O encontro marca o encerramento da presidência rotativa brasileira no bloco. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixa o comando do Mercosul com o acordo de livre comércio com a UE, cuja assinatura estava prevista para este sábado, pendente.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e a maioria dos países europeus também esperavam esse desfecho. No entanto, a assinatura foi adiada devido a protestos de agricultores europeus, principalmente na França e na Itália.
Apesar disso, von der Leyen expressou confiança de que a assinatura em janeiro será possível. Uma fonte da Comissão Europeia e dois diplomatas indicaram que a nova data prevista é 12 de janeiro, no Paraguai.
Negociado por mais de 25 anos, o acordo UE-Mercosul visa criar a maior área de livre comércio do mundo. Ele permitiria que os europeus exportassem mais veículos, máquinas, vinhos e bebidas alcoólicas para a América do Sul. Por outro lado, facilitaria a entrada de carne, açúcar, arroz, mel e soja sul-americanos na Europa.
Mas a facilitação da entrada de produtos sul-americanos preocupa agricultores. A FNSEA, maior sindicato de agricultores da França, convocou seus membros a permanecerem mobilizados apesar do adiamento.
O governo alemão, um dos maiores defensores do tratado, declarou na sexta-feira que sua assinatura já está garantida. "O chanceler Friedrich Merz está muito satisfeito, porque a questão não é mais 'se' (o acordo será assinado), mas 'quando' ele será assinado", disse o porta-voz adjunto do governo, Sebastian Hille, em coletiva de imprensa.
Paciência
Na quinta-feira, Lula afirmou em coletiva que a primeira-ministra italiana, Giorgia Meloni, lhe pediu "paciência" durante uma conversa telefônica, assegurando que seu país apoiaria o acordo.
Na quarta-feira, Lula havia emitido uma espécie de ultimato, afirmando que, se o acordo não fosse assinado "agora", não seria durante seu mandato, que termina no final de 2026. Depois, relativizou suas declarações.
"Se não for possível assinar agora porque eles não estão prontos, não há nada que eu possa fazer", lamentou, enfatizando que a assinatura do acordo seria "importante para a defesa do multilateralismo".
O presidente francês, Emmanuel Macron, declarou na noite de quinta-feira que era "cedo demais" para dizer se aceitaria a assinatura em janeiro. "Espero que sim, porque significa que teremos feito progressos, alguns deles históricos", acrescentou.
Protestos e tensões políticas
Na sexta-feira, dezenas de agricultores protestaram em frente à residência de veraneio de Macron, em Le Touquet, no norte da França, despejando toneladas de esterco, pneus e galhos na entrada.
"Cláusulas de salvaguarda" estão incluídas no acordo em caso de desestabilização dos mercados agrícolas, mas "na opinião pública francesa, há coisas que desafiam a racionalidade e que estão impedindo a assinatura", afirmou uma fonte do governo brasileiro.
A reunião do Mercosul, que começa na sexta-feira com uma reunião ministerial antes da cúpula de chefes de Estado no sábado, será marcada pela presença do presidente argentino, o ultraliberal Javier Milei, cujas visões políticas são diametralmente opostas às de Lula.
Essas diferenças foram exacerbadas esta semana por uma publicação controversa de Milei no Instagram: um mapa da América do Sul que retratava o Brasil e outros países de esquerda como uma vasta favela.
Com AFP