BBC contesta acusação de difamação e promete se defender de ação bilionária movida por Trump

O grupo público britânico de comunicação BBC anunciou nesta terça-feira (16) que irá "se defender" da ação por difamação do presidente americano, Donald Trump. O líder republicano exige US$ 10 bilhões (quase R$ 55 milhões) da empresa em indenizações, devido à uma montagem contestada de um de seus discursos.

16 dez 2025 - 13h09

"Como já deixamos claro anteriormente, vamos nos defender neste caso", disse um porta-voz da BBC em comunicado enviado à AFP. A nota acrescenta que a empresa não fará "mais comentários sobre processos judiciais em andamento".

No site do grupo, uma matéria sobre a ação diz que a equipe jurídica de Trump acusou a BBC de difamação por "editar intencionalmente, maliciosamente e de forma enganosa" um de seus discursos. O texto destaca que a empresa "pediu desculpas a Trump no mês passado", no entanto, rejeitou suas exigências de indenização e discordou que houvesse "fundamento para uma ação de difamação".

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A queixa foi apresentada na segunda-feira (15) em um tribunal federal em Miami pelo presidente americano. Ele pede indenizações de um valor mínimo de US$ 5 bilhões para cada uma das duas acusações. O republicano processa a rede britânica por difamação e violação de uma lei da Flórida sobre práticas comerciais enganosas e desleais.

"Eles literalmente colocaram palavras na minha boca", reclamou Trump na segunda-feira, diante da imprensa. 

Montagem do discurso

A BBC, que é uma das maiores empresas de comunicação audiovisual do mundo, cuja audiência e reputação ultrapassam as fronteiras do Reino Unido, é palco de uma crise sem precedentes desde revelações sobre seu principal programa jornalístico, Panorama.

Pouco antes da eleição presidencial americana de 2024, uma reportagem exibiu trechos de um discurso de Donald Trump de 6 de janeiro de 2021. A fala foi montada de forma que o republicano parece convocar explicitamente seus apoiadores a atacar o Capitólio em Washington e a "lutar como demônios".

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Na frase original, Trump afirmava: "Vamos caminhar até o Capitólio e vamos incentivar nossos corajosos senadores e representantes no Congresso". A expressão "lutar como demônios" pertencia a outro trecho do mesmo discurso.

Naquele dia, centenas de partidários do líder republicano, inflamados por suas acusações infundadas de fraude eleitoral, invadiram  a sede do Congresso dos Estados Unidos. O objetivo era tentar impedir a certificação da vitória do democrata Joe Biden pelos parlamentares. 

O porta-voz dos advogados de Trump afirma que a BBC teve a intenção "flagrante de interferir na eleição presidencial de 2024" ao modificar "intencionalmente, maliciosamente e de forma enganosa" o discurso do bilionário de 6 de janeiro de 2021. "A BBC, há muito tempo, tem o hábito de enganar seu público em sua cobertura sobre o presidente Trump, a serviço de seu programa político de esquerda", acusou. 

Demissões na BBC

O escândalo levou à renúncia do então diretor-geral da BBC, Tim Davie, e da chefe da BBC News, Deborah Turness. Já o presidente do grupo, Samir Shah enviou uma carta de desculpas a Donald Trump, em que lamenta a forma como as imagens foram editadas. No entanto, a empresa contestou que houvesse base legal para uma ação por difamação. 

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Em entrevista à Sky News nesta terça-feira, o secretário de Estado britânico da Saúde, Stephen Kinnock, afirmou que o grupo "foi muito claro" ao afirmar que não há fundamento para responder à acusação de Trump. "Acho que é correto que a BBC se mantenha firme nesse ponto", defendeu.

O governo britânico também anunciou nesta terça-feira o início da revisão da "carta real" da BBC, um processo que ocorre a cada dez anos, para eventualmente modificar sua governança, seu financiamento ou suas obrigações perante o público britânico.

Londres responde em parte à acusação de Trump. O republicano considera que, apesar do pedido de desculpas, a empresa "não demonstrou verdadeiro arrependimento por suas condutas nem realizou reformas institucionais significativas para impedir futuros abusos jornalístico".

Ataques à imprensa

Essa não é a primeira vez que o presidente americano iniciou ou ameaçou iniciar ações contra grupos de comunicação. Nos Estados Unidos, algumas empresas jornalísticas tiveram de pagar somas significativas para encerrar os processos. 

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Desde seu retorno ao poder, o líder republicano multiplica os ataques contra a imprensa e a jornalistas. Além disso, acusa de parcialidade e de produzir notícias falsas todos aqueles que produzem conteúdos que não lhe são favoráveis.

Nos últimos meses, Trump também levou para a Casa Branca um grande número de influenciadores para criar um discurso positivo sobre suas decisões e atitudes. Um desses novos "convidados" é a emissora conservadora britânica GB News, próxima do líder do partido anti-imigração Reform UK, Nigel Farage.

RFI com AFP

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