Ele largou cargo de diretor, tirou sabático, escreveu um livro e mora na Espanha com qualidade de vida

O consultor de carreira Eberson Terra e sua companheira, a jornalista Iara Vilela, mudaram de vida e dão dicas sobre como planejar e aproveitar um período de aperfeiçoamento e reflexão fora do trabalho

14 set 2023 - 14h40
(atualizado em 15/9/2023 às 12h48)
Foto: Reprodução

Repensar a forma de trabalhar e até mesmo fazer uma transição de carreira. Esses são alguns dos efeitos de um período sabático. No caso de Eberson Terra, 40, a pausa de um ano trouxe uma reviravolta na carreira. Ele largou o cargo de diretor em uma fintech de educação, onde estava havia 12 anos, para virar consultor de carreira. A experiência feita ao lado da companheira, a jornalista Iara Vilela, 36, que também mudou aspectos na vida profissional e hoje escreve somente sobre turismo, rendeu ao casal o livro "Sabático: o Poder da Pausa".

Na obra, os autores mostram o caminho das pedras para tornar essa parada estratégica possível. Ao Estadão, a dupla compartilhou orientações e desfez mitos para quem deseja tirar um período sabático, mas não sabe por onde começar.

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O primeiro passo é entender que a pausa prolongada não possui o mesmo formato de férias ou de nomadismo digital. O sabático tem início, meio e fim e deve servir a um propósito na carreira.

Conheça a política da sua empresa

Embora não seja algo comum na maioria das empresas, o sabático é incorporado como benefício em algumas organizações.

Se não houver uma política clara em sua empresa, converse com o empregador e negocie acordos.

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A modalidade CLT permite que o trabalhador tire um período de licença sem remuneração.

Mas é preciso ficar de olho nos detalhes. Por exemplo, se o objetivo é retornar para a empresa e continuar no mesmo cargo após a pausa, consulte a chefia e peça transparência sobre a possibilidade de haver mudanças durante o afastamento.

Isso evita que surjam surpresas depois do retorno, como uma troca de cargo ou setor.

Morte precoce de amiga inspirou projeto

Quando Terra comunicou à chefia o desejo de fazer uma pausa, em 2018, recebeu uma contraproposta para adiar o sabático.

"Estávamos passando por um projeto importante, mas queria encerrar o ciclo. Ainda perguntei se queriam me dar o período sabático e depois retornava. Mas não aceitaram. Então, mantive minha decisão, porque aquele era o meu momento, tinha feito o planejamento e tinha entendido que era o fim do ciclo", relembra.

O estalo de ter uma vivência diferente do mundo corporativo veio com a morte precoce de uma amiga.

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"Ela faleceu aos 42 anos sem conseguir fazer metade das coisas com que sonhava. Ela dedicou muito tempo dentro da empresa, trabalhava os três períodos. Pensei assim: 'Não quero chegar aos 42 anos e não ter feito o que queria", relata o autor, ao mencionar o ponto de partida para programar o sabático.

O planejamento no papel começou em 2015 e durou em torno de três anos, até o momento da demissão, em 2018.

O casal anotou todos os pontos que gostariam de fazer durante a pausa e quanto iriam gastar ao longo de 12 meses.

"Voltar, sem dúvida, é parte mais complicada. Às vezes, você retorna e não se sente pertencente ao lugar em que estava. Mais do que se recolocar no mercado, a vivência do sabático é algo íntimo. Você começa a perceber que seu modelo de vida também precisa ser alterado", sugere Terra.

Segundo o coautor, a cultura de trabalho tende a ser repensada. "Eu era diretor de uma empresa, compreendi que para mim existem coisas mais importantes do que meu salário. Não consegui manter o meu padrão de vida, e tudo bem, porque tive esse período de reflexão e não quis voltar para o mercado para trabalhar 12 horas por dia."

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A nova mentalidade não significa sumir da rede de contatos. O LinkedIn, segundo o casal, deve continuar ativo, mesmo que de forma reduzida durante a pausa.

"Talvez, lá na frente, a pessoa precise de um contato que forneça uma oportunidade ou indique para algo quando retornar. Então, use o sabático também para fazer o networking funcionar, auxiliando outros profissionais."

Quem pode fazer um sabático?

Na experiência do casal, a pausa se encaixa para diversas pessoas, mas existe uma exceção. "Acredito que não caiba para quem não tem certeza do que está buscando."

Após o período sabático, Terra e Iara decidiram se mudar para a Espanha, onde vivem há um ano. O conselho primordial dos autores é se adaptar e abandonar velhos hábitos ruins.

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"Saiba que você vai ter um período de adaptação muito difícil no começo. Você se sente apavorado por não ter nada para fazer, é importante calibrar a ansiedade."

Ainda assim, para a dupla, é inevitável sair transformado do período. "O sabático te transforma de maneiras diferentes", completa Iara.

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