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Ateus tentam ‘sair do armário’ nos EUA

Com canal de TV e movimentos civis, gays americanos lutam por direitos

4 ago 2014 - 15h07
(atualizado às 15h08)
Homem pede separação entre Estado e igreja em protesto em frente à Casa Branca
Homem pede separação entre Estado e igreja em protesto em frente à Casa Branca
Foto: BBC News Brasil

"Às vezes, as coisas precisam ser ditas, e as lutas precisa ser lutadas, mesmo que sejam impopulares. Aos ateus enrustidos: você não está sozinho, você merece igualdade."

Assim terminou o inflamado discurso do presidente do grupo Ateus Americanos, David Silverman, no lançamento da primeira emissora de televisão dos EUA dedicado àqueles que não acreditam em Deus, a TV Ateu.

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Depois, foram exibidos testemunhos de ateus proeminentes.

"É uma das melhores decisões que já tomei na minha vida e eu defendo completamente que as pessoas 'saiam do armário'", diz Mark Hatcher, do grupo Ateus Negros da América.

"Sair do armário" é como muitos ateus americanos descrevem o que ainda é, para muitos, algo muito difícil de ser admitido publicamente.

Uma recente pesquisa realizada pelo Pew Research Center mostra que americanos preferem ter um presidente com cerca de 70 anos - ou abertamente gay, ou que nunca tenha tido qualquer cargo público.

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Surpreendentemente, uma pesquisa anterior da Pew sugeriu que os entrevistados nos Estados Unidos consideravam ateus menos confiáveis que estupradores. Um dos novos programas da TV Ateu já sentiu o "gostinho" de como muitos americanos percebem "os não crentes".

"Então você estava estudando para ser um padre e agora não acredita em Deus? Você é o diabo", um interlocutor disse ao apresentador. "Você é um marxista, você é um ateu e você é da Rússia", diz outro.

'Saindo do armário'

Em um dos maiores encontros de estudantes ateus no país, em Columbus, no estado de Ohio, Jamila Bey, da Aliança Secular de Estudantes, disse que muitos participantes estavam receosos sobre dar entrevistas, o que podia ser visto em seus pescoços.

Em Ohio, ocorre uma das maiores convenções de ateus do país
Foto: BBC News Brasil

"Cordões vermelhos significam 'Você não pode falar comigo'", diz Bey. "Muitos alunos não são 'assumidos'. Seus pais podem não saber que eles são ateus ou que questionam sua religião."

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Ela disse que muitos estavam preocupados com ostracismo ou temiam sofrer violência se revelassem que não acreditavam em Deus.

Lasan Dancay-Bangura, de 22 anos, é o chefe do grupo de estudante ateus de sua universidade. Ele já contou para a mãe sobre seu ateísmo - experiência que relembra com um suspiro profundo -, mas ainda não "saiu do armário" para o pai.

"Fala-se o tempo todo sobre pessoas que estão sendo expulsas e enviadas para campos de Bíblia onde são forçadas a ser religiosas. Eu não quero perder o meu pai para isso."

Já Katelyn Campbell, de 19 anos, de West Virginia, tem tido problemas com a comunidade. "No colégio, era um silêncio total quando eu andava pelo corredor. Ou alguém cuspia em mim", diz Katelyn.

Há dois anos, ela protestou contra a inclusão da religião e da abstinência em suas aulas de educação sexual escolar. "As pessoas agora costumam trazer essa discussão, que é de valores que são muito pessoais e muito particulares", diz ela.

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No evento de estudantes ateus em Ohio, eles estão tentando mudar as coisas.

Adesivos distribuídos em convenção defendem ateísmo e liberdade religiosa
Foto: BBC News Brasil

Camisetas a venda no evento trazem os dizeres "Godless Goddess (Deusa sem deus)" ou "Um ateu é assim".

Ao lado da tenda está Andrew Seidel, um advogado da Fundação Liberdade da Religião. "Muitos americanos pensam que nunca conheceram um ateu, mas isso é porque muitos têm medo de reconhecer isso publicamente", diz Andrew.

"A forma como vamos vencer essa luta é pela demografia. Assim como sair do armário foi importante para o movimento LGBT, é importante para nós dizer em alto e bom som e com orgulho: 'Eu sou um ateu!'"

E os dados demográficos estão realmente mudando, especialmente entre os jovens, onde a proporção daqueles que se identificam como "religiosamente não afiliados" está aumentando.

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Mas os Estados Unidos têm uma proporção muito maior de pessoas que dizem que a religião é muito importante para eles em comparação com países europeus.

"A América é uma anomalia, em primeiro lugar, porque foi fundada por puritanos", diz Bey, da Aliança Secular de Estudantes.

Mais recentemente, em especial para a comunidade afro-americano na luta pelos direitos civis, mas também para muitas outras comunidades minoritárias, a religião tornou-se uma forma de ganhar aceitação, segundo Bey.

"Foi uma maneira de dizer: Eu sou um bom cristão, você deve deixar o meu filho ir para a escola com as criancinhas brancas, Jesus ama a todos nós'", diz ela.

O novo canal de TV faz parte do movimento dos direitos civis dos grupos ateus.

Mas a aceitação real, particularmente para aqueles que exercem cargos públicos, em um país onde nenhum deputado é abertamente ateu, pode estar ainda um pouco distante.

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Quem são os ateus americanos?

• 2% dos adultos americanos se dizem ateus

• 67% deles são homens

• 26% deles se veem como espirituais

• 82% dizem sentir uma forte conexão com a natureza

Fonte: Pew Research Center

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