Mais de 200 mil pessoas desaparecem por ano no Brasil

2 mar 2009 - 03h36

Mais de 200 mil pessoas desaparecem no Brasil anualmente ¿ 40 mil são crianças e adolescentes. Deste total, de 10% a 15% jamais retornam para seus lares. Os números são da Associação Brasileira de Busca e Defesa das Crianças Desaparecidas (ABCD) e, de acordo com Ivanise Santos, presidente da entidade, o perfil dos desaparecidos envolve menores de origem pobre, de pele clara e muito bem afeiçoados, mas sem faixa etária definida.

Mãe de uma menina desaparecida há 13 anos, Ivanise acredita que o número de pessoas desaparecidas pode ser ainda maior, sobretudo nas regiões Norte e Nordeste, onde existem famílias que por desconhecimento não procuram uma delegacia para registrar o desaparecimento de um parente.

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¿Outro dia, recebi uma mãe cujo filho estava desaparecido há 30 dias e ela não tinha feito o boletim de ocorrência. Ela começou a procurar o filho pelos hospitais e ruas mas não sabia que tinha que ir à delegacia. É raro, mas ainda acontece¿, conta.

Segundo Ivanise, as autoridades brasileiras ainda deixam de cumprir o que é previsto em lei para os casos de desaparecimento. Ela acredita que o sumiço de uma pessoa é visto, na maioria das vezes, apenas como mais um número que alimenta as estatísticas. A Lei 11.259/06 prevê que toda delegacia, ao registrar uma ocorrência de criança ou adolescente desaparecido, deve começar uma busca imediata, além de acionar aeroportos, portos e terminais rodoviários.

¿A polícia não pode alegar o desconhecimento da lei. Nossa Constituição é bem clara quando diz que a criança e o adolescente são responsabilidade da família, do Estado e da sociedade. Há um descaso e um abandono muito grande¿, critica a presidente da ABCD.

Apesar do desaparecimento de uma pessoa em si não ser enquadrado como crime, Ivanise alertou que há relatos de crianças e adolescentes desaparecidos ligados ao tráfico de órgãos, de pessoas, de drogas e também à adoção ilegal e à exploração sexual. As circunstâncias em que ocorre o desaparecimento, segundo ela, são similares na maioria dos casos e demandam atenção por parte dos responsáveis: crianças e adolescentes geralmente desaparecem enquanto brincam na porta de casa, quando fazem o percurso de ida ou de volta da escola ou quando saem para fazer compras em estabelecimentos comerciais próximos de onde moram.

¿A prevenção é primordial e a criança, atualmente, é muito inteligente. Se você conscientizar o seu filho dos perigos que corre, ele não desaparece. São coisas simples como ensinar o número do telefone e o endereço de casa, o nome do pai e da mãe, ensinar a não dar informações para qualquer pessoa estranha que se aproxime dele oferecendo uma bala ou um brinquedo. Procure saber quem são os amigos do seu filho e nunca deixe ele sair de casa desacompanhado¿, orienta.

Ivanise lembra que a primeira providência a ser tomada, caso um menor desaparecido seja identificado, é entrar em contato com o serviço de Disque-Denúncia local ou mesmo para o 190. Ela destaca que a pessoa não precisa se identificar, mas apenas ter a consciência de que aquela criança ou adolescente tem uma família à procura dela.

A associação, também conhecida como Mães da Sé, realiza nesta segunda-feira um ato nas escadarias da Praça da Sé, em São Paulo. Mães de crianças e adolescentes desaparecidos farão uma manifestação silenciosa segurando fotos de seus filhos nas escadarias da catedral.

A Catedral da Sé recebeu uma iluminação especial para o protesto. Luzes cor de rosa destacarão as paredes da fachada no final da tarde. A intenção do ato é alertar população sobre o drama que afeta centenas de milhares de famílias brasileiras. No ano passado, apenas na cidade de São Paulo, foram registrados cerca de 1,5 mil casos novos de desaparecimento.

Está prevista, também, a celebração de uma missa em homenagem a todas as mulheres que enfrentam esse drama, além da apresentação do Coral Vozes da Catedral de São Paulo e São Gonçalo. A Associação Paulista de Medicina disponibilizará em seu endereço eletrônico na internet um link para o site das ABCD/Mães da Sé, para que profissionais de medicina e a população tenham acesso às fotos das crianças desaparecidas e possam ajudar na localização.

Jornal do Brasil
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