PF investiga se Ramagem atendeu pedido de Carlos Bolsonaro mesmo fora da Abin

Ex-diretor da Agência Brasileira de Inteligência recebeu pedido de 'ajuda' de assessora do vereador após deixar comando da instituição

30 jan 2024 - 16h53
(atualizado às 17h39)
Itens estavam em posse do ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, mesmo após quase dois anos dele ter se desligado da agência para concorrer ao mandato de deputado federal que ocupa agora, pelo PL do Rio.
Itens estavam em posse do ex-diretor da Abin, Alexandre Ramagem, mesmo após quase dois anos dele ter se desligado da agência para concorrer ao mandato de deputado federal que ocupa agora, pelo PL do Rio.
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

A Polícia Federal (PF) investiga se, mesmo fora da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Alexandre Ramagem tinha acesso aos sistemas e atendia a pedidos da família do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Dois indícios acenderam o alerta dos investigadores. O primeiro foi a apreensão de um notebook e de um celular da Abin com Ramagem na última quinta-feira, 25, na Operação Vigilância Aproximada. Ele deixou o comando da agência em 31 de março de 2022, ou seja, há quase dois anos.

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A Abin disse ao Estadão que não deu falta dos equipamentos e que a responsabilidade de devolver o material era do então diretor. A agência alega que ele perdeu acesso aos sistemas quando se desligou da instituição. Ramagem, por sua vez, disse em entrevista à GloboNews que os dispositivos não eram usados há mais de três anos.

O segundo indício que levou a PF a desconfiar que Ramagem pudesse ter algum meio de obter informações, via Abin, é o pedido feito pelo vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), por meio de uma assessora, para conseguir dados de inquéritos de interesse da família Bolsonaro. A servidora diz que precisa "muito de uma ajuda", informa o número das investigações e acrescenta que elas envolveriam o "PR (presidente da República) e 3 filhos".

A conversa aconteceu após outubro de 2022, meses após Ramagem deixar a Abin para disputar as eleições. Ele foi eleito deputado federal.

A PF busca descobrir se, mesmo fora da agência, Ramagem usou clandestinamente suas credenciais para acessar os sistemas de inteligência. Outra hipótese é a de que ele tenha se valido de aliados na Abin para conseguir informações. Sete policiais federais que auxiliavam Ramagem no órgão foram afastados por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF).

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A Abin é o principal órgão do sistema de inteligência federal e tem como atribuição produzir informações estratégicas sobre temas sensíveis, como ameaças à democracia e às fronteiras, segurança das comunicações do governo, política externa e terrorismo. Para a PF, a agência foi instrumentalizada no governo Bolsonaro e usada para atender interesses privados do grupo político do ex-presidente.

A Polícia Federal acredita que aliados de Bolsonaro infiltrados na Abin faziam parte de um grupo mais amplo responsável por uma espécie de serviço clandestino de "contraintelige^ncia".

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