Egito: eleições opõem Irmandade Muçulmana a símbolo da era Mubarak
25 mai2012 - 17h54
(atualizado em 26/5/2012 às 16h55)
Passado o primeiro turno das eleições egípcias, a Irmandade Muçulmana e Schafik, ex-primeiro-ministro do regime Mubarak, vão para o segundo turno. Forças revolucionárias e liberais precisam de perspicácia para negociar.
"Tenho que escolher entre me suicidar ou pular num poço cheio de tubarões", compara Rana Gaber, 25 anos, a necessidade de optar entre o representante do antigo regime ou os islâmicos. A jovem revolucionária está decepcionada com os resultados do primeiro turno das eleições presidenciais no Egito.
Ahmed Schafik, remanescente do regime Mubarak, e Mohammed Mursi Mosi, membro da Irmandade Muçulmana, conseguiram com uma diferença apertada chegar ao segundo turno do pleito, marcado para meados de junho próximo. Com essa os revolucionários não contavam. "A Irmandade Muçulmana vendeu a revolução e Schafik tem sangue nas mãos. Como é que podemos eleger alguém assim?", pergunta Rana.
Na tarde da sexta-feira, quando os votos ainda estavam sendo contados, a situação era outra. Hamdin Sabahi, candidato nacionalista à presidência, apoiado por muitos revolucionários, manteve-se em alguns momentos à frente de Schafik, tornando a apuração mais emocionante.
Schafik favorito dos militares
No fim, porém, quem ficou na frente foi Ahmed Schafik, o último primeiro-ministro sob o governo Mubarak, considerado o "terceiro filho" do ex-presidente. Schafik é especialmente odiado pelos revolucionários. Enquanto estava no poder, ele incumbiu tropas especiais de atacar os manifestantes no início da revolução na praça Tahrir, provocando uma chacina.
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Além disso, ele é o candidato preferido dos militares, pois, caso assuma o poder, as Forças Armadas deverão manter seus privilégios. Schafik é também o único candidato à presidência que não acha necessário apresentar um programa de governo. Mesmo assim, ele foi escolhido por 25% dos eleitores, como Ragab Madbuli. "Ele traz segurança, pois tem experiência. Isso é o mais importante nessa fase de transição", diz Ragab.
Com Mursi, a Irmandade Muçulmana teria todo poder
Estabilidade é também o que a Irmandade Muçulmana quer reaver. O partido angariou a maioria dos votos 25,3%, segundo estimativas da agência egípcia de notícias Mena. Para o partido, o resultado não é nada notável. Nas últimas eleições parlamentares, eles ficaram com a metade dos votos, ou seja, o dobro do que conseguiram agora. A confiança na Irmandade parece estar diminuindo e o partido, pelo que tudo indica, não está encontrando soluções para as questões sociais, pensando somente em ampliar o poder que já tem.
Caso Mursi ocupe o cargo de presidente, o Egito se tornaria a primeira república da Irmandade Muçulmana. No Parlamento do país, já formam a maior bancada. E seus membros estão fazendo de tudo para chegar ao palácio presidencial: eles querem se unir aos revolucionários, a fim de criar uma frente de oposição ao antigo regime. "Precisamos combater juntos. Os revolucionários contra os contra-revolucionários, contra o antigo regime", diz Sayed Mustafa.
Medo dos islâmicos Isso não será fácil, pois muitos defensores de um Estado laico têm medo dos islâmicos. No entanto, a Irmandade ainda tem muitos votos a angariar. O terceiro lugar no primeiro turno das eleições foi ocupado por Hamdin Sabahi, seguido pelo nacionalista e liberal Aboul Fottouh (ex-Irmandade) e por Amr Moussa. Muitos revolucionários, liberais, seculares e esquerdistas votaram em Hamdin Sabahi e em Aboul Fottouh, formando um percentual de 40% dos eleitores do país.
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Os revolucionários acusam Sabahi e Aboul Fottouh de terem sido demasiado egoístas, pois se um dos dois tivesse renunciado a tempo, teria sido possível ao outro chegar ao segundo turno em nome de uma aliança entre todas as forças liberais, seculares e de esquerda.
Revolucionários e liberais decidirão Mursi se empenha a fim de puxar para si esses 40% do eleitorado. Ele negocia com Sabahi e Aboul Fottouh, para que eles recomendem seu nome no segundo turno. Os candidatos liberais podem contar com muitas concessões, pois Mursi quer se tornar presidente a qualquer custo. Agora vai depender da habilidade de Sabahi e Aboul Fottouh para negociar a possibilidade de trilhar já agora o caminho em prol de uma política liberal da Irmandade Muçulmana.
Sendo assim, até a revolucionária Rana estaria disposta a votar na Irmandade, mas nunca no representante do antigo regime. "Caso eles façam concessões a nós, eu votaria neles com reservas, dando meu voto sobretudo contra o antigo regime", resume.
Nos próximos dias, as negociações serão intensas no Cairo. E aí a campanha eleitoral poderá recomeçar. Para Rana, uma coisa é certa: não importa qual dos dois candidatos ganhe as eleições, a jovem voltará às ruas para protestar contra o presidente eleito.
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Candidato Hamdeen Sabahi abraço jovem no Cairo
Foto: Reuters
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Hamdeen Sabahi participa de comício
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Mohamed Mursi, de um partido islâmico, faz discurso em seu último comício antes da eleição
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Mohammed Mursi faz campanha no Cairo
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Eleitores ouvem Mursi, candidato de partido islâmico à presidência
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Mulheres escutam discurso de Mohammed Mursi. Os candidatos estão na reta final para a eleição dos dias 23 e 24
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O jovem ativista dos direitos Humanos Khaled Ali discurso para a imprensa dois dias antes do início das eleições
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Hamdeen Sabahy é um candidato de esquerda com menor aceitação popular no Egito
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Cartazes de Mohammed Mursi, candidato da Irmandade Muçulmana, são expostos em um muro
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Peça de campanha eleitoral à presidência do egípcio Amr Mussa, ex-ministro de Relações Exteriores com Hosni Mubarak e ex-secretário-geral da Liga Árabe, é exposta em rua movimentada de Cairo. É a primeira vez que o Egito realiza eleições desde a deposição do ditador Hosni Mubarak
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O candidato Amr Moussa chega em colégio eleitoral. Mais de 50 milhões de egípcios estão convocados às urnas para escolher o primeiro presidente da democracia no país, em um pleito no qual partem como favoritos dois islamitas e dois ex-altos cargos do regime de Hosni Mubarak
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Os eleitores poderão depositar seu voto até as 20h locais, quando os colégios fecharão suas portas no primeiro dia de votação. Em caso de necessidade, o segundo turno acontecerá em 16 e 17 de junho
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No total, 14.500 juízes estão encarregados de supervisionar a votação em 13.099 colégios eleitorais, assistidos por mais de 65 mil funcionários, enquanto centenas de ONG egípcias e estrangeiras farão o acompanhamento das eleições
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As Forças Armadas e a Polícia se desdobraram para garantir a segurança ao redor dos colégios eleitorais, em frente aos quais se formaram longas filas já duas horas antes do início do processo.
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Homem procura nome em lista de eleitores momento antes do início das votações
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Egípcios fazem fila no Cairo durante históricas eleições presidenciais
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Sentados, homens esperam na fila para votar na cidade de Giza, no norte do Egito
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Mulher segura a cédula de votação com os nomes dos 14 candidatos à presidência do Egito, em Giza
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O pensador muçulmano Mohammed Salim al-Aawa, candidato à presidência, deposita o voto em uma urna, no Cairo
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Na fila, homens usam jornais para proteger a cabeça do sol, na capital egípcia
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Na fila das mulheres, eleitoras usam sombrinha para enfrentar o tempo de espera no sol
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Mulher egípcia mostra o dedo indicador marcado com tinta após votar para presidente, no Cairo
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Mulher tem o dedo mergulhado em pote de tinta para registrar seu voto em colégio eleitoral no Cairo. Os egípcios votam nesta quinta-feira pelo 2º dia das eleições presidenciais, as primeiras deste tipo após o fim do regime de Hosni Mubarak
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Egípcios aguardam em fila para votar, do lado de for a de estação eleitoral no Cairo
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Mulher procura por seu nome em lista antes de votar, no Cairo
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Egípcia exibe dedo com marca de tinta após votar em estação eleitoral, no Cairo
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Soldado controla fila de mulheres do lado de fora de estação eleitoral, no Cairo
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Idosa deposita seu voto em urna em seção eleitoral no Cairo. Milhões de egípcios foram às urnas nesta quinta-feira no segundo dia das eleições presidenciais do país
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Abertura das urnas e início da contagem dos votos foram supervisionados pelo Exército no Egito
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Coordenadores eleitorais se preparam para dar início à contagem de votos em uma escola utilizada como local de votação no Cairo
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Funcionário do governo em Alexandria separa as cédulas com os votos dos egípcios
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Funcionários contam os votos ao fim do primeiro turno das eleições no Egito, que duraram dois dias. A apuração começou logo depois do fechamento das urnas, às 21h (16h em Brasília) desta quinta-feira
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Pessoas discutem sobre as eleições egípcias na praça Tahrir, no Cairo
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Homem grita palavras de ordem contra o candidato Ahmed Shafiq, na capital egípcia
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Pessoas protestam contra Ahmed Shafiq, um dos candidatos à presidência do Egito, no Cairo
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Homem vai de moto à praça Tahrir para protestar após a votação para presidente
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Homem segura uma bandeira egípcia em frente a um muro com pichações críticas ao candidato Ahmed Shafiq, no Cairo. O Egito aguarda a confirmação do resultado das eleições presidenciais
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Protestos marcam as eleições presidenciais no Egito, que aguarda os resultados da apuração
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A maioria das manifestações populares são contra Ahmed Shafiq, um dos candidatos à presidência do país
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Cartaz gigante no centro do Cairo promove a candidatura de Mohammed Morsi
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Nas ruas do Cairo era possível ver cartazes promovendo a candidatura de Hamdeen Sabahi
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No topo de um prédio no Cairo, o painel gigante promove a candidatura de Ahmed Shafiq, a mais controversa das eleições no Egito
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