O presidente Lula visitou Moçambique para reforçar as relações bilaterais, anunciar cooperações em áreas como agricultura, saúde e educação e destacar o compromisso brasileiro com o desenvolvimento e a parceria entre os dois países.
Em visita de Estado a Moçambique nesta segunda-feira, 24, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encontrou com o presidente do país, Daniel Chapo, com quem havia protagonizado um momento de descontração durante a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 (COP30).
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Na ocasião, Lula deu 'pulinhos' para alcançar a altura do líder africano. Chapo, com 2,04 metros de altura, é o chefe de estado mais alto do mundo. Lula, de 1,68 metro, fez a brincadeira enquanto o recebia na recepção da conferência. O tom de amizade entre os dois presidentes se estendeu para a reunião desta segunda, quando ambos discursaram a jornalistas em coletiva de imprensa na capital moçambicana, Maputo, destacando o desejo de aumentar a cooperação entre as duas nações.
"Minha visita a Moçambique é o recomeço de uma história que nunca deveria ter parado de acontecer. O Brasil está de volta. E o Brasil quer colaborar com o Moçambique em todas as áreas da indústria, da ciência e da tecnologia, da agricultura, da energia e em tudo aquilo que você precisar, sobretudo em duas áreas vitais para a humanidade: saúde e educação", pontuou Lula durante o discurso.
Esta é a primeira visita no atual mandato de Lula e a quarta viagem oficial do presidente brasileiro ao país, após as realizadas em 2003, 2008 e 2010. A iniciativa ocorre no marco da celebração do Cinquentenário da Independência de Moçambique e dos 50 anos de relações bilaterais.
Além do reforço das relações bilaterais, a reunião entre os dois presidentes também tratou de temas da agenda internacional, como Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), reforma do Conselho de Segurança das Nações Unidas, luta contra a pobreza e mudança do clima.
"É o momento oportuno para fazer um balanço da trajetória que percorremos até aqui. Para usar a palavra que dá título à obra de um grande moçambicano, Mia Couto, nossa amizade passou muito tempo sonâmbula", disse em referência ao romance Terra Sonâmbula, publicado por Couto em 1992.
O presidente brasileiro destacou também como o Brasil foi um dos primeiros países a reconhecer a independência de Moçambique, em 1975, mas que, décadas depois, "se perdeu por caminhos sombrios e, nesse processo, se esqueceu dos laços com a África". "Moçambique é um país em desenvolvimento que ainda possui lacunas de infraestrutura a suprir. Seu crescimento depende de portos, estradas, usinas e linhas de transmissão. O Brasil tem empresas dinâmicas com condições de contribuir", continuou.
"Estamos trabalhando para o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) recuperar a capacidade de financiar a internacionalização das empresas brasileiras. O fluxo de comércio que o Brasil mantém com Moçambique é muito menor do que com outros países de língua portuguesa. Injustificável para esses dois mercados tão familiares. Estamos investindo no Brasil no fortalecimento do nosso Complexo Industrial da Saúde. Isso nos permitirá participar novamente da produção de fármacos e medicamentos em Moçambique", seguiu o brasileiro.
Lula prometeu apoiar Moçambique com ações de segurança alimentar, educação técnica e cooperação agrícola por meio de órgãos federais.
O Brasil pode ajudar na segurança alimentar de Moçambique, usando tecnologia agrícola capaz de aumentar a produtividade da savana africana sem prejudicar o meio ambiente, de acordo com Lula. Além disso, o Ministério da Educação e a Agência Brasileira de Cooperação vão oferecer, em 2026:
- até 80 vagas para cursos de formação de formadores em ciências agrárias
- até 400 vagas para cursos técnicos em agropecuária voltados a colaboradores moçambicanos
Segundo o brasileiro, a Embrapa vai reforçar a capacitação com treinamentos presenciais e à distância para técnicos do país. Além disso, o governo brasileiro trabalha para incluir Moçambique na fase de implementação acelerada da Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, tratado multilateral elaborado pelo Governo Federal do Brasil e adotado em 2024.
No período dos 50 anos das relações bilaterais entre Brasil e Moçambique, os dois países atuaram de forma convergente em foros internacionais, posição mantida com o apoio moçambicano às iniciativas brasileiras na COP30.
"Queremos reiterar o nosso agradecimento a vossa excelência, senhor presidente (Lula), por ter aceito visitar Moçambique em resposta ao convite que os formulamos há cerca de 15 dias, apenas duas semanas, quando nos encontramos em Belém. Não há melhor forma de mostrar a sua estima e vosso empenho e compromisso em estreitar relações de amizade, solidariedade e cooperação existentes entre os dois povos e países", disse o líder moçambicano, se referindo a Lula como "irmão mais velho" em algumas ocasiões de seu discurso.
Chapo afirmou que, após a reunião com Lula, os presidentes acordaram em concentrar esforços nas áreas de transporte e logística, infraestrutura, e saúde, e, em especial, agricultura, já que "em Moçambique, ainda estamos com o desafio da segurança alimentar e sabemos muito bem que o nosso país-irmão, o Brasil, passou por isso, mas hoje o Brasil passou de um país importador para um país exportador e nós queremos essa experiência"; recursos minerais e energia, "principalmente na área de recursos minerais, hidrocarbonetos, a questão relacionada com a exploração do gás e a experiência que a Petrobras tem".
De acordo com o governo brasileiro, em 2024, a corrente de comércio bilateral Brasil-Moçambique totalizou US$ 40,5 milhões, aumento de 27% em relação ao mesmo período do ano anterior. As exportações brasileiras totalizaram US$ 37,8 milhões.