Contrariando Pentágono, Trump sugere ‘mudança de regime’ iraniano para tornar o ‘Irã grande novamente’

Mais cedo, o chefe do Pentágono afirmou que o ataque dos EUA ao Irã não foi preâmbulo para uma mudança de regime

22 jun 2025 - 19h48
(atualizado às 23h00)
Donald Trump, presidente dos EUA
Donald Trump, presidente dos EUA
Foto: Andrew Harnik/Getty Images

Contrariando o Pentágono, o presidente Donald Trump sugeriu uma mudança de regime iraniano para que seja possível “tornar o Irã grande novamente”. O comentário foi feito em publicação na rede social Truth após o secretário de Defesa norte-americano ter afirmado que o ataque dos EUA às instalações nucleares do Irã não foi um preâmbulo para alterar o regime político do país. 

Não é politicamente correto usar o termo "mudança de regime", mas se o atual regime iraniano não é capaz de tornar o Irã grande novamente, por que não haveria uma mudança de regime??? MIGA!!”, escreveu Trump no post feito na tarde deste domingo, 22.

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A sigla MIGA seria para "Make Iran Great Again" (Torne o Irã grande novamente, em tradução livre). No caso, uma referência à MAGA, sigla para o movimento Make America Great Again (Torne a América grande novamente, em tradução livre), que é slogan de Trump e é associado à extrema-direita.

Mais cedo, o secretário de Defesa norte-americano, Pete Hegseth, chefe do Pentágono, afirmou que a missão “não foi e não tem sido sobre mudança de regime”. "O presidente autorizou uma operação de precisão para neutralizar as ameaças aos nossos interesses nacionais representadas pelo programa nuclear iraniano”, acrescentou.

Ainda segundo Hegseth, Washington enviou mensagens privadas a Teerã incentivando a negociação. Já a operação foi altamente secreta, sendo do conhecimento de um pequeno número de pessoas em Washington e no quartel-general das forças armadas dos EUA no Oriente Médio, em Tampa, Flórida.

No Irã, o regime político vigente é a república islâmica, um sistema teocrático em que a autoridade política é exercida por líderes religiosos.

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A República Islâmica do Irã foi fundada em 1979, após a Revolução Iraniana que derrubou a monarquia do Xá Mohammad Reza Pahlavi. Atualmente, o líder supremo é o aiatolá Ali Khamenei, nomeado vitaliciamente em 1989 pela Assembleia dos Peritos, após a morte do aiatolá Khomeini, que foi um dos principais líderes da Revolução Iraniana.

Já o atual presidente iraniano é Masoud Pezeshkian, que venceu a eleição presidencial no ano passado, após a morte do então presidente Ebrahim Raisi em um acidente de helicóptero.

Na última terça-feira, 17, inclusive, Trump pediu a "rendição incondicional" dos iranianos no conflito com Israel e ameaçou o líder supremo do Irã, o aiatolá Ali Khamenei. "Sabemos exatamente onde o 'Líder Supremo' está escondido. Ele é um alvo fácil, mas está seguro lá. Não vamos matá-lo, pelo menos não por enquanto", escreveu Trump na Truth Social.

O aiatolá respondeu na quarta-feira, 18, rejeitando o pedido norte-americano. "Pessoas inteligentes que conhecem o Irã, a nação iraniana e sua história nunca falarão com essa nação em linguagem ameaçadora, porque a nação iraniana não se renderá", disse em discurso transmitido na televisão local.

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O republicano havia dado o prazo de duas semanas para decidir sobre a participação dos EUA no conflito entre Israel e Irã, a contar de quinta-feira, 19, na espera de uma eventual rendição iraniana. Nessa mesma sexta, ele reforçou que seriam "no máximo" duas semanas. No fim, o que seriam duas semanas, virou dois dias.

Ataque dos EUA

Às 20h50 [horário de Brasília] de sábado, 21, Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, informou que os EUA atacaram três instalações nucleares iranianas -- Fordow, Natanz e Esfahan. Os ataques foram confirmados posteriormente pelo governo do Irã.

Depois, às 23 horas [horário de Brasília], Trump fez um pronunciamento oficial da Casa Branca afirmando que os ataques ao Irã podem se tornar ainda mais intensos caso o país decida retaliar e pressionou por paz no Oriente Médio.

Veja discurso de Donald Trump após atacar instalações nucleares do Irã.
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O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, também se pronunciou. No caso, ele agradeceu a Trump pelo ataque feito com "o incrível e justo poder dos Estados Unidos". Para Netanyahu, essa "decisão ousada" irá "mudar a história".

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Do outro lado, ao confirmar o ataque, a agência de notícias estatal iraniana, IRNA, citou que "não haviam materiais nesses três locais nucleares que causassem radiação", conforme disse um oficial do Irã. O comentário sugere que as autoridades iranianas podem ter removido o urânio enriquecido das instalações antes dos bombardeios.

A Guarda Revolucionária Iraniana também se manifestou na noite de ontem: "Agora a guerra começou para nós. E mate-os onde quer que você os encontre...". A fala foi de encontrou à feita por um comentarista da televisão estatal iraniana, também nessa noite: "Todo cidadão americano ou militar na região é agora um alvo legítimo". Além disso, o comentarista também deixou um aviso a Donald Trump, presidente norte-americano: "Você começou. Nós vamos terminar".

As retaliações já tiveram início. Neste domingo, 22, em resposta aos ataques, o Parlamento iraniano aprovou o fechamento Estreito de Ormuz, um centro estratégico entre os Golfos Pérsico e de Omã para a passagem de quase um terço do petróleo mundial.

Além disso, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) convocou uma reunião de emergência sobre o Irã.

O Brasil se posicionou sobre o ataque, condenando com "veemência" a situação. Em nota divulgada pelo Itamaraty, o governo "expressa grave preocupação" com a escalada militar no Oriente Médio e diz que ataque americano viola tanto a Carta da Organização das Nações Unidas (ONU) quanto a soberania do Irã.

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Brasil se posiciona sobre participação dos EUA na guerra no Irã
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'Campanha prolongada'

Antes dos EUA bombardear o Irã, na sexta-feira, 20, o chefe das forças armadas de Israel, Eyal Zamir, havia alertado que o país se prepara para uma "campanha prolongada" contra o Irã, em ofensiva que se prolonga pela segunda semana. 

"Embarcamos na campanha mais complexa de nossa história para eliminar uma ameaça de tal magnitude, contra um inimigo como esse. Devemos estar prontos para uma campanha prolongada", disse Zamir em uma declaração em vídeo.

Ainda na sexta, do outro lado, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, afirmou que estava disposto a "considerar" um retorno à diplomacia apenas se Israel interrompesse os seus ataques. A declaração foi dada após reunião com líderes europeus. 

Trump tinha questionado a eficácia das ações dos europeus. "É improvável que os europeus consigam ajudar a acabar com a guerra entre Irã e Israel", afirmou o republicano à imprensa. Além disso, ele pontuou ser "difícil" pedir aos israelenses que interrompam os ataques.

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Segundo Trump, mesmo que sem apresentar provas concretas, o Irã estava a "semanas ou meses de conseguir uma bomba atômica”. Na ocasião, o político garantiu que o envio de tropas terrestres ao Oriente Médio era a sua última opção.

*Com informações do Estadão Conteúdo, Deutsche Welle, Ansa e Reuters

Papa Leão XIV pede por paz no Oriente Médio
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Fonte: Redação Terra
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