A gamificação evoluiu de uma estratégia básica para engajar, baseada em pontos e rankings, para experiências personalizadas e estratégicas, impulsionadas por inteligência artificial e dados, transformando tarefas em conquistas significativas no trabalho e na vida pessoal.
Imagine um corredor amador saindo para treinar numa manhã de terça-feira. Ele abre seu aplicativo, define uma meta, acompanha o desempenho em tempo real e, ao final, recebe uma mensagem de incentivo e vê seu progresso no ranking de um desafio semanal. Pequenos gestos digitais, mas que o fazem calçar o tênis novamente no dia seguinte.
Essa é a força da gamificação quando bem aplicada: transformar tarefas repetitivas em experiências envolventes e cheias de significado. E isso vai muito além de treinamentos. Hoje, a gamificação está presente em diferentes áreas do universo corporativo como: vendas, atendimento ao cliente, gestão de projetos, comunicação interna e até no acompanhamento de metas individuais. No cotidiano, ela também aparece na organização de finanças pessoais, no controle de hábitos, cuidados com a saúde, redes sociais, entre outras áreas.
Indo além do "extra divertido"
No início, gamificação era quase sinônimo de pontos, medalhas e rankings. Empresas e plataformas usavam esses elementos para gerar engajamento rápido e estimular competição saudável. Funcionava, mas tinha prazo de validade: com o tempo, o efeito novidade se perdia. Faltava conexão real entre a mecânica do jogo e os objetivos desejados.
A segunda onda veio com a popularização dos dispositivos móveis. As experiências se tornaram dinâmicas e personalizadas, incorporando narrativas, feedback instantâneo e interações sociais. Gamificação deixou de ser um "extra divertido" e passou a se integrar a processos estratégicos, apoiando desde o desenvolvimento de competências até o alcance de metas operacionais e comportamentais.
Hoje, vivemos uma terceira fase, marcada pela inteligência artificial e pelo uso de dados. Plataformas já conseguem identificar padrões de comportamento, prever dificuldades e oferecer desafios sob medida. O jogo deixa de ser apenas um motivador e passa a atuar como guia para o desempenho contínuo, tanto no trabalho quanto em atividades pessoais.
Da quilometragem à comunidade global
O caso Nike+ Run Club ilustra bem essa evolução. O aplicativo não se limita a registrar quilometragem: cria metas personalizadas, conecta corredores de todo o mundo e oferece recompensas digitais que estimulam consistência. Ao combinar dados, narrativa e comunidade, a Nike transformou a corrida — uma prática individual — numa experiência social e motivadora. Essa lógica se aplica igualmente ao ambiente corporativo e ao dia a dia: qualquer rotina, de atingir metas de vendas a manter hábitos saudáveis, pode se tornar mais envolvente e eficaz quando gamificada.
Olhando para trás, percebemos que as tendências não desaparecem; elas se transformam. Rankings e pontos ainda têm valor, mas agora estão inseridos em ecossistemas mais ricos. Elementos narrativos se combinam com análise de dados e mecânicas de colaboração equilibram a competição individual.
Para líderes, profissionais de diferentes áreas e até para quem busca melhorar seu cotidiano, a lição é clara: não basta adotar a tecnologia mais recente pelo "fator novidade". É preciso construir experiências que unam propósito, motivação e resultado.
O futuro da gamificação aponta para personalização em tempo real e experiências híbridas entre o digital e o presencial. Mas, como o Nike+ nos mostra, a tecnologia só cumpre seu papel quando transforma esforço em jornada — e jornada em conquista.
(*) Danilo Parise é CEO e cofundador da Ludos Pro, plataforma de treinamentos gamificados e uma das principais edtechs da América Latina.