Governo argentino fez o possível para investigar atentado antissemita, diz juiz

26 fev 2015 - 21h47
(atualizado às 21h47)

O governo argentino fez tudo o que podia para promover a investigação sobre um ataque antissemita que matou 85 pessoas há duas décadas em Buenos Aires, disse nesta quinta-feira um juiz responsável por um caso relacionado.

Juiz federal argentino Daniel Rafecas (esquerda) entra de carro num tribunal em Buenos Aires, na Argentina. 19/02/2015
Juiz federal argentino Daniel Rafecas (esquerda) entra de carro num tribunal em Buenos Aires, na Argentina. 19/02/2015
Foto: Stringer / Reuters

O magistrado Daniel Rafecas descartou por falta de provas a denúncia do promotor falecido Alberto Nisman contra a presidente da Argentina, Cristina Kirchner, por ter supostamente acobertado iranianos acusados pelo trágico ataque contra a Associação Mutual Israelita Argentina (Amia).

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"Não há nenhuma evidência que revele que o governo argentino tinha qualquer intenção de perturbar, interromper ou ocultar o trabalho da Justiça argentina, mas o contrário", disse Rafecas em entrevista à Reuters.

"O governo argentino esgotou todas as instâncias para garantir que a investigação do ataque à (Amia) avançasse", acrescentou.

A misteriosa morte de Nisman, encontrado baleado na cabeça ao lado de uma arma há um mês no seu apartamento, aconteceu dias depois que ele apresentou a queixa contra Cristina e seu ministro das Relações Exteriores, e algumas horas antes de um compromisso que tinha no Congresso para detalhar a acusação.

A hipótese mais forte dos investigadores é suicídio, mas não descartam um homicídio ou suicídio instigado.

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Nisman investigava o assunto há mais de uma década, e o desfecho trágico chocou os argentinos, provocou uma crise política e percorreu o mundo.

De acordo com Rafecas, as duas principais hipóteses de acobertamento delineadas por Nisman em sua denúncia foram refutadas por documentos, dos quais ele entregou uma cópia à Reuters.

"A prova apresentada a este tribunal é exatamente o oposto do que Nisman sustentava. Nestas condições, o que decidi hoje é que não é possível em qualquer circunstância abrir uma investigação criminal", disse o juiz.

O governo afirmou que agentes de inteligência teriam influenciado Nisman a apresentar a denúncia. Mesmo alguns funcionários duvidavam que a acusação tinha sido redigida pelo promotor.

"Eu não tenho nenhuma dúvida de que (a denúncia) foi escrita pelo promotor", disse o juiz. "Há uma eloquência e uma maneira de escrever forense que não me fazem suspeitar em absoluto de que tenha sido obra ou mão de outra pessoa."

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Apesar de ser um caso quente, que abalou o governo, Rafecas disse que não foi ameaçado e que ninguém tentou influenciar sua decisão.

"Duas semanas atrás eu comecei a estudar o caso. Nessas duas semanas, eu trabalhei com uma tranquilidade incrível", disse ele. "Ninguém, nem de um lado ou de outro, se aproximou para fazer sugestões ou pressões."

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