O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) anulou três questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025 porque identificou que seriam "similares" a divulgadas em redes sociais. "Nenhuma questão foi apresentada tal qual na edição de 2025 do exame. Na divulgação observada nas redes sociais, foram identificadas similaridades pontuais entre os itens", disse o Inep, em nota. A Polícia Federal foi acionada.
O orgão não deixou claro quais são as questões. Candidatos que fizeram Enem passaram a denunciar nesta terça-feira, 18, uma suspeita de vazamento da prova porque um professor do Ceará teria "previsto" questões feitas no domingo, 16. O professor citado é Edcley S. Teixeira, que também é aluno de Medicina e vende pacotes com monitorias para candidatos do Enem. Em suas postagens nas redes sociais, ele mostra a semelhança entre as perguntas e dá explicações para seu método de estudo para antecipar o conteúdo da prova, que ele chama de "engenharia reversa".
Vazamento da prova em 2009 e do pré-teste em 2011
Desde que foi criado como um vestibular, em 2009, as perguntas do Enem são feitas por professores de universidades federais e, depois, precisam ser aplicadas a pessoas com perfil semelhante aos estudantes do ensino médio - no caso da prova da Capes são calouros de universidade, alunos que acabaram de concluir a escola.
Dessa forma, é possível calibrar o nível de dificuldade de cada questão, a capacidade que ela tem para discriminar os candidatos e a probabilidade de acerto ao acaso. Depois disso, elas são colocadas em posições diferentes da escala do Enem, que em geral fica entre 400 e mil pontos, conforme a dificuldade.
A partir desse banco de itens já pré-testados, são escolhidas as questões que farão parte de cada prova. Perguntas consideradas ruins pelos técnicos do Inep são eliminadas. E há ainda outras que não foram pré-testadas e o próprio Enem é usado como teste.
Em 2011, o pré-teste do Enem também esteve envolvido numa outra polêmica. Um professor do Colégio Christus, em Fortaleza, distribuiu um caderno de exercícios aos vestibulandos com questões que tinham sido usadas no pré-teste no ano anterior. A escola tinha sido usada para aplicação do pré-teste.
Após a denúncia, que foi investigada pela Polícia Federal, o Inep anulou 14 questões do Enem para 1.139 alunos do 3.º ano e do cursinho pré-vestibular do Christus. Os itens entregues aos estudantes da instituição eram idênticos ou parecidos aos que caíram na prova.
Em 2009, o Estadão denunciou que a prova foi roubada da gráfica onde era impressa e o Enem foi anulado para todos os 4 milhões de candidatos dias antes de ser aplicado. Em seus posts, Teixeira menciona o livro O Roubo do Enem (Editora Record), que conta a história, afirmando que a obra falaria sobre a prova da Capes, o que não é verdade. O livro, da jornalista Renata Cafardo, apenas detalha como funciona o pré-teste.
Veja a íntegra da nota do Inep:
1- O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) reafirma a isonomia, lisura e validade das provas do Enem 2025.
2- Ao identificar relatos de antecipação de questões similares às do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2025, a equipe técnica que faz parte da comissão assessora responsável pela montagem das provas analisou as circunstâncias e decidiu, com base em informações sobre a montagem do teste, pela anulação de três itens aplicados na prova.
3- O Enem utiliza a Teoria da Resposta ao Item (TRI) para apuração de seus resultados. A metodologia demanda que os itens sejam pré-testados. Os estudantes que participam de pré-testes têm contato com itens que podem vir a compor o Enem em alguma edição.
4 - Nenhuma questão foi apresentada tal qual na edição de 2025 do exame. Na divulgação observada nas redes sociais, foram identificadas similaridades pontuais entre os itens.
5 - A Polícia Federal foi acionada para apurar a conduta e autoria na divulgação das questões e garantir a responsabilização dos envolvidos por eventual quebra de confidencialidade ou ato de má-fé pela divulgação de questões sigilosas de forma indevida.
6 - O Inep promove diversas estratégias para calibrar as questões que compõe o Banco Nacional de Itens e podem ser usadas na elaboração das provas do Enem. Os processos envolvem rigorosos protocolos de segurança, que foram cumpridos em todas as etapas do exame.