Após prometer 'contar tudo', Cachoeira se cala em depoimento

25 jul 2012 - 18h45
(atualizado às 19h21)
Diogo Alcântara
Direto de Goiânia

Apesar da promessa de contar tudo sobre seu envolvimento com a exploração ilegal de jogos de azar, além de corromper servidores e autoridades, o bicheiro Carlinhos Cachoeira preferiu o silêncio durante depoimento realizado nesta quarta-feira na Justiça Federal em Goiás. Tanto o bicheiro, quanto os outros seis réus ouvidos nesta tarde usaram a prerrogativa de não responder. "Eu me reservo ao direito constitucional de ficar calado" foi a frase mais ouvida na sessão.

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Cachoeira chegou ao tribunal por volta das 8h e acompanhou toda a oitiva das testemunhas de defesa. Recusando-se a responder às questões consistentes para o processo, a única afirmação dele foi prometer que se casaria no primeiro dia em que estiver solto. O depoimento do bicheiro durou cerca de cinco minutos.

A defesa do Cachoeira, capitaneada pela advogada Dora Cavalcante, tentou uma manobra para adiar o depoimento, o que foi negado pelo juiz federal Alderico Rocha Santos. Foi a segunda tentativa de adiamento. Ontem, a defesa alegou que as operadoras de telefonia não haviam informado à Justiça quais clientes tiveram dados acessados por policiais durante a operação Monte Carlo.

Para o magistrado, "é um direito deles ficar em silêncio. É a garantia constitucional assegurada". Procuradora da República, responsável pela operação Monte Carlos, Léa Batista não se surpreendeu com a atitude dos réus. "Já era esperado este silêncio orquestrado que já é bastante comum nas organizações criminosas. O fato de eles terem ficado calados não influencia nas provas que já estão nos autos." Defesa e acusação terão a partir de agora três dias para levantar novas provas.

Carlinhos Cachoeira

Acusado de comandar a exploração do jogo ilegal em Goiás, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, foi preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, em 29 de fevereiro de 2012, oito anos após a divulgação de um vídeo em que Waldomiro Diniz, assessor do então ministro da Casa Civil, José Dirceu, lhe pedia propina. O escândalo culminou na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Bingos e na revelação do suposto esquema de pagamento de parlamentares que ficou conhecido como mensalão.

Escutas telefônicas realizadas durante a investigação da PF apontaram diversos contatos entre Cachoeira e o senador Demóstenes Torres (GO), então líder do DEM no Senado. Ele reagiu dizendo que a violação do seu sigilo telefônico não havia obedecido a critérios legais, confirmou amizade com o bicheiro, mas negou conhecimento e envolvimento nos negócios ilegais de Cachoeira. As denúncias levaram o Psol a representar contra Demóstenes no Conselho de Ética e o DEM a abrir processo para expulsar o senador. O goiano se antecipou e pediu desfiliação da legenda.

Com o vazamento de informações do inquérito, as denúncias começaram a atingir outros políticos, agentes públicos e empresas, o que culminou na abertura da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Cachoeira. O colegiado ouviu os governadores Agnelo Queiroz (PT), do Distrito Federal, e Marconi Perillo (PSDB), de Goiás, que negaram envolvimento com o grupo do bicheiro. O governador Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, escapou de ser convocado. Ele é amigo do empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta, apontada como parte do esquema de Cachoeira e maior recebedora de recursos do governo federal nos últimos três anos.

Demóstenes passou por processo de cassação por quebra de decoro parlamentar no Conselho de Ética da Casa. Em 11 de julho, o plenário do Senado aprovou, por 56 votos a favor, 19 contra e cinco abstenções, a perda de mandato do goiano. Ele foi o segundo senador cassado pelo voto dos colegas na história do Senado.

O bicheiro Carlinhos Cachoeira se negou a falar em depoimento nesta quarta-feira
O bicheiro Carlinhos Cachoeira se negou a falar em depoimento nesta quarta-feira
Foto: Ed Ferreira / Agência Estado
Fonte: Terra
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