Durante séculos, o pombo-passageiro foi uma das espécies de ave mais numerosas do planeta, ocupando grandes áreas da América do Norte. Registros históricos descrevem bandos que escureciam o céu por horas, tamanha era a quantidade de indivíduos. No entanto, esse cenário mudou radicalmente em poucas décadas, até que, em 1914, a espécie foi dada como extinta com a morte da última fêmea conhecida, chamada Martha, em um zoológico nos Estados Unidos.
A trajetória do pombo-passageiro chamou a atenção de pesquisadores, ambientalistas e historiadores por mostrar como uma população gigantesca pode desaparecer em um intervalo relativamente curto. A explicação para essa extinção não está em um único fator, mas em um conjunto de pressões humanas e ambientais que se somaram ao longo do século XIX, num período de intensa transformação do território norte-americano.
O que era o pombo-passageiro e por que era tão numeroso?
O pombo-passageiro (Ectopistes migratorius) era uma ave nativa da América do Norte, conhecida por suas migrações em massa e por formar bandos com milhões de indivíduos. Assim, essa espécie ocupava, principalmente, florestas de caducifólias, ricas em sementes, frutos e bolotas de carvalho, que serviam como principal alimento. A combinação de vastas áreas florestais contínuas e grande oferta de comida favorecia a reprodução em larga escala.
As colônias reprodutivas podiam se estender por dezenas de quilômetros, com ninhos construídos muito próximos uns dos outros. Essa estratégia de reprodução em grupo funcionava como uma forma de proteção: predadores naturais tinham dificuldade em causar grandes impactos em populações tão numerosas. A espécie também apresentava alta taxa de reprodução anual, o que ajudava a manter o número de indivíduos elevado.
O que levou o pombo-passageiro à extinção?
A principal palavra-chave para entender o desaparecimento do pombo-passageiro é caça predatória. A partir do século XIX, com a expansão de cidades, linhas férreas e mercados urbanos, esses pombos passaram a ser alvo de caça em escala comercial. A carne era vendida como alimento barato, e os bandos densos facilitavam abates em massa com pouco esforço, tanto com armas de fogo quanto com redes e armadilhas.
Além disso, o desenvolvimento das ferrovias e do telégrafo permitiu que caçadores acompanhassem a movimentação dos bandos e transportassem rapidamente toneladas de aves para grandes centros consumidores. Em pouco tempo, o pombo-passageiro deixou de ser apenas uma fonte de subsistência local e passou a integrar uma cadeia comercial organizada. A espécie, que parecia inesgotável, passou a ser explorada sem qualquer limite ou regulamentação.
Outro fator decisivo foi a destruição de habitat. O avanço da agricultura, o desmatamento para produção de madeira e a abertura de áreas para criação de gado reduziram drasticamente as florestas que serviam de abrigo e alimentação para a espécie. Sem grandes extensões contínuas de mata, as colônias reprodutivas ficaram fragmentadas e mais vulneráveis.
- Caça comercial intensiva para abastecer mercados urbanos.
- Desmatamento de florestas nativas, reduzindo alimento e locais de nidificação.
- Tecnologia de transporte (trens e barcos) que ampliou o alcance da exploração.
- Ausência de leis de proteção eficazes no período crítico de declínio.
Por que uma espécie tão abundante não conseguiu se recuperar?
Embora a população inicial fosse gigantesca, o pombo-passageiro tinha características biológicas e comportamentais que dificultavam a recuperação uma vez que o número de indivíduos caiu demais. A espécie dependia de bandos numerosos para se reproduzir com sucesso. Quando as colônias ficaram pequenas, a taxa de sobrevivência e de reprodução diminuiu de forma acentuada.
Esse fenômeno é conhecido como efeito Allee, em que populações muito reduzidas têm dificuldade para se encontrar, se reproduzir e se proteger de predadores. No caso do pombo-passageiro, a estratégia de vida baseada em grandes concentrações passou a ser uma desvantagem em um ambiente alterado pela ação humana.
Outro ponto é que as medidas de conservação chegaram tarde. Quando os primeiros alertas de declínio populacional foram registrados, no fim do século XIX, a espécie já estava em forte retração. Algumas tentativas de criação em cativeiro não foram suficientes para reverter a tendência. Em 1900, praticamente não havia mais bandos selvagens significativos, e os relatos se tornaram cada vez mais raros.
- Redução drástica dos bandos por caça contínua.
- Fragmentação do habitat, dificultando migrações e reprodução.
- Dependência de grandes colônias para sucesso reprodutivo.
- Início tardio de medidas de proteção e manejo.
Que lições a extinção do pombo-passageiro traz para a conservação hoje?
A extinção do pombo-passageiro é frequentemente citada como um exemplo de como abundância não significa segurança. Mesmo espécies consideradas comuns podem desaparecer rapidamente quando há combinação de exploração intensa, destruição de habitat e falta de regulação. Isso tem sido discutido em estudos atuais, especialmente em 2025, em um contexto de perda acelerada de biodiversidade em diferentes regiões do planeta.
O caso também reforça a importância de monitorar populações de fauna e flora antes que o declínio se torne irreversível. Programas de conservação modernos costumam considerar fatores como tamanho mínimo de população viável, conectividade entre habitats e limites de exploração sustentável. A história do pombo-passageiro mostra que a demora em agir pode transformar uma espécie dominante em apenas um registro em museus e livros de história natural.
Hoje, a memória dessa ave extinta é usada como referência em debates sobre caça, manejo de recursos naturais e políticas ambientais. A espécie deixou de sobrevoar as florestas americanas, mas continua presente como advertência sobre os efeitos de ações humanas não controladas sobre ecossistemas inteiros.