Três questões do Enem 2025 foram anuladas após rumores de vazamento relacionados a uma live do estudante Edcley Teixeira, que negou má fé e defendeu ter obtido as informações de forma lícita; o caso segue sob investigação do Inep e da Polícia Federal.
O estudante de Medicina Edcley Teixeira, pivô da anulação de questões do segundo dia do Enem 2025, disse que "não sabia" que as perguntas que divulgou em uma live dias antes do exame cairiam na prova deste ano e classificou como "coincidência" as similaridades. A repórter que descobriu o caso conta como ficou sabendo das questões. As declarações foram dadas em entrevista ao Fantástico, da TV Globo, exibida na noite de domingo, 23.
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O jovem, que é de Sobral, no Ceará, oferece cursos pagos de "mentorias" para jovens que estejam estudando para o Exame Nacional do Ensino Médio. Após a aplicação da prova, surgiram registros nas redes sociais que indicavam que Edcley teria 'previsto' algumas questões praticamente idênticas às aplicadas na prova definitiva, o que gerou suspeitas de vazamento. Com a repercussão, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), responsável pelo exame, anulou três perguntas.
O caso foi divulgado primeiramente pela jornalista Luiza Tenente, do g1. Em entrevista ao Fantástico, ela contou que recebeu a mensagem de um aluno alertando sobre a live de Edcley. Ela mostrou trechos da transmissão do estudante, que agora está com acesso fechado ao público, e afirmou que encontrou cinco questões muito parecidas.
"Eu vi que eram os mesmos números, a mesma situação-problema, muitas vezes as alternativas eram basicamente idênticas", disse Luiza. "Então, é muito difícil acreditar que tenha sido sorte. Eu diria que é impossível."
Edcley afirma que soube do material com antecedência não por conta de um suposto vazamento, mas por receber informações de estudantes que realizam um pré-teste do Enem, na prova do Prêmio Capes de Talento Universitário -- prova feita com alunos de universidades federais que serve para premiar desempenhos e também testar a dificuldade de possíveis perguntas de edições futuras do Enem.
A jornalista ainda descobriu que o estudante pagava candidatos para memorizar perguntas dessa prova. Em mensagem exibida na reportagem, ele aparece pedindo para outras pessoas memorizarem até 10 questões e comenta que está disposto a pagar R$ 10 por cada uma.
Ao Fantástico, o jovem se defendeu. "Não vejo má fé porque não existia nenhum termo de compromisso, nenhum termo de sigilo. Não existia nem no edital e nem no processo de inscrição", disse. "Se eles nos avisassem: 'É um pré-teste, você tem que assinar o termo de sigilo, não pode divulgar para ninguém', com certeza ficaria mais seguro o processo", acrescentou.
A respeito de peças publicitárias encontradas em suas redes sociais, como uma em que consta a frase "Único monitor do País a realizar o pré-teste do Enem 2025", Edcley disse se arrepender: "É uma forma de publicidade que hoje eu considero infeliz. Era simplesmente para chamar atenção para o meu curso".
No domingo, o jovem foi alvo de mandado de busca e apreensão, cumprido pela Polícia Federal. Os agentes apreenderam aparelhos dele como celular e computador, além de documentos.
O que dizem o Inep e o MEC?
O presidente do Inep, Manuel Palacios, também comentou o caso em entrevista ao Fantástico: "Não há a menor chance de um item memorizado por um estudante que fez uma prova afete, de alguma maneira, a segurança do Enem. Não há risco algum, técnico, neste episódio. Não há a menor possibilidade de algum estudante ter uma nota melhor porque passou os olhos nessa questão".
Palacios ressaltou, porém, que serão mantidas investigações: "Há, aparentemente, neste caso, um esforço concentrado para prejudicar o Enem. Precisamos saber o que está acontecendo."
Camilo Santana (PT), ministro da educação, reafirmou que o Enem 2025 não será cancelado: "Há uma preocupação muito grande para garantir a lisura do processo. Quero tranquilizar a todos que fizeram o exame que o Enem continua, o resultado final sairá em janeiro de 2026." *(Com informações do Estadão Conteúdo).