Mourão defende indígenas mas evita garantir fim do garimpo

Mourão afirmou, após videoconferência com investidores estrangeiros, que indígenas contraíram o novo coronavírus devido a deslocamentos realizados por eles até as cidades para receber benefícios assistenciais ou fazer compras

9 jul 2020 - 13h05
(atualizado às 13h51)

BRASÍLIA - Cobrado por investidores estrangeiros sobre a preservação dos direitos da população indígena, o vice-presidente Hamilton Mourão admitiu nesta quinta-feira, 9, que é responsabilidade do governo atender aos povos tradicionais, mas não apresentou medidas concretas para isso. Mourão defendeu que o indígena seja "mais integrado" à sociedade. Também afirmou que dezenas de indígenas contraíram o novo coronavírus devido a deslocamentos realizados por eles até as cidades para receber benefícios assistenciais ou fazer compras, e não devido a invasão ilegal de milhares de garimpeiros.

O vice-presidente da República, Hamilton Mourão
O vice-presidente da República, Hamilton Mourão
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil / Estadão Conteúdo

"A questão da chegada da pandemia nas terras indígenas... Não é por que têm elementos estranhos lá dentro que a pandemia chegou. As senhoras e os senhores têm que entender, na realidade amazônica, que o indígena sai de dentro da sua terra para ir até a cidade, seja para receber algum benefício, da nossa lei orgânica de assistência social, seja porque ele tem que comprar alguma coisa", disse o vice presidente em entrevista coletiva após conversa com investidores.

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Mourão afirmou, ainda, que seria uma tarefa "hercúlea" bloquear o território indígena para impedir "a entrada de gente", em referência aos garimpeiros. "Se nós vamos ter que bloquear a entrada, também vamos ter que bloquear a saída", declarou o vice-presidente, que também comanda o Conselho da Amazônia.

Na quarta, 8, o presidente Jair Bolsonaro vetou obrigações do Poder Público com os povos indígenas durante a pandemia, como garantir o acesso universal à água potável, distribuir gratuitamente materiais de higiene, de limpeza e de desinfecção das aldeias, e ofertar leitos hospitalares e de unidade de terapia intensiva (UTI) e ventiladores e máquinas de oxigenação sanguínea.

Sobre isso, Mourão afirmou que "o indígena se abastece da água dos rios que estão na sua região", mas admitiu que muitas vezes há contaminação justamente devido a presença do garimpo ilegal. "Se, porventura, algum rio daquele foi contaminado por atividade ilegal, notadamente garimpo, com uso de mercúrio, se leva água para esses grupos", limitou-se Mourão, sobre o assunto.

A postura do governo em relação aos indígenas tem sido alvo de críticas de investidores estrangeiros. Segundo Mourão, os CEOs dos fundos de investimento, que se reuniram nesta quinta com integrantes do governo, citaram Convenção nº 169 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), sobre Povos Indígenas e Tribais em Estados Independentes.

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De acordo com a Convenção, as terras indígenas devem ser concebidas como a integralidade do meio ambiente das áreas ocupadas ou usadas pelos povos indígenas abarcando portanto aspectos de natureza coletiva e de direitos econômicos, sociais e culturais além dos direitos civis. Os Artigos 15 e 14 da Convenção enfatizam o direito de consulta e participação dos povos indígenas no uso, gestão (inclusive controle de acesso) e conservação de seus territórios. Além disso, prevê o direito a indenização por danos e proteção contra despejos e remoções de suas terras tradicionais.

Na semana passada, Mourão recebeu o líder indígena Dário Kopenawa Yanomami, no Palácio do Planalto, para falar sobre a violência de garimpeiros contra povos indígenas na Terra Yanomami. Após o encontro, no entanto, Dário disse que Mourão afirmou que vai resolver o problema, mas "não explicou direito como". Os Yanomami falam na invasão de 20 mil garimpeiros em suas terras. O governo, no entanto, admite a presença de 3.500.

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