Quem tem medo de reações como a da Giovanna Ewbank?

É plausível pensar que a compaixão pela racista existe pelo medo de que amanhã possam estar no lugar dela

12 ago 2022 - 10h17
(atualizado às 10h26)
Se você conhece pessoas com a tendência de criticar a reação do oprimido, mas que nunca abriu a boca para criticar opressores, fique em alerta.
Se você conhece pessoas com a tendência de criticar a reação do oprimido, mas que nunca abriu a boca para criticar opressores, fique em alerta.
Foto: Popline

Provavelmente todas e todos aqui viram o caso em que Titi e Bless, filhos da Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso, sofreram racismo de uma mulher em Portugal. A mãe reagiu da melhor forma possível, colocou a racista no lugar dela e defendeu suas crianças como tem que ser. 

O que ocorreu nessa semana é que a apresentadora Karina Bacchi, causou polêmica durante uma entrevista em seu podcast, onde ela criticou a atitude de Giovanna Ewbank, no episódio em que a também apresentadora, defendeu os filhos. Ela disse: “Eu concordo que a gente tem que defender os nossos filhos, mas eu não acredito que a defesa esteja em cuspir, em xingar, em bater, em agredir”. Em outro momento Bacchi diz “Daqui a pouco a gente olhou de lado, a gente leva uma cuspida porque acharam que eu olhei com o olhar meio torto…”. Após ler isso veio a frase que dá nome a coluna. O que não quer dizer que seja o caso dela.

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Eu sempre me coloco no lugar do outro, e esse é um exercício que eu faço com frequência. Na própria situação da Gioh eu me coloquei no lugar dela, já que sou pai, e me coloquei ainda mais no lugar da família angolana, porque além de serem pretos, tinham familiares sofrendo racismo, eram estrangeiros e sabiam que qualquer reação poderia ser muito prejudicial a eles. Outras pessoas, provavelmente, já tenham feito o mesmo exercício, mas com um resultado distinto. Isso talvez se der devido à identidade. Como disse acima, eu sou homem preto, pai com filho negro, seria estrangeiro em Portugal, sou antirracista, logo busquei a identificação com as pessoas que no fato tem mais proximidade comigo. Quem tem outras identidades irão refletir e pode se colocar no local de outras pessoas dentro dessa mesma narrativa.

Só para explicar que, de forma ampla, identidade é aquilo que se relaciona com o conjunto de entendimentos que uma pessoa possui sobre si mesma e sobre tudo aquilo que lhe é significativo.

Me causa estranheza profunda quando as pessoas criticam a vítima, e quando isso ocorria eu ia refletir sobre a fala e sobre quem a dizia. Por exemplo, se um homem tenta passar pano para um assédio usando a vestimenta da mulher como justificativa, ele tá se colocando em que lugar? Quando o padre franciscano Bernard Groeschel escreveu um artigo dizendo que crianças e jovens são culpados por “seduzir” pedófilos, a quem ele estava querendo defender? Até quando iremos priorizar a fala do opressor e não a do oprimido?

Eu não sei se é o caso da Karina, mas sempre que vejo alguém criticando a reação do oprimido, e não o ato criminoso do opressor, eu penso que essa pessoa está com medo de amanhã ou depois ser ela no lugar do opressor. Até porque, no caso da Gioh, não só tinha a defesa pontual dos filhos, mas tinha a defesa estrutural: ela sabe, por ter filhos negros, que aquele crime racista e xenofóbico é um dos pilares que validam a violência e morte de pessoas pretas.

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Se você conhece pessoas com a tendência de criticar a reação do oprimido, mas que nunca abriu a boca para criticar opressores, fique em alerta. Quem aplaude reações amenas e pacíficas em casos de racismo é porque, possivelmente, quer ser tratado dessa mesma maneira quando estiver falando seus absurdos disfarçados de liberdade de expressão.

Fonte: Redação Nós
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