Católicas e evangélicas reforçam luta pela legalização do aborto

"Católicas pelo Direito de Decidir" e "Frente Evangélica pela Legalização do Aborto' são exemplos de luta por direitos e feminismo cristão.

3 nov 2022 - 05h00
Católicas pelo Direito de Decidir é uma organização criada nos anos 90, para garantir a laicidade do Estado em temas sensíveis.
Católicas pelo Direito de Decidir é uma organização criada nos anos 90, para garantir a laicidade do Estado em temas sensíveis.
Foto: Divulgação

O tema “aborto’ voltou a ganhar repercussão e ser alvo de informações falsas durante o segundo turno das eleições presidenciais. Os dois candidatos, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se colocam “contra o aborto”, embora o segundo defenda que esta é uma questão de saúde pública, que deve ser debatida em sociedade. A pauta, amplificada pelo tom conservador de Bolsonaro, é uma forma de atrair votos de religiosos, em especial da comunidade evangélica, o que coloca o aborto como o grande vilão, ignorando as mortes de mulheres provocadas por procedimentos inseguros. No entanto, grupos organizados dentro das instituições religiosas, já defendem que a legalização do aborto não impede ou prejudica a vida cristã, e que o tema deve ser tratado no âmbito social e não religioso. 

Só entre os dias 1º e 24 de outubro, Jair Bolsonaro (PL) abortou o tema “aborto” 25 vezes em discursos, entrevistas, lives ou propaganda eleitoral. Já Jair Bolsonaro (PL) citou o assunto em 10 falas públicas. Os dados são do  Banco de Discursos, ferramenta de inteligência artificial de transcrições automáticas de declarações dadas pelos principais candidatos à Presidência da República na campanha de 2022, da agência de checagem Aos Fatos

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“Vivemos num país conservador. E é muito prejudicial quando um candidato tem que se manifestar dizendo que é contra o aborto para poder continuar na disputa. Porque essa visão vai contra absolutamente a realidade de quem vota, que são as mulheres. O aborto, sobretudo o inseguro, é uma realidade não só da mulher, mas das famílias brasileiras, adeptas à religião. Isso porque a maioria dos abortos clandestinos feitos hoje,são de mulheres que já tiveram filhos anteriormente”, explicou Maria José Rosado, co-fundadora da organização Católicas pelo Direito de Decidir. 

A organização foi criada em 1993, e também tem como objetivo lutar pela laicidade do Estado, que, para elas, deve ser livre da interferência religiosa na criação e condução das políticas públicas.“ Fazemos a defesa incondicional da laicidade do Estado. Para nós, deve  haver absoluta separação entre Estado e religião. O reconhecimento de que uma parte da população brasileira se refere a uma fé religiosa para definir os horizontes da sua vida, não significa que a religião deva invadir a política. O Estado, pela sua Constituição, respeita todas as religiões, mas não se pauta por nenhuma. Portanto é inconstitucional todo esse discurso, de que a nação é cristã e que o governo tem que seguir pautas cristãs. As pessoas são livres para escolher sua fé ou nenhuma fé, mas o Estado é laico. Defender isso é fundamental neste momento”, destaca. 

O tema “aborto”, que tem sido pautado ultimamente a partir da ótima cristã, deve ser discutido do ponto de vista cidadão, social e de saúde pública. “O discurso conservador afeta diretamente a vida das mulheres porque, na prática, significa menos recurso público para trabalhar com essa pauta. Há uma retirada ou diminuição significativa de recursos do SUS para realização de abortos legais, e se diminui o investimento político para discutir o trma abertamente e gerar informação de qualidade. Isso traz um risco real à vida das mulheres”. Para Maria, há condição de defender a legalização do aborto a partir dos preceitos religiosos. “Nós recorremos a própria tradição cristã para defender que é possível ser a favor da legalização do aborto, sem deixar de ser uma pessoa cristã. Dentro da religião, existem diferentes camadas de influência nas decisões pessoais que tomamos. A última instância dessa decisão é a própria consciência”.

"Quando você traz a pauta de costumes, fala que um candidato é a favor do aborto, fala que um candidato vai colocar banheiro unissex nas escolas, fala essa bobeira toda, essas fake news de grupos de WhatsApp, você não discute as grandes questões do país", diz Simões
Foto: Getty Images / BBC News Brasil

Frentes evangélicas

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Movimentos de mulheres evangélicas também reforçam a defesa dos direitos constitucionais e civis das mulheres. A Evangélicas pela Igualdade de Gênero (EIG), fundada em maio de 2015, é uma delas. A organização foi criada durante o Fórum Pentecostal Latino-Caribenho (FPLC), tendo como pretensão de iniciar todo e qualquer trabalho, juntamente com as mulheres protestantes, em especial, as pentecostais e neo pentecostais, discutindo a violência contra a mulher, no espaço doméstico, no trabalho e dentro das igrejas. Sobre o aborto, uma das co-fundadoras defende que “É pecado, Deus condena e ponto. Mas não imponha a toda uma sociedade que está preocupada em combater a alta mortalidade de mulheres, especialmente negras e pobres que morrem ao tentar fazer aborto clandestino. Crença é para ser vivida e não para ser imposta em uma sociedade legalmente laica”, diz. A organização 

A Frente Evangélica pela Legalização do Aborto também está a frente na luta pela legalização do aborto. A organização, inclusive, trabalha ativamente em parceria com grupos organizados de outras religiões. “Igrejas fundamentalistas têm escolhido 'cumprir a lei' e apedrejar ao invés de questionar a lei e impedir os apedrejamentos como Cristo fez’, defendem. 

Fonte: Redação Nós
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