Em 24 horas, um pai palestino em Gaza enterrou o filho jornalista morto em confrontos e reencontrou o outro filho libertado por Israel após um acordo de paz.
Em menos de 24 horas, um pai palestino em Gaza viveu dois extremos da dor e do alívio: enterrou um filho jornalista assassinado enquanto cobria confrontos na Cidade de Gaza e, horas depois, reencontrou outro filho que foi libertado após passar meses como prisioneiro de Israel.
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Saleh Aljafarawi, jornalista e influenciador palestino de 28 anos, foi morto no domingo, 12, durante confrontos entre combatentes do Hamas e uma milícia armada supostamente ligada à ocupação israelense, no bairro de Sabra. Conhecido por suas reportagens ao vivo e pela cobertura intensa dos ataques israelenses à Faixa de Gaza, Aljafarawi tornou-se um símbolo da resistência e da coragem palestina.
Imagens verificadas pela Al Jazeera mostram o corpo do jornalista com um colete de imprensa, na traseira de um caminhão. Ele estava desaparecido desde a manhã de domingo. Fontes locais afirmaram que a área era palco de confrontos intensos entre forças do Hamas e o clã Doghmush, envolvido em disputas armadas.
O enterro de Saleh ocorreu nesta segunda-feira, 13, acompanhado por homenagens emocionadas nas redes sociais e por jornalistas palestinos de toda a região. Entre orações, vídeos de seus relatos e imagens dele recitando o Alcorão, muitos lembraram seu sorriso constante e o compromisso com a verdade, mesmo em meio à destruição.
Poucas horas após o funeral, o pai de Saleh viveu outro momento marcante: reencontrou o filho Naji Aljafarawi, libertado por Israel como parte do recente acordo de cessar-fogo, que prevê a troca de prisioneiros entre as partes.
Nas redes sociais, a cena do reencontro foi acompanhada por mensagens de solidariedade e revolta. "Hoje, Saleh estaria esperando seu irmão com os braços abertos. Em vez disso, Naji voltou para enterrar o irmão", escreveu um usuário.
O cessar-fogo anunciado na última sexta-feira entre Israel e o Hamas previa o fim temporário dos combates e a libertação de prisioneiros. No entanto, autoridades locais alertaram que o vácuo de segurança na Faixa de Gaza permanecia crítico neste último fim de semana.
Saleh havia falado publicamente sobre ameaças de morte feitas por autoridades israelenses. Em entrevista à Al Jazeera, no início do ano, afirmou viver "com medo a cada segundo". Ainda assim, escolheu permanecer em Gaza.
“Ele não era apenas um repórter. Era uma voz da verdade”, escreveu um colega. “Sua câmera virou sua arma, suas palavras, o escudo de seu povo.”
A morte de Saleh reacendeu homenagens a mais de 250 jornalistas palestinos mortos desde o início dos bombardeios em Gaza em outubro de 2023. Muitos internautas comentaram que ele foi um dos rostos mais humanos da tragédia e agora, mais um nome entre as vítimas que lutaram para que o mundo visse o que acontece na Palestina.