZON / RFI

O jornal questiona se desta vez o presidente Macron finalmente cumprirá as promessas de Ano-Novo aos franceses, destacando as decepções dos anos anteriores. "Em 31 de dezembro de 2023, Macron garantia um 'ano de 2024 de regeneração e esperança', mas acabou sendo um ano marcado pela dissolução da Assembleia, e a crise política que se seguiu não permitiu que cumprisse a promessa. Um ano depois, no mesmo local, no mesmo dia e na mesma hora, ele enumerava as conquistas dos 12 meses passados e retomava o credo de Napoleão: 'Impossível não é francês'. Mais uma vez, não deu certo", critica o Parisien.

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O jornal também destaca a impopularidade crescente do chefe de Estado, que está a menos de um ano e meio de sua saída do cargo, trazendo dados do Tagaday, uma plataforma de monitoramento digital. Pela primeira vez desde a criação do barômetro, o presidente em exercício não foi a personalidade mais citada nos meios de comunicação em 2025. E, segundo o instituto Harris Interactive, houve queda do interesse em acompanhar os votos neste 31 de dezembro: apenas 37% dos franceses pretendem ligar a TV às 20 horas (horário local) para ouvir o nono e penúltimo discurso de Ano-Novo de Emmanuel Macron.

Recorde de impopularidade

O Le Monde também aponta para o nível mais alto de impopularidade de Macron desde 2017, o que, segundo o jornal, reflete a relação desgastada do líder com os franceses. À medida que se aproxima a eleição presidencial de 2027, os pretendentes à sua sucessão, entre eles dois ex-primeiros-ministros - Gabriel Attal e Édouard Philippe -, erguem a bandeira da ruptura com o macronismo.

A edição desta quarta do Le Monde aponta que o presidente prepara um discurso "sóbrio e curto", com "forte dimensão geopolítica e internacional". E recorda que uma nova reunião dos países da "coalizão dos voluntários" deve ocorrer em Paris, no início de janeiro, para permitir que os europeus tenham peso na perspectiva de um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia. "Ao longo dos anos e das crises fora do comum, o campo das promessas realizáveis se reduziu consideravelmente para Emmanuel Macron", diz uma reportagem.

'Legado honroso'

"Imune às críticas, Emmanuel Macron pretende provar que seu legado continua honroso. Em seus votos, ele planeja destacar os avanços econômicos do país, apesar das dificuldades geopolíticas e da instabilidade política interna. Uma maneira de 'dizer que há coisas que avançam e que não devemos nos ver menores do que somos', afirma seu entorno, sem garantir que os franceses serão convencidos por essa demonstração de otimismo", sublinha o Le Monde.

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Já o Le Figaro escreve que este ano as palavras do presidente não serão "nem votos retrospectivos, nem votos de imobilismo". As prerrogativas diplomáticas e militares de Macron ainda lhe permitem dar peso à sua agenda, diz o tradicional jornal francês, citando a busca da Europa por respostas à agressividade comercial dos Estados Unidos e da China e a influência francesa nas negociações em curso para pôr fim à guerra na Ucrânia.

A RFI é uma rádio francesa e agência de notícias que transmite para o mundo todo em francês e em outros 15 idiomas.
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