Análise: Jogo dos sete erros de Bolsonaro caros à democracia

Os ataques do presidente ao STF se baseiam em ações notadamente intencionais

13 jan 2022 - 05h10
(atualizado às 07h42)
Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino/File Photo/Reuters
Jair Bolsonaro - Ueslei Marcelino/File Photo/Reuters
Foto: Ueslei Marcelino / File Photo Reuters

O último episódio de ataques de Bolsonaro ao STF se baseia em ações notadamente intencionais. Mais parece um "jogo dos sete erros" caros à democracia. A saber:

Erro 1 - Bolsonaro nunca tem culpa de nada. Ele é sempre a vítima. Hoje perderia as eleições para Lula, mas a culpa é da relação entre ministros do STF e o petista. Desde 2020, Miguel Reale Jr. argumenta que o presidente tem problemas psiquiátricos.

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Erro 2 - A inflação de 2021 bateu dois dígitos, o crescimento do PIB 2022 deve ser zero, o desemprego assusta. No G-20, até novembro, apenas Argentina, Turquia e Brasil tinham inflação anual acima de 10%. Os ataques servem de cortina à realidade.

Erro 3 - A agenda do Executivo está mais judicializada que nunca. Ademais, a média de derrotas de Bolsonaro no STF é grande. Parte disso ocorre porque a oposição foi do Congresso para o Judiciário. Michel Temer, hábil nessa leitura, diz que com intensidade não se ganha o jogo. Mas o problema é alimentar fiéis até outubro. O candidato transcende o presidente.

Erro 4 - Trafegar no campo da justiça também é atacar Sérgio Moro. Vide o pronunciamento de 31/12, no qual o presidente insiste que não enfrenta casos de corrupção, e planta a ideia de que combate um Judiciário enviesado.

Erro 5 - A fixação de Bolsonaro pelo trio Lula, comunismo e PT é mais radical que a "tara pelas vacinas". A "Lei do Ex" é implacável. Nada como a incompetência do atual ocupante de um espaço para valorizar o anterior. Parte do eleitorado cita Lula porque, como governante, o atual presidente é mal avaliado por mais de 50% dos brasileiros e, como candidato, rejeitado por 60% dos eleitores.

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Erro 6 - Os ataques ao STF colocam um pré-candidato com chances de derrota na condição de potencial vítima - apesar de haver tempo até as eleições. Bolsonaro aposta que ser contra-atacado pelo STF lhe dará essa posição aos olhos dos radicais. Se em 2018 foi eleito via antipolítica e vitimização pós-atentado, agora que não pode ser contra a política, tenta dar nova roupagem à ideia de vítima. Isso torna o cenário instável e, se não resultar em improváveis rupturas, lhe dará palanque para gritar contra a eleição.

Erro 7 - Este último erro é fácil: está sentado no Planalto. Se não encontrar, procure motos, lanchas e jet skis desde janeiro de 2019.

*CIENTISTA POLÍTICO E COORDENADOR DA PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA DA FESP-SP

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