Cyril Ramaphosa encerrou oficialmente a cúpula, com um martelo de madeira na mão, por volta do meio-dia deste domingo. Para o presidente sul-africano, o objetivo foi alcançado. Ele manteve sua posição diante das ameaças de Donald Trump e sai de cabeça erguida deste G20.
Apesar das ressalvas expressas pela Argentina, o consenso em torno de uma declaração conjunta representa uma "grande vitória", segundo a presidência sul-africana, tanto para o país quanto para o multilateralismo.
A declaração final, de 30 páginas, permanece bastante vaga: ela defende a paz duradoura em todo o mundo, a resiliência climática e também a luta contra as desigualdades de riqueza e o alívio do peso da dívida. Um texto que a África do Sul divulgou já na abertura da cúpula, na manhã de sábado, sem esperar pelo encerramento, como normalmente é feito.
Foi uma manobra para provar rapidamente que a ausência dos Estados Unidos não impediria os participantes de chegarem a um acordo. E Pretória demonstra, de fato, que o mundo pode continuar avançando mesmo sem a presença norte-americana, e que o restante das nações é capaz de encontrar um mínimo de terreno comum em torno de temas importantes para o continente africano.
O líder sul-africano também demonstrou que conseguiu se manter fiel à sua linha, sem subir o tom, vencendo, assim, em partes, o cabo de guerra com Washington. Mas essa ausência levanta questionamentos, e nem todos compartilham do otimismo sul-africano.
Um caminho "difícil"
Embora alguns apontem o sucesso da declaração conjunta, com avanços e compromissos, também houve declarações mais pessimistas durante esta cúpula. Diversos líderes não compareceram, e as negociações anteriores foram complicadas.
"Estamos tendo muita dificuldade para resolver ao redor desta mesa [...] as grandes crises internacionais", declarou Emmanuel Macron, que talvez veja "o fim de um ciclo" e alerta sobre um "G20 em crise".
"Não há dúvida de que o caminho pela frente será difícil", reforçou o primeiro-ministro britânico Keir Starmer, acrescentando: "Precisamos encontrar maneiras de voltar a desempenhar um papel construtivo hoje diante dos desafios globais." Pairam sobre este texto e sobre o G20 interesses contraditórios. Como resume o primeiro-ministro chinês Li Qiang: "o unilateralismo e o protecionismo estão por toda parte."
Antes da Turquia em 2027, são os Estados Unidos que assumem, a partir deste domingo, a presidência do G20. Mas a cúpula terminou sem cerimônia de transição. O ministro das Relações Exteriores sul-africano, Ronald Lamola, já havia avisado que não haveria transferência de poder sem uma delegação americana presente. "Prestaremos a eles um respeito equivalente, garantindo que a pessoa encarregada da transição tenha o nível apropriado. Nosso presidente não pode fazer uma passagem de bastão com um encarregado da embaixada americana em uma cúpula de chefes de Estado."
O encerramento em Joanesburgo põe fim a quatro anos consecutivos de presidência do G20 por países do Sul Global, depois da Indonésia, Índia e Brasil, algo que Cyril Ramaphosa fez questão de destacar em seu discurso. O presidente lembrou a importância deste fórum econômico, mas o G20 parece cada vez mais marginalizado. Não se sabe como será a presidência americana da cúpula. Uma "reorganização", diz a Casa Branca, para "voltar ao essencial".
Com RFI