Gilberto Carvalho nega contato de subchefe com Cachoeira

10 abr 2012 - 16h44
(atualizado às 17h02)
Diogo Alcântara
Direto de Brasília

Um dos principais interlocutores políticos do governo Dilma Rousseff, o ministro da Secretaria-Geral, Gilberto Carvalho, não acredita que a história do suposto envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira com Olavo Noleto, subchefe de Assuntos Federativo, respingue no Planalto. O ministro conversou na semana passada com Noleto e ouviu a explicação de que não havia contato entre o funcionário do Planalto e Cachoeira. Segundo reportagem do jornal O Globo, a presidente teria orientado a ministra Ideli Salvatti a afastá-lo do cargo.

"O Olavo é uma pessoa muito séria, conhecemos o passado dele, então não temos nenhum receio de nenhum respingo aqui", disse o ministro. "(Ele) Nunca teve contato com ele (Cachoeira). E vamos lembrar que o Olavo tem como função receber aqui no Palácio governadores, senadores, então ele assegurou para a gente que, para nós, esse assunto é página virada", acrescentou.

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Gilberto revelou, no entanto, que Noleto, enquanto funcionário da Presidência da República, teve contato com o então presidente da Câmara de Vereadores de Goiânia, Wladimir Garcez, que segundo a Polícia Federal, seria o número dois de Cachoeira. Ele teria negociado um possível apoio do senador Demóstenes Torres (sem partido-GO, ex-DEM) para a candidatura da presidente Dilma Rousseff, em 2010.

"Ele nos deu as explicações de que o contato que ele tinha tido com o ex-presidente da Câmara Municipal de Goiânia foi no contexto de um possível apoio do Demóstenes à candidatura Dilma em 2010", disse o ministro. "Apoio que depois não se efetivou até porque o DEM lançou na época como vice o Índio da Costa (então candidato a vice-presidente na chapa de José Serra) e ele nos assegurou que o único contato que ele tinha tido com o ex-presidente da Câmara tinha sido dessa natureza. Nenhum outro contato. Não conhecia o Carlinhos Cachoeira", acrescentou o ministro.

Gilberto saiu em defesa do colega e assegurou que não existe intenção da presidente Dilma Rousseff em afastar Olavo Noleto do cargo. "A gente estranhou muito essa notícia, completamente sem fundamento, que hoje a imprensa traz de que a presidente teria indicado a saída dele. Isso não existe, isso não é real", assegurou o ministro.

Apesar da conversa com o subchefe, o ministro nega que tenha havido uma reunião conjunta com a ministra Ideli Salvatti. A suposta reunião também foi negada em nota à imprensa pela Secretaria de Relações Institucionais. Gilberto se declarou "muito amigo do Olavo" e garantiu que se houvesse algum problema envolvendo o Subchefe de Assuntos Federativos, o governo teria tomado outra providência.

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"Mediante a palavra dele a nosso juízo absolutamente confiável de que não houve nenhum contato de nenhuma natureza e com essa pessoa, nós ficamos tranquilo e, enfim, a vida segue", concluiu.

CPI

Gilberto Carvalho disse desconhecer movimento para criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar os negócios do bicheiro Carlos Cachoeira com políticos. Ele garantiu, porém, que a instauração da CPI não intimida o governo. "Só acho que a gente nunca tem que ter medo da verdade. Acho que não é porque teve um deputado do PT (Rubens Otoni, PT-GO) que teve contato com esse pessoal que a gente deva deixar de fazer as investigações", disse.

"Se é CPI ou não é, não me cabe pronunciar. Essa é uma decisão que a Câmara tem que tomar, ou o Senado e não a gente aqui. Mas eu não vejo razão nenhuma para temer. Já passamos por várias CPIs, sabemos do que se trata, e não temos que ter temor nenhum nesse sentido nesse momento", garantiu o ministro

Há pouco, o senador Antônio Carlos Valadares (PSB-SE), presidente do Conselho de Ética do Senado, acatou o pedido de investigação do Psol e abriu processo contra o senador Demóstenes Torres. A abertura da representação para investigar a suposta sociedade de Demóstenes com o bicheiro Carlos Cachoeira, atualmente preso, ocorreu após Valadares assumir o Conselho. A partir de agora, Demóstenes está em condição de investigado e tem 10 dias úteis para apresentar defesa prévia.

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Demóstenes e Carlinhos Cachoeira

Em 6 de março de 2012, o senador Demóstenes Torres (GO) subiu à tribuna para dar explicações sobre as denúncias de sua proximidade com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, descoberta pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal, que terminou em fevereiro, com a prisão de Cachoeira e de outras 34 pessoas. Demóstenes disse que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido critérios legais. Dez dias depois, o jornal Folha de S.Paulo publicava um relatório do Ministério Público Federal (MPF) que indicava que o grupo comandado por Cachoeira entregou telefones antigrampos para políticos, entre eles Demóstenes, que admitiu ter recebido o aparelho.

O jornal O Globo noticiou, em 23 de março, gravações da PF que flagraram Demóstenes pedindo para Cachoeira lhe pagar R$ 3 mil em despesas com táxi-aéreo e vazando informações sobre reuniões reservadas que manteve com representantes dos três Poderes. Em 27 de março, Demóstenes pediu afastamento da liderança do DEM no Senado para "acompanhar a evolução dos fatos". No dia seguinte, o Psol entrou com representação contra o parlamentar no Conselho de Ética do Senado e, um dia depois, em 29 de março, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandovski autorizou a quebra do sigilo bancário de Demóstenes, solicitando ainda um levantamento sobre as emendas e os projetos relatados por ele para saber se Cachoeira, acusado de controlar a máfia dos caça-níqueis e de corromper policiais e políticos em Goiás, foi beneficiado.

Nas gravações, Demóstenes também aparece acertando um suposto lobby pela legalização dos jogos de azar no Congresso em 2009. Em outra conversa, Cachoeira pede ajuda no processo de um delegado e três policiais de Anápolis (GO) acusados de tortura e extorsão. Os dois ainda conversaram sobre um "negócio" milionário na Infraero. Na ocasião, Demóstenes teria se valido da relatoria da CPI do Apagão Aéreo para levantar informações e sondar contratos de informática na estatal.

O presidente do DEM, senador José Agripino Maia (RN), anunciou em 2 de abril que o partido decidiu abrir um processo que poderia resultar na expulsão de Demóstenes, que, no dia seguinte, pediu a desfiliação da legenda.

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Fonte: Terra
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