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Ataques em Paris: por que a Bélgica não monitorou irmãos fichados como radicais?

20 nov 2015 - 09h36
Para especialistas, ataques mostram que, para criminosos experientes, não é difícil entrar ilegalmente na União Europeia
Para especialistas, ataques mostram que, para criminosos experientes, não é difícil entrar ilegalmente na União Europeia
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

A confirmação, nesta quinta-feira, da morte do belga Adbdelhamid Abaaoud durante uma operação antiterrorista na cidade francesa de Saint-Dennis aumentou a pressão sobre os serviços de inteligência belgas, acusados de falhas que teriam permitido os atentados que deixaram 129 mortos em Paris, na sexta-feira.

Considerado o mentor do múltiplo ataque, Abaooud era o jihadista mais procurado pela Bélgica desde janeiro, quando a polícia frustrou um plano de atentado contra o país, supostamente elaborado por ele.

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Na época, o terrorista afirmou, em entrevista à revista-propaganda do Estado Islâmico, Dabiq, que teria viajado clandestinamente da Síria à Bélgica para preparar o ataque e conseguido sair do país antes da operação policial.

"Se isso for verdade, quer dizer que ele conseguiu entrar pelo menos uma vez mais sem ser detectado. Isso revela uma grande disfunção no controle de fronteiras externas da União Europeia”, disse à BBC Brasil Brice De Ruyver, diretor do Instituto Internacional de Pesquisa sobre Política Criminal na Universidade de Gante.

Fronteiras externas

Mas Abaaoud não foi o único: os serviços de inteligência belgas também não sabiam que Bilal Hadfi, um dos homens-bomba do Estade de France, estava de volta da Síria, para onde havia viajado em fevereiro.

"Sabíamos que estava em Síria, mas não tínhamos conhecimento de que havia voltado à Europa”, admitiu o porta-voz da Procuradoria belga, Eric Van Der Sypt.

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Alain Duchatelet, vice-presidente do Centro de Policiamento e Segurança e ex-diretor geral da Polícia Federal belga, pediu cautela antes de atribuir as falhas às autoridades de seu país.

"Abaaoud convocou gente da Bélgica (para participar dos atentados), que conhecia porque era do mesmo bairro que ele (os irmãos Abdeslam), mas não há indícios de que ele mesmo ou Hadfi tenham passado pela Bélgica”, disse em entrevista à BBC Brasil.

Independente do país responsável, os dois especialistas entrevistados concordam com o fato de que, para criminosos experientes, "não é difícil entrar ilegalmente na União Europeia”.

"Eles podem ter acesso a documentos falsificados ou passar por algum dos muitos pontos de fronteira não controlados. Há uma quantidade enorme de fronteiras na UE. É impossível vigiar tudo”, afirmou De Ruyver.

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Abdeslam

As autoridades belgas também foram criticadas por não terem monitorado os passos dos irmãos Brahim e Salah Abdeslam, apesar de tê-los fichado como radicais.

Brahim é um dos terroristas que atacou bares e restaurantes antes de se suicidar.

Salah, suspeito de ter participado da mesma equipe e de ter alugado os carros e os apartamentos utilizados pelos terroristas, continua foragido.

Em janeiro a polícia turca alertou as autoridades belgas de que Brahim tinha sido detido no país quando tentava entrar na Síria.

De volta à Bélgica, ele foi interrogado junto a Salah e a procuradoria federal considerou que ambos "não mostravam sinais de possível ameaça”, de acordo com Van Der Sypt.

"Brahim negou que estava indo à Síria. Sem provas de que ele tivesse alguma relação com um grupo terrorista, não havia muito que pudéssemos fazer”, justificou o porta-voz.

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Já fichado como radical, Salah Abdeslam continua foragido
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Para Françoise Schepmans, prefeita de Molenbeek, bairro onde viviam ambos terroristas, "parece que houve erro no tratamento das informações sobre candidatos à jihad”.

De Ruyver concorda que a decisão de não monitorar os irmãos Abdeslam foi um erro, mas minimiza a responsabilidade das autoridades belgas.

"É fácil dizer o que deveria ter sido feito uma vez que sabemos o que aconteceu em seguida. Mas acredito que (a inteligência belga) tomou uma decisão honesta, baseada nos fatos que conhecia naquele momento. Era preciso tomar uma decisão sabendo que não se pode monitorar todo mundo.”

Duchatelet destaca que a Bélgica é um país pequeno, com um serviço de inteligência adequado a seu tamanho, mas conta "um bom número de indivíduos capazes de se envolver em atos terroristas”.

O ministério de Justiça da Bélgica estima que entre 500 e 800 belgas se envolveram no conflito sírio, dos quais 120 teriam regressado ao país.

"Não há maneira de controlar todos eles”, disse Duchatelet.

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Segundo De Ruyver, um monitoramento constante exige o trabalho de quatro ou cinco oficiais para cada suspeito.

Resposta

O governo ordenou que o organismo independente responsável pelo controle dos serviços de segurança belgas investigue possíveis falhas no seguimento dos quatro terroristas belgas que atuaram em Paris.

Um dos homens-bomba que atacou o Stade de France também havia escapado do ao radar belga
Foto: Divulgação/BBC Brasil / BBC News Brasil

Também anunciou na quinta-feira um pacote com 18 medidas para facilitar o controle de suspeitos de terrorismo, incluindo a detenção de todos os combatentes que voltem da Síria e o uso de braceletes eletrônicos por todas as pessoas fichadas como radicais.

Um pacote de 400 milhões de euros será destinado ao reforço da segurança e do controle de terroristas em 2016.

Fronteiras europeias

Na sexta-feira os ministros de Interior da União Europeia se reunirão em Bruxelas para discutir como reforçar as fronteiras externas do bloco, combater o tráfico de armas e controlar o trânsito de suspeitos no espaço Schengen de livre circulação.

Na pauta, estará um polêmico projeto de registro de dados de passageiros europeus, bloqueado até agora pelo Parlamento Europeu e por países que temem uma invasão à vida privada.

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Entre as medidas anunciadas pelo governo belga está a criação de um registro desse tipo, porém de alcance nacional, para transportes aéreos e ferroviários internacionais.

"A única maneira de prever novos atentados é aceitar ter menos vida privada”, afirmou Duchatelet.

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