O adeus de Donald Trump: 'Fizemos o que viemos aqui para fazer'

Em suas últimas horas no cargo, Trump emitiu dezenas de indultos e comutações para pessoas, incluindo Steve Bannon, seu ex-conselheiro, que enfrenta acusações de fraude.

20 jan 2021 - 12h51
(atualizado às 16h09)
Trump não aceita o resultado da eleição de novembro passado, que ele perdeu para o democrata Joe Biden
Trump não aceita o resultado da eleição de novembro passado, que ele perdeu para o democrata Joe Biden
Foto: Reuters / BBC News Brasil

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, fez dois discursos de despedida antes de deixar o cargo. Na noite de ontem, disse: "Fizemos o que viemos aqui para fazer — e muito mais".

Em um vídeo postado no YouTube, ele disse que enfrentou "as batalhas difíceis, as lutas mais difíceis (...) porque foi para isso que você me elegeu". Disse também que seu "movimento político" estava apenas começando.

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Trump não aceita o resultado da eleição de novembro passado, que ele perdeu para o democrata Joe Biden, mas mesmo assim deixou a Casa Branca na manhã quarta (20/1). Em uma saída com música e tapate vermelho, ele embarcou de mãos dadas com sua mulher, Melania Trump, para sua propriedade na Flórida. Antes da partida, fez um segundo discurso em uma base aérea próxima à Casa Branca, dizendo que seus quatro anos foram "incríveis" e agradecendo aos apoiadores.

Biden fará o juramento como presidente nesta quarta-feira (20/1) por volta das 14h no horário de Brasília, e depois se muda para a Casa Branca. Trump não vai participar da cerimônia, quebrando a tradição centenária.

Em suas últimas horas no cargo, Trump emitiu dezenas de indultos e comutações para pessoas, incluindo Steve Bannon, seu ex-conselheiro, que enfrenta acusações de fraude.

Na véspera de sua posse, o Biden liderou uma homenagem nacional aos 400 mil americanos que morreram de covid-19.

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Ao pôr do sol de terça-feira, 400 luzes foram acesas em frente ao Lincoln Memorial em Washington DC para homenagear aqueles que perderam suas vidas para a doença.

As luzes são uma homenagem oficial do governo aos que morreram na pandemia
Foto: EPA / BBC News Brasil

As últimas duas semanas do mandato de Trump foram dominadas pelas consequências da violenta invasão do Capitólio, quando uma multidão de seus apoiadores invadiu o Congresso, tentando anular o resultado da eleição.

"A violência política é um ataque a tudo que prezamos como americanos. Ela nunca pode ser tolerada", disse Trump em seu vídeo, no qual não mencionou seu sucessor pelo nome.

O que mais disse Trump?

Em seu discurso de saída, Trump indicou que vai continuar politicamente ativo. "Eu sempre vou lutar por vocês, vou observar e escutar. É apenas um adeus, nós amamos vocês, vamos voltar de alguma forma", afirmou.

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Ele agradeceu sua família, amigos e o vice-presidente Mike Pence — com quem tinha tido atritos por dizer que Pence tinha poder de não reconhecer os votos do colégio eleitoral, o que não é verdade.

Trump não citou Biden nominalmente nem o parabenizou pela vitória, mas desejou sucesso ao novo governo.

"Como dizem os atletas, nós demos tudo em campo. Não poderíamos ter trabalhado mais duro. Eles [governo Biden] terão uma boa base para fazer coisas. Nos próximos meses, haverá bons números na economia. Lembrem-se de nós", afirmou Trump.

Menor popularidade da história

Trump foi acusado de "incitação à insurreição" pelo ataque ao Congresso e enfrentará julgamento no Senado depois que deixar o cargo. Se condenado, ele pode ser impedido de se candidatar a um cargo público.

Ele é o primeiro presidente na história dos EUA a sofrer duas acusações de impeachment. Em seu primeiro julgamento, ele foi inocentado por acusações relacionadas a negociações com a Ucrânia.

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A violência de motivação política tirou foco do crescente número de vítimas da pandemia do coronavírus, em que mais de 400 mil americanos morreram e 24 milhões foram infectados.

Em sua mensagem em vídeo, Trump disse que seu governo criou "a maior economia da história do mundo".

Os mercados de ações dos EUA se recuperaram da pandemia de coronavírus, com o índice Nasdaq de alta tecnologia com alta de 42% em 2020 e o S&P 500 com alta de 15%.

No entanto, o resto da economia está enfrentando dificuldades. Houve cortes de empregos em dezembro, encerrando uma série de criação de vagas. As vendas no varejo caíram nos últimos meses, enquanto os pedidos de auxílio-desemprego seguem aumentando.

"Nossa agenda não era sobre direita ou esquerda, não era sobre republicano ou democrata, mas sobre o bem de uma nação, e isso significa toda a nação", disse Trump.

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Ele deixa o cargo com um índice de aprovação de 34%, uma baixa recorde para um presidente que está deixando o cargo.

Análise

Anthony Zurcher - Correspondente da BBC News na América do Norte

Donald Trump, em seu discurso de despedida pré-gravado de 20 minutos, disse que seu governo fez o que foi eleito para fazer e muito mais.

Pode-se debater o significado de suas realizações — se 640 km de muro de fronteira, cortes de impostos, retrocessos regulatórios, juízes nomeados, guerras comerciais e modestos acordos diplomáticos no Oriente Médio representam muito em termos de realizações substantivas.

Mas, pelo menos em um aspecto, sua ostentação é certamente verdadeira. Trump concorreu à presidência em 2016 para abalar a ordem política existente. Ele fez campanha como uma pessoa de fora do mundo político, dando voz àqueles que não confiavam no establishment político e sentiam que o sistema não funcionava mais para eles.

"Eu enfrentei as batalhas difíceis, as lutas mais difíceis, as escolhas mais difíceis porque foi para isso que você me elegeu", disse ele.

A inquietação e ressentimento que Trump trouxe para a Casa Branca atingiram o auge no Capitólio dos EUA há duas semanas, deixando para trás destroços — literais e metafóricos — que levarão tempo e esforço para serem superados.

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Depois de quatro anos de normas e tradições destruídas, virando de cabeça para baixo as expectativas de comportamento presidencial, Trump deixa o governo dos EUA mudado — fundamentalmente e, talvez, irreversivelmente.

Essa, pelo menos, foi uma promessa feita e cumprida.

Como Biden está se preparando para o cargo?

Biden e sua esposa Jill Biden deixaram na terça-feira o Estado de Delaware, onde moram, para retornar a Washington, onde o novo presidente serviu como senador por 36 anos antes de se tornar vice-presidente de Barack Obama, de 2008 a 2016.

"Quando eu morrer, Delaware estará escrito em meu coração", disse ele em um discurso de despedida emocionado.

Na quarta-feira, ele irá à Casa Branca e depois ao Capitólio para sua posse por volta das 14h no horário de Brasília.

Esta será uma posse como nenhuma outra: Washington está sob forte segurança após os distúrbios no Capitólio, com milhares de soldados da Guarda Nacional posicionados e cercas de metal ao redor da Casa Branca.

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Apenas um número limitado de pessoas terá permissão para entrar no National Mall para testemunhar seu juramento — contrastando com as centenas de milhares que costumam comparecer.

A cerimônia de inauguração contará com apresentações de Lady Gaga e Jennifer Lopez.

Entre os que ficarão longe da cerimônia estará Trump. Ele voará para a Flórida na quarta-feira de manhã — o primeiro presidente a não comparecer à posse de seu sucessor desde Andrew Johnson em 1869.

Trump tentou organizar uma despedida militar para si mesmo, de acordo com a imprensa americana. Mas dois altos funcionários disseram que nenhuma despedida desse tipo estava sendo planejada.

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