'Estamos com uma dívida muito grande', diz Janaína Rueda, da Casa do Porco

Chef de São Paulo fiz que 'não está vindo ajuda de nenhuma das esferas de poder para o setor mais penalizado pela pandemia'

18 abr 2021 - 05h10
(atualizado em 19/4/2021 às 07h26)

"Em março do ano passado fechamos todas as nossas casas e ficamos quase quatro meses parados. Minha rotina, no início, foi ficar em casa, cozinhando para pessoas em situação de rua e vulnerabilidade social, organizando a coleta de doações no Bar da Dona Onça e buscando meios de contribuir com o setor de gastronomia, tão impactado por essa crise.

Ao mesmo tempo, pensamos em soluções para manter os negócios sem colocar vidas em risco, criamos e implantamos um novo modelo de delivery e nos dedicamos à Escola Rueda, uma cozinha caipira a céu aberto no nosso sítio.

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Depois desse período, decidimos entrar no mercado popular de delivery. Fez tanto sucesso que virou um novo negócio e ganhou uma cozinha própria, que funciona como um refeitório educativo. Também participamos do projeto Ocupa Rua, que permitiu que A Casa do Porco - e vários outros estabelecimentos - colocasse mesas em parte do asfalto e ganhasse um fôlego maior.

Criamos um novo conceito de delivery que permite levar parte da experiência dos restaurantes para a casa das pessoas, com criatividade e qualidade. Também abrimos a Mercearia do Centro virtualmente, para entrega dos nossos embutidos e curados, picles, geleias, pães e kits com receitas para serem finalizadas em casa.

Participo de vários grupos com chefs e agentes de diversos setores como varejo, atacado, comerciantes, grupos políticos, etc porque é importante saber o que está acontecendo e o que está sendo feito. O que a gente conseguiu mobilizando a comunidade foi a aprovação da MP 936, que assegurou os salários dos funcionários por três meses. Lógico que não foi suficiente, muitos restaurantes quebraram, mas permitiu que aqueles que tinham algum caixa e uma condição melhor aguentassem.

Mas a luta continua, não acaba nunca. A reedição da MP é fundamental nesta fase emergencial para evitar uma tragédia ainda maior, que pode fazer com que se chegue a 70% dos bares e restaurantes do País fechando definitivamente. As restrições rígidas, que entendemos ser necessárias, diminuíram novamente o faturamento.

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Nós estamos com uma dívida muito grande, acumulando impostos e empréstimos. Não temos como colocar mais dinheiro nas casas depois de um ano. Seria cruel exigir a reabertura com quase 4 mil mortes por dia, mas a crueldade também está vindo dos nossos governantes das esferas federal, estadual e municipal. Não está vindo ajuda de nenhuma das esferas de poder para o setor mais penalizado pela pandemia."

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