Profissionais LGBTQIAPN+ recebem 12% a menos, diz pesquisa

Para o especialista em Sexualidade e Gênero de uma startup de equidade econômica, Felipe Batistão, é preciso ir além de boas intenções

6 jul 2025 - 04h59
(atualizado em 7/7/2025 às 15h58)
Pré-candidaturas de pessoas LGBT+ à eleição municipal já são 299
Pré-candidaturas de pessoas LGBT+ à eleição municipal já são 299
Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Mesmo com o avanço de políticas de diversidade e inclusão, profissionais LGBTQIAPN+ continuam enfrentando um abismo salarial em relação a colegas heterossexuais que ocupam os mesmos cargos e desempenham funções equivalentes. É o que mostra o levantamento Panorama da População LGBTQIAPN+ no Mercado de Trabalho Brasileiro, realizado pela consultoria Diversiteral, que analisou dados de mais de 55 empresas de médio e grande porte no País. A diferença média é de 12%.

Para Felipe Batistão, especialista em Sexualidade e Gênero da Diversitera, startup especializada em promover equidade social e econômica dentro das organizações, a disparidade salarial é apenas o resultado visível de um processo mais profundo, marcado por obstáculos que começam ainda na porta de entrada do mercado de trabalho e se perpetuam ao longo da trajetória profissional.

Publicidade

"O preconceito não se mostra somente por meio de insultos ou agressões diretas. Como parte de um repertório cultural estruturante da sociedade, muitas vezes, é expresso de forma insidiosa, nas pequenas decisões que determinam quem recebe uma oferta melhor, quem ganha aumento e quem avança na carreira, mesmo quando todo mundo faz o mesmo trabalho, com a mesma qualificação e tempo de experiência", afirma.

Entre os principais fatores que ajudam a explicar essa diferença de remuneração, estão questões estruturais que envolvem desde o recrutamento até a ausência de redes de apoio. 

Baixa presença em cargos de liderança

Embora pessoas LGBTQIAPN+ representem 10,1% da força de trabalho ocupada no Brasil, só 6,1% chegam a cargos de gerência e só 4,9% alcançam posições executivas. Para Batistão, essa falta de representatividade reforça barreiras e dificulta a promoção de políticas mais inclusivas dentro das organizações.

"Sem referenciais LGBTQIAPN+ no topo das organizações, as barreiras estruturais e os preconceitos tendem a se manter preservados, dificultando o acesso a oportunidades e a negociações justas", explica. 

Publicidade

Propostas iniciais mais baixas e viés de contratação

O estudo também revelou que profissionais LGBTQIAPN+ costumam receber ofertas salariais iniciais menores. Isso é reforçado por estereótipos sobre "adequação cultural" que ainda dominam parte dos processos seletivos, influenciando negativamente a percepção sobre o potencial desses profissionais.

"Recrutadores e gestores, consciente ou inconscientemente, frequentemente baseiam suas decisões em estereótipos relacionados à ‘adequação cultural', o que acaba desvalorizando as qualificações reais dessas pessoas", afirma Batistão. "Idealmente, a pergunta de pretensão salarial não deveria existir e sim se basear num estudo de paridade de cargos e salários."

Dificuldades na hora de negociar

O receio de julgamento ou retaliações também impacta a forma como profissionais LGBTQIAPN+ lidam com negociações. Segundo a pesquisa, 27% não se sentem à vontade para revelar sua orientação sexual ou identidade de gênero no trabalho, o que acaba refletindo na hora de pleitear promoções ou aumentos.

Redes de influência restritas

A exclusão de círculos informais de influência é mais um impedimento para o avanço dessas pessoas no ambiente corporativo. A ausência de líderes aliados ou referências próximas compromete o acesso a cargos mais altos, muitas vezes ocupados por indicação.

Publicidade

"Quando observamos o mundo do trabalho, encontramos mais um retrato das experiências de marginalização das LGBTQIAPN+. A fotografia que temos hoje denuncia limites que precisam ser transpostos. Do contrário, seguiremos com profissionais de excelência, mas com menos oportunidades de visibilidade e apoio para avançar na carreira", alerta Batistão. 

Silenciamento e desgaste emocional

A necessidade de omitir parte da identidade para evitar discriminação gera estresse contínuo e compromete o bem-estar no ambiente profissional. Isso também impacta a percepção de engajamento e confiança, fatores que costumam pesar na hora de decisões sobre bônus ou promoções.

Caminhos para mudança

Para reverter esse cenário, o especialista destaca que as empresas precisam ir além das boas intenções e adotar práticas concretas de enfrentamento às desigualdades.

"É essencial que as empresas façam auditorias salariais periódicas e tornem transparente a política de cargos e salários, evitando práticas que perpetuem desigualdades históricas", orienta. "Também é importante revisar critérios de promoção e bonificação com atenção aos impactos socioculturais sobre a performance, além de criar programas de aceleração de carreira com mentoria e bolsas de formação. Por fim, investir em uma cultura de responsabilização, com metas e indicadores claros, é fundamental para garantir avanços reais em diversidade e inclusão."

Publicidade
Fonte: Redação Terra
Curtiu? Fique por dentro das principais notícias através do nosso ZAP
Inscreva-se