A defesa do advogado e policial militar reformado Mizael Bispo de Souza, 43 anos - acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima, 28 anos, em maio de 2010 - apelou aos jurados que estes votassem levando em conta apenas o que ouviram em plenário, e não quase três anos que separam o júri do crime. O advogado Ivon Ribeiro chegou a comparar o réu a Tiradentes, enforcado em 1789 após a Inconfidência Mineira. "Você também pode ser chamado de Tiradentes. Todo mundo quer a sua cabeça. Vamos logo enforcar esse infeliz", disse ele. Mais adiante, sugeriu que o réu está colocado contra o paredão.
Mizael acompanhou toda a fala da defesa de cabeça baixa e um lenço branco na mão. Em vários momentos, ele abriu o lenço sobre o rosto e limpou os olhos, num gesto de choro. O advogado disse ainda que acusação sem provas é nada. "Não há uma prova contundente que apontasse que o réu cometeu o crime que é imputado a ele. Foram três anos de falácia, em que nada de concreto foi levantado contra ele. Não conseguiram sequer trazer uma prova."
Ribeiro questionou os laudos periciais que compararam as algas encontradas nos sapatos de Mizael àquelas que vivem na represa de Nazaré Paulista, local onde o corpo de Mércia foi encontrado, além do relatório sobre a quebra de sigilo telefônico do réu. "Apresentaram aqui contas fantasiosas. Apresentaram um monte de dados que eu não entendi nada. Pelo que eu sei, é uma ciência de probabilidade. Tentaram dar uma credibilidade a algo que não é exato", disse ele.
O advogado disse ainda que tentaram mudar o horário do crime. "Foi declarada uma mentira nesse tribunal. Depois reclamam de mensalão. Se quebrassem o sigilo telefônico de algumas pessoas que passaram aqui... Sem a famigerada prova, não dá para condenar", disse ele.
Publicidade
Em outro trecho, o colega de Ribeiro, o assistente da defesa Samir Haddad Júnior, disse que a imprensa condena e absolve uma pessoa assim como o poder judiciário, e que não há provas robustas contra ele. Aos jurados, foi dito que se mobilizou um exército de testemunhas contra Mizael e que houve sensacionalismo no tratamento do caso.
Ele apelou ainda para o emocional: "sou marcado na rua como advogado do Mizael. Eu sei que defendo um inocente. Ele (Mizael) foi chamado de assassino, mentiroso, covarde. Querem espezinhar, pisar quem está na lama".
Aos jurados, o advogado lembrou que o réu nunca confessou o crime. "Nem para advogado, nem para a família, nem para ninguém. Há um risco de ele ser inocente", disse, lembrando que a dúvida deve ser a favor do réu.
E completou: "tenho mil por cento de certeza que não foi ele. Tenho certeza absoluta que não foi Mizael. Passarinho não quer ficar preso nem em gaiola de ouro", afirmou.
Publicidade
O caso
A advogada Mércia Nakashima, 28 anos, desapareceu no dia 23 de maio de 2010, após deixar a casa dos avós em Guarulhos (Grande São Paulo), e foi encontrada morta no dia 11 de junho, em uma represa em Nazaré Paulista, no interior de São Paulo. A perícia apontou que ela levou um tiro no rosto, um tiro no braço esquerdo e outro na mão direita, mas morreu por afogamento quando seu carro foi empurrado para a água.
Delegado responde acusações do advogado de defesa de Mizael
Video Player
O ex-namorado de Mércia, o policial militar reformado e advogado Mizael Bispo de Souza, 43 anos, foi apontado como principal suspeito pelo crime e denunciado por homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, emprego de meio cruel e mediante recurso que dificultou a defesa da vítima. De acordo com a investigação, Mércia namorou durante cerca de quatro anos com Mizael, que não se conformava com o fim do relacionamento amoroso. A Promotoria também denunciou o vigia Evandro Bezerra Silva, que teria o ajudado a fugir do local, mas seu julgamento ocorrerá separadamente, em julho deste ano.
Preso em Sergipe dias depois da morte de Mércia, Evandro afirmou ter ajudado Mizael a fugir, mas alegou posteriormente que foi obrigado a confessar a participação no crime, sob tortura. Entretanto, rastreamento de chamadas telefônicas feito pela polícia com autorização da Justiça colocaram os dois na cena do crime, de acordo com as investigações. Outra prova que será usada pela promotoria é um laudo pericial de um sapato de Mizael, no qual foram encontrados vestígio de sangue, partículas ósseas, vestígios do projétil da arma de fogo e uma alga típica de áreas de represa.
Publicidade
Mizael teve sua prisão decretada pela Justiça em dezembro de 2010, mas se escondeu após considerar a prisão "arbitrária e injusta", ficando foragido por mais de um ano. Em fevereiro de 2012, porém, ele se entregou à Justiça de Guarulhos e, desde então, aguardava ao julgamento no Presídio Militar de Romão Gomes - enquanto o vigia permanece preso na Penitenciária de Tremembé. Mizael nega ter assassinado Mércia e disse, na ocasião, que a tratava como "uma rainha". Já o vigia afirmou, em depoimento, que não sabia das intenções do advogado e que apenas lhe deu uma carona. Se condenados, eles podem ficar presos por até 30 anos.
1 de 38
11 de março - Mizael aguarda o início de seu julgamento pela morte da ex-namorada Mércia
Foto: Fernando Borges
2 de 38
11 de março O réu, Mizael Bispo, chega ao Fórum de Guarulhos escoltado em viatura da PM
Foto: Fernando Borges
3 de 38
11 de março Carros da Polícia Militar transportaram Mizael, que é policial reformado
Foto: Fernando Borges
4 de 38
11 de março Mizael será julgado pelo assassinato da ex-namorada, Mércia Nakashima
Foto: Fernando Borges
5 de 38
11 de março Adão, irmão de Mizael, chega ao Fórum para assistir ao julgamento
Foto: Fernando Borges
6 de 38
11 de março O irmão do réu responde a perguntas de repórteres
Foto: Fernando Borges
7 de 38
11 de março Janete Ferreira de Carvalho Nakashima (dir.), mãe de Mércia, chega para assistir ao júri
Foto: Fernando Borges
8 de 38
11 de março Familiares de Mércia chegam ao Fórum de Guarulhos
Foto: Fernando Borges
9 de 38
11 de março Makoto Nakashima, pai de Mércia, conversa com repórteres
Foto: Fernando Borges
10 de 38
11 de março O pai da vítima chega ao Fórum de Guarulhos
Foto: Fernando Borges
11 de 38
11 de março Márcio Nakashima, irmão de Mércia, chega para acompanhar o julgamento
Foto: Fernando Borges
12 de 38
11 de março Pessoas protestam pela absolvição de Mizael
Foto: Fernando Borges
13 de 38
11 de março Manifestantes seguram faixas alegando que o réu é inocente
Foto: Fernando Borges
14 de 38
11 de março O delegado Antonio de Olim conversa com repórteres em frente ao Fórum
Foto: Fernando Borges
15 de 38
11 de março Repórteres aguardam o início do julgamento de Mizael Bispo de Souza no Fórum Criminal de Guarulhos
Foto: Fernando Borges
16 de 38
11 de março O ex-policial militar é acusado do homicídio da ex-namorada, Mércia Nakashima
Foto: Fernando Borges
17 de 38
12 de março - Acusado da morte da ex-namorada Mércia, Mizael entrou pelos fundos no Fórum de Guarulhos
Foto: Marcos Bezerra
18 de 38
12 de março - Advogado Wagner Aparecido Garcia é um dos três defensores de Mizael
Foto: Marcos Bezerra
19 de 38
12 de março - Mizael chega escoltado pela polícia para o segundo dia de seu julgamento no Fórum de Guarulhos
Foto: Marcos Bezerra
20 de 38
12 de março - Advogado Ivon Ribeiro considerou o primeiro dia de julgamento favorável ao seu cliente Mizael
Foto: Marcos Bezerra
21 de 38
12 de março - Prima de Mércia, Solange faz protesto do lado de fora do Fórum de Guarulhos
Foto: Marcos Bezerra
22 de 38
12 de março - Advogado Aryldo de Paula defende o acusado de ser cúmplice de Mizael, o vigia Evandro Bezerra, Aryldo de Paula
Foto: Marcos Bezerra
23 de 38
12 de março - Mãe de Mércia Nakashima, Janete Ferreira de Carvalho Nakashima chega para acompanhar o julgamento
Foto: Marcos Bezerra
24 de 38
12 de março - Assistente de acusação, Alexandre de Sá Domingues acredita que conseguirão provar a culpa de Mizael
Foto: Marcos Bezerra
25 de 38
12 de março - Imão de Mizael, Adão Noe Bispo de Souza chega para acompanhar o segundo dia de julgamento
Foto: Marcos Bezerra
26 de 38
13 de março - O advogado e policial militar reformado, Mizael Bispo, acusado de matar a ex-namorada Mércia Nakashima, chega para o terceiro dia de seu julgamento no Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo
Foto: Marcos Bezerra
27 de 38
13 de março - Julgamento de Mizael Bispo ocorre no Fórum Criminal de Guarulhos, na Grande São Paulo
Foto: Marcos Bezerra
28 de 38
13 de março - Protesto de familiares e amigos de Mércia durante julgamento do advogado e policial militar reformado, Mizael Bispo
Foto: Marcos Bezerra
29 de 38
14 de março - Mizael Bispo, acusado de matar Mércia Nakashima, chega para o quarto dia de seu julgamento no Fórum de Guarulhos
Foto: Marcos Bezerra
30 de 38
14 de março - Sentença de Mizael Bispo, acusado de matar Mércia Nakashima, deve sair nesta quinta-feira
Foto: Marcos Bezerra
31 de 38
14 de março - Família de Mércia chega para o que deve ser o último dia do julgamento de Mizael Bispo, acusado de a advogada, sua ex-namorada
Foto: Marcos Bezerra
32 de 38
14 de março - Márcio Nakashima, irmão de Mércia, chega ao fórum de Guarulhos para o quarto dia de julgamento de Mizael
Foto: Fernando Borges
33 de 38
14 de março - Irmão de Mércia afirma que Mizael se compara a Jesus Cristo
Foto: Fernando Borges
34 de 38
14 de março - Após ser condenado a 20 anos de prisão, Mizael deixa o fórum de Guarulhos escoltado
Foto: Fernando Borges
35 de 38
14 de março - Após ser condenado a 20 anos de prisão, Mizael deixa o fórum de Guarulhos escoltado
Foto: Fernando Borges
36 de 38
14 de março - Após ser condenado a 20 anos de prisão, Mizael deixa o fórum de Guarulhos escoltado
Foto: Fernando Borges
37 de 38
14 de março - Após ser condenado a 20 anos de prisão, Mizael deixa o fórum de Guarulhos escoltado
Foto: Fernando Borges
38 de 38
14 de março - Após ser condenado a 20 anos de prisão, Mizael deixa o fórum de Guarulhos escoltado