Em julgamento sigiloso, ex-ministro da Economia de Cuba é condenado à prisão perpétua por espionagem

Alejandro Gil, ex-ministro da Economia e do Planejamento de Cuba e figura próxima ao presidente Miguel Díaz-Canel, foi condenado à prisão perpétua em primeira estância por espionagem e crimes econômicos, após um julgamento sigiloso em Havana. Gil de 61 anos, também recebeu uma segunda pena de 20 anos por corrupção e fraude fiscal. A integralidade da sentença foi finalmente divulgada na segunda-feira (8).

9 dez 2025 - 07h30

A condenação do ex-ministro foi anunciada pela Suprema Corte cubana. O julgamento ocorreu a portas fechadas, sem cobertura da imprensa estatal, e sob forte esquema de segurança.

O ministro da Economia de Cuba, Alejandro Gil, durante entrevista à AFP em Havana, em 17 de dezembro de 2019.
O ministro da Economia de Cuba, Alejandro Gil, durante entrevista à AFP em Havana, em 17 de dezembro de 2019.
Foto: AFP / RFI

Segundo comunicado oficial, Gil foi considerado culpado por "espionagem" e por "atos que prejudicaram a atividade econômica e a celebração de contratos". A Corte não revelou para qual país ou entidade os atos de espionagem foram cometidos, mas detalhou que o ex-ministro "descumpriu processos de trabalho com informações oficiais classificadas, subtraiu documentos, os danificou e os colocou à disposição de serviços inimigos".

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Além da pena máxima, Gil foi condenado em um segundo processo a 20 anos de prisão por corrupção continuada, tráfico de influência, falsificação de documentos públicos e evasão fiscal. De acordo com a Suprema Corte cubana, ele "se aproveitou das funções que exercia para obter benefícios pessoais, recebendo dinheiro de empresas estrangeiras e subornando outros funcionários para legalizar a aquisição de bens".

O ex-ministro tem dez dias para recorrer da segunda sentença. No caso da prisão perpétua, a lei cubana prevê recurso automático, o que implica um novo julgamento.

Gil ocupou o cargo de ministro da Economia e do Planejamento entre 2018 e fevereiro de 2024, quando foi abruptamente destituído. Desde então, não apareceu mais em público. Sua queda gerou especulações em meio à pior crise econômica de Cuba em três décadas, marcada por inflação alta, empobrecimento da população e aumento das desigualdades, enquanto o país tenta uma abertura desordenada ao setor privado.

Reação da família

Os dois processos ocorreram em novembro, em um tribunal nos arredores de Havana, sob vigilância policial e presença de agentes à paisana. No dia 26, a AFP registrou a chegada da esposa e da filha do ex-ministro ao tribunal. Laura María Gil, filha do ex-ministro, defendeu o pai nas redes sociais, pedindo "um julgamento público transmitido ao vivo" e exigindo que a Procuradoria apresentasse provas das acusações. Segundo ela, Gil nega todas as imputações.

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Engenheiro especializado em transporte, Alejandro Gil iniciou a carreira no porto de Havana e trabalhou em várias empresas estatais dentro e fora do país antes de ingressar nos ministérios de Finanças e Economia.

A destituição de Gil se soma a uma longa lista de quedas abruptas no alto escalão cubano, geralmente cercadas de mistério em períodos de crise.

Entre os casos mais notórios estão Roberto Robaina, ex-ministro das Relações Exteriores, afastado em 1999 por "deslealdade" a Fidel Castro; Felipe Pérez Roque e Carlos Lage, destituídos em 2009 por "conduta indigna" sob Raúl Castro; e o general Arnaldo Ochoa, executado em 1989 após um julgamento acusado de ser "estalinista" pela dissidência, sob acusação de tráfico de drogas.

Com AFP

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