Todos os estágios do luto: Ricciardo decepciona e cumpre aviso prévio na McLaren

Negação, raiva, negociação, depressão e aceitação... casamento entre Daniel Ricciardo e McLaren essencialmente acabou - falta só a formalização. Dá para questionar a maneira que a equipe de Woking lida com a saída, mas decisão é completamente entendível

10 ago 2022 - 04h00
Ricciardo quer ser recompensado por encerrar precocemente contrato com a McLaren
Ricciardo quer ser recompensado por encerrar precocemente contrato com a McLaren
Foto: McLaren / Grande Prêmio

GUERRA POR PIASTRI + FUTURO DE RICCIARDO + F1 2022 REVIEW | Paddock GP  #299

Não há como negar: o casamento entre Daniel Ricciardo e McLaren não deu liga — e tem tudo, absolutamente tudo, para acabar em divórcio. A forma com que o término acontece chama atenção, claro, já que a equipe de Woking parece insistir em fazer tudo da pior maneira possível. Mas não podemos nos esquecer: do ponto de vista do time, é completamente entendível partir caminhos com o australiano.

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Ricciardo não consegue se adaptar ao MCL36, ao time. Não há mais desculpa, como em 2021. A paciência — com a irregularidade (na verdade, há regularidade sim, mas com a parte de baixo da tabela), com os erros, com a falta de desempenho — simplesmente acabou. 

Os números não mentem. Lando Norris somou 76 pontos no campeonato. Ricciardo, 19. Lando deixou de pontuar em três corridas — Ricciardo pontuou em somente quatro. Se a McLaren vê a Alpine assumir o posto de quarta força do grid, dá muito bem para endereçar a conta ao piloto de 33 anos.

Tchau, I have to go now… (Foto: McLaren)

Novamente: dá para questionar como a McLaren fez toda a negociação por Oscar Piastri e a eventual substituição de Ricciardo. Mas a saída do veterano da equipe tornou-se mais uma questão de 'quando', e não 'se'.

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Vou pedir licença a você leitora, leitor, para trazer um conceito a esta análise. Você já ouviu falar do Modelo de Kübler-Ross? No livro "On Death and Dying", a autora Elisabeth Kübler-Ross cunhou o que viria a ser popularmente conhecido como "5 Estágios de Luto". Não necessariamente somente utilizado para se referir à morte, e sim a qualquer perda pessoal — como um divórcio —, os estágios são negação, raiva, negociação, depressão e aceitação.

Você deve estar se perguntando: "ok, mas e daí?". E daí, que dá para perfeitamente encaixar tais estágios à situação de McLaren-Ricciardo e, consequentemente, entender como chegamos a tal cenário.

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Primeiro, a negação. Quando tudo já apontava para o fim do casamento entre as partes — Piastri ainda não estava na jogada, mas Álex Palou sim —, Ricciardo deixou claro que não tinha intenção nenhuma de deixar a McLaren. Por parte da equipe de Woking, o chefe da F1 Andreas Seidl defendeu o empregado. 

"Temos um contrato com Daniel para o próximo ano e é por isso que estamos calmos, trabalhando duro e tentando encontrar as porcentagens que ele tem perdido nesse momento."

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A raiva. Essa, partindo de Zak Brown, CEO do grupo McLaren. Logo após o GP da Espanha, as performances ruins de Ricciardo geraram comentários públicos do chefão - que aplicou um verdadeiro choque de realidade e não mediu palavras para falar sobre o australiano.

Daniel Ricciardo e McLaren: casamento encerrado (Foto: Fórmula 1)

"Nós obviamente gostaríamos de ver Daniel mais perto de Lando em termos de performance, para termos uma boa disputa interna. Com exceção de Monza e algumas outras corridas, (Ricciardo) não tem cumprido as expectativas dele e as nossas", disparou Brown.

Negociação. Mais uma vez, antes de Piastri entrar na jogada, parecia que Ricciardo seria substituído pelos talentos que Zak Brown admira na Fórmula Indy. Colton Herta, Palou — contratado pela McLaren, ainda que em meio à verdadeira guerra com a Ganassi —, Pato O'Ward… só se falava deles. Mas oras, se o australiano deixaria a Fórmula 1, para onde iria?

Quando um encerramento de vínculo com a McLaren parecia improvável, rumores de Ricciardo na Fórmula E e na Indy começavam a surgir — e, especificamente aqui, não poderiam ser ignorados. Zak Brown saiu contratando Deus e o mundo, diria o ditado — a ponto do contratado Felix Rosenqvist não saber em qual categoria vai correr em 2023, tamanha a indefinição das vagas.

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Chegamos à depressão. Fins melancólicos como este são tristes, é natural, parte da vida. Agora sim, com Piastri na jogada: a McLaren aproveitou que o jovem talento jamais teve um contrato registrado pela equipe de Fórmula 1 da Alpine — por isso o caminho aberto —, fechou negócio e avisou o Ricciardo da data de divórcio: o fim da temporada de 2022 da F1.

A aceitação naturalmente acompanhou. Ricciardo parou de brigar com a realidade e começou a se preparar para o término. E término salgado no bolso, viu? O australiano quer uma compensação de R$ 107 milhões para aceitar a demissão da McLaren e encerrar o contrato precocemente.

Pronto. Ricciardo convive com a pressão pela sua substituição, claro, mas esta tem data de validade para acabar. O período é de cumprimento do aviso prévio, mas a verdadeira questão que fica é: e o futuro?

Para o australiano, não há muita saída. O passo para trás é inevitável. Mesmo que vá para a Alpine, provável destino — Otmar Szafnauer já inclusive abriu as portas da equipe francesa —, o retrocesso vai acompanhar Ricciardo. Sim, a Alpine está à frente da McLaren no Mundial de Construtores, mas não podemos nos esquecer que o australiano saiu de uma para a outra com a intenção de alçar voos maiores. Não rolou.

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Ricciardo não tem ninguém a culpar, que não a si mesmo, pelo estado em que se encontra. Nem mesmo a épica vitória em Monza, no ano passado, é capaz de mudar essa percepção. Se a porta da Alpine de fato se abrir, o australiano precisa agarrar com todas as forças e fazer valer. Não dá para passar por cinco estágios de perda outra vez. 

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