Maratona no Pan: os 42 km e a aflição dos minutos finais

Peruana venceu prova e bateu recordes; brasileira que defendia título ficou com a prata

18 jul 2015 - 14h53
(atualizado às 18h13)

“Por favor, Gladys. Nós precisamos de uma alegria. Corre, garota”, pedia à distância um fotógrafo peruano enquanto observava Gladys Tejeda passar pelas avenidas de Toronto, onde acontecia a maratona dos Jogos Pan-Americanos. A torcida valeu. A maratonista não só superou a brasileira Adriana da Silva, que foi campeã nos Jogos de Guadalajara em 2011, como também bateu o recorde da competição ao finalizar a prova com 2h33m03s.

Assistir à maratona pode parecer um pouco tedioso: escolher um ponto da competição e aguardar aqueles breves segundos por onde as atletas passam. No caso dos Jogos de Toronto, foi escolhido um circuito por onde as atletas passavam por uma sequência de arquibancadas a cada 20 minutos. Cabia então a um dos apresentadores do evento entreter a torcida, formada na maioria por canadenses e peruanos, durante estas lacunas de tempo.

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A atleta brasileira Adriana da Silva, que foi ouro em Guadalajara 2011, ficou com a prata
A atleta brasileira Adriana da Silva, que foi ouro em Guadalajara 2011, ficou com a prata
Foto: Osmar Portilho / Terra

Porém, cada um destes momentos se torna mais dramático a cada metro vencido pelas largas passadas. Se na TV vemos apenas expressões faciais de conquista, a poucos metros das corredoras é possível ouvir a respiração pesada, o peso de cada passo e o desespero de quem busca algum alívio nos copos d’água oferecidos no trajeto. O público aplaude, grita o nome dos países de cada atleta, mas é difícil saber se algum tipo de estímulo funciona nessa hora.

Gladys Tejeda, do Peru, venceu prova e bateu recorde do Pan-Americano
Foto: Osmar Portilho / Terra

Após 2h33min, a peruana Gladys Tejeda, que havia sido medalha de bronze em 2011, despontou no horizonte da já ensolarada Toronto. A torcida peruana é grande. Ela sorri, abre os braços e demonstra certo alívio ao encostar na faixa de chegada. É neste momento que tudo muda. O sorriso aberto aos fãs imediatamente se transforma em diferentes reações. Tejeda levou as mãos ao rosto, como se estivesse prestes a vomitar.

Ela se ajoelha.

Desaba.

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Os voluntários a amparam rapidamente. Dão água e a envolvem em toalhas geladas. A corredora que atravessava o ar, imbatível, após 42,195 km, deixa a pista trêmula, frágil.

Quando a brasileira Adriana surge, é possível ouvir a respiração já misturada com gemidos de longe. A sequência é igual. A corredora sorri, acena, faz o sinal da cruz e, antes mesmo de cruzar a linha, presta continência, gesto dos atletas que gerou polemica nas últimas semanas. O sorriso se vai. Adriana se ajoelha, beija o asfalto e se senta ali mesmo, até ser retirada com a ajuda de seu time e dos voluntários dos Jogos.

A chegada da terceira colocada, a americana Lindsay Flanagan, foi uma das mais comoventes. Ao contrário das duas anteriores, a corredora não acenou, não sorriu, não mandou beijos.

Atleta norte-americana ficou com bronze e foi amparada por sua técnica ao fim da competição
Foto: Osmar Portilho / Terra

A expressão de Lindsay nos últimos metros era só de dor. E nada mais.

A cada passo, uma careta mais intensa.

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Ao cruzar a linha, um choro alto e intenso. Engasgado e com soluços. Sua técnica a ampara e, sorrindo, lhe oferece água. Ela recusa, segura a coxa e desaba a chorar, gerando um momento de tamanha intensidade a ponto de constranger quem está ali para fotografar e registrar tudo. 

Lindsay Flanagan, dos Estados Unidos, chorou bastante ao chegar ao final dos 42km
Foto: Osmar Portilho / Terra

Há um sentimento estranho após a prova. Os minutos após a conquista, geralmente tomados pela emoção e alegria, se passam em macas, onde as corredoras são reidratadas enquanto a respiração segue tensa. Cada chegada, uma nova comoção.

Uma a uma, elas são aplaudidas e amparadas. 

Difícil imaginar o tipo de motivação para se correr mais 42,195 km e chegar novamente neste ponto onde o corpo "pede arrego". Mas é certo que elas vão chegar e que não há nada de tedioso em ver uma maratona ao vivo.

Prova da maratona feminina foi realizada neste sábado em Toronto
Foto: Osmar Portilho / Terra
Prova feminina da maratona foi realizada na manhã deste sábado em Toronto
Foto: Osmar Portilho / Terra
Velas ou belas? Praia do Pan vira arquibancada de competição
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Fonte: Terra
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