Shuffle Tactics chama a atenção pela proposta, mas escorrega na repetição

RPG tático com cartas aposta em boas ideias, mas tropeça na repetição e no desequilíbrio

3 jul 2025 - 08h59
Shuffle Tactics chama atenção pela proposta, mas escorrega na repetição
Shuffle Tactics chama atenção pela proposta, mas escorrega na repetição
Foto: Reprodução / The Arcade Crew

Jogos táticos com estética retrô continuam surgindo com frequência no cenário independente, mas nem todos conseguem encontrar identidade própria dentro de um gênero já bem explorado. Shuffle Tactics parece, à primeira vista, mais um título seguindo essa linha: um reino amaldiçoado, batalhas por turno e heróis carismáticos.

O que muda o ritmo é a forma como o jogo estrutura seu sistema de combate em torno de cartas, obrigando o jogador a repensar estratégias a cada rodada. A ideia é sólida e traz frescor à fórmula, mas tropeça na execução quando repetição e desequilíbrio começam a pesar. Ainda assim, há algo de curioso na insistência do jogo em te forçar a aprender errando — e nisso, ele acaba se destacando.

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Um reino amaldiçoado 

A história gira em torno da maldição que assola o reino de Asteria. O Rei Ogma lançou uma praga sobre a terra na tentativa de reviver sua amada, mas tudo saiu errado. A maldição de Glimmer acabou corrompendo até mesmo o próprio rei. Nossa missão é simples: impedir os planos de Ogma e restaurar a paz. A introdução é bem construída, com cenas estilizadas que combinam com o estilo gráfico escolhido pela desenvolvedora.

De início, controlamos um Doberknight, o nome já indica o tipo de universo criado pela desenvolvedora. A maioria dos personagens são animais antropomorfizados. Nosso protagonista é um dobermann, enquanto a maioria dos inimigos inclui pássaros, insetos e lobos. Com o avanço da campanha, novos personagens jogáveis são desbloqueados, cada um com identidade própria. Apesar disso, o processo para liberar todos pode ser cansativo.

É uma pena o jogo não ter localização em português. Por ser um projeto de estúdio menor, é compreensível, mas a ausência se faz sentir. Muitos diálogos com lojistas e descrições de cartas ajudam a contextualizar a trama e o universo, e não os ter em nosso idioma tira parte da imersão.

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Introdução rápida sobre a trama elimina qualquer dúvida
Foto: Reprodução / Matheus Santana

Coração das cartas 

O que faz o jogo ser viciante por horas é a montagem dos baralhos e a jogabilidade, que se assemelha a clássicos como Final Fantasy Tactics, mas com aprimoramentos — especialmente na câmera e na quantidade de jogadas por turno. As ações são separadas entre pontos de movimento, que permitem até cinco passos por turno, e ações, como atacar ou lançar magias. Por ser um RPG tático com elementos de roguelike, é esperado que nem tudo será superado na primeira tentativa.

É nessa repetição constante, exigindo tentativa e erro até encontrar a estratégia ideal, que os problemas começam a aparecer. No início, o mapa com caminhos ramificados parece oferecer liberdade, mas rapidamente se nota a falta de variedade entre os inimigos. Mesmo com a grande quantidade de cartas disponíveis, essa limitação pesa e compromete o fator replay.

Ter uma visão completa da fase ajuda a planejar melhor as estratégias
Foto: Reprodução / Matheus Santana

Ao completar um nível, é possível escolher novas cartas para o deck e recrutar um companheiro. Esses aliados trazem habilidades interessantes, mas são frágeis demais. Poucos ataques bastam para derrubá-los, deixando seu personagem vulnerável. Esse desbalanceamento afeta diretamente a experiência de jogo, tornando algumas sessões mais frustrantes do que desafiadoras.

As missões também sofrem com a falta de variedade, o que compromete o ritmo da progressão. A maioria das fases que joguei seguia um mesmo padrão, exigindo a destruição de pilares que invocam inimigos. Essas situações rapidamente se tornam caóticas, especialmente porque, mesmo com uma boa quantidade de ações por turno, alcançar os inimigos espalhados pelo mapa pode ser difícil. Como resultado, os companheiros acabam sendo derrotados com facilidade, e a estratégia planejada se desfaz.

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Joguei no Steam Deck e tudo funcionou muito bem. O jogo combina perfeitamente com o formato portátil, sem apresentar quedas de desempenho nas batalhas ou nas cutscenes. O único problema notável foi nos controles, que em alguns momentos estavam pouco responsivos, exigindo mais pressão para executar certas ações. Também enfrentei um bug na loja, em que a descrição de um item ficou presa na tela e só saiu ao reiniciar o jogo.

Considerações

Shuffle Tactics - Nota 7
Foto: Divulgação / Game On

Shuffle Tactics tem um universo visual interessante e uma mecânica central viciante, baseada em montar baralhos e adaptar estratégias em combates por turno. A proposta de explorar um mapa com múltiplas rotas e companheiros para recrutar traz uma boa dose de liberdade. No entanto, o ritmo do jogo sofre com a pouca variedade de inimigos e missões repetitivas. A falta de balanceamento em certos momentos, com picos de dificuldade e aliados frágeis demais, prejudica a fluidez da experiência.

Mesmo com esses tropeços, a base construída pelo estúdio tem potencial. A direção de arte chama atenção, o sistema de cartas é divertido e a combinação entre tática e aleatoriedade funciona bem quando há espaço para respirar entre os combates. Se receber ajustes na variedade de conteúdo e no equilíbrio das batalhas, Shuffle Tactics pode crescer muito mais do que mostra nesta versão inicial.

Shuffle Tactics está disponível para PC.

Esta análise foi feita no Steam Deck, com uma cópia gentilmente cedida pela The Arcade Crew.

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Fonte: Game On
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