O Mercado Livre espera que a Black Friday de 2025 supere 2024 em vendas, mesmo com a disputa cada vez maior no comércio eletrônico.
Para esta edição, a companhia preparou diversas iscas para atrair os clientes: há cupons de desconto, frete reduzido e entrega mais rápida. Por outro lado, o grupo tem buscado compensar esses incentivos com ganho de escala, aumento de produtividade e diluição de custos.
"Com certeza há produtos que vão ficar com uma margem negativa. Mas também há produtos que darão lucro", disse o líder do Mercado Livre no Brasil, Fernando Yunes, em entrevista ao Estadão/Broadcast nesta sexta-feira, 28, no centro de distribuição da empresa em Cajamar (SP). "Em algumas categorias, a concorrência geralmente é mais agressiva, e o produto pode ficar com uma margem negativa. Mas também temos ações para ganhos de eficiências", ponderou.
Nesta Black Friday, o Mercado Livre está oferecendo R$ 100 milhões em cupons de desconto, um aumento de 150% em relação ao mesmo período de 2024.
"Os cupons vão para as categorias que são mais estratégicas, onde queremos crescer e ganhar mais participação de mercado, e também onde a concorrência geralmente é mais agressiva", apontou Yunes, citando eletrodomésticos, smartphones e artigos de moda e beleza.
Há alguns meses, a empresa passou também a oferecer frete grátis para compras a partir de R$ 19 (antes era R$ 79). Segundo o executivo, isso aumentou "violentamente" os índices de conversão de compras após os clientes colocarem os itens no carrinho.
Além disso, a empresa abriu oito novos centros de distribuição este ano, chegando a 28. Com isso, 52% das entregas chegam à casa dos consumidores no mesmo dia ou no dia seguinte, enquanto 80% chegam em até dois dias.
Promoção verdadeira
Outra novidade foi a criação de um selo de autenticidade das promoções, com a ideia de afastar os anúncios ilusórios, com "descontos que correspondem à metade do dobro".
Dessa forma, só recebe o selo de Black Friday aquele vendedor que anunciar um preço pelo menos 5% mais baixo do que o menor preço já anunciado por ele mesmo nos 60 dias anteriores.
"Criamos um selo para dar segurança para as pessoas. O medo do consumidor na Black Friday é se deparar com fraudes", afirmou Yunes. Na véspera da Black Friday, quando o comércio já tem várias promoções, o desconto médio apurado pelo grupo nos produtos com selo foi de 33%.
O líder do Mercado Livre no Brasil observou ainda que o consumidor local está mais atento, portanto, é fundamental garantir que as promoções sejam concretas. "Vemos um consumo cada vez mais planejado e antenado. O consumidor está indo buscar informação para garantir que vai aproveitar esse momento."
Compensação
Para compensar a perda de margem provocada por esse conjunto de incentivos, o grupo tem buscado um contrapeso. Como exemplo disso, está o aumento de itens distribuídos por caminhão. Isso permitiu um corte de 8% nas despesas logísticas entre o segundo e o terceiro trimestres.
Além disso, já são empregados 500 robôs na separação de mercadorias, que ajudam a reduzir o tempo do processo de entrega e liberar a mão de obra para outras tarefas. Isso tem sido importante em cidades como Cajamar e Extrema (MG) — dois dos maiores polos de comércio eletrônico do País —, onde há escassez de trabalhadores.
Liderança em eletrodomésticos
Na quinta-feira, 27, véspera da Black Friday, o Mercado Livre rompeu uma barreira importante e há muito tempo desejada: ser líder na venda online de eletrodomésticos.
"Era a última categoria de produto que faltava para a gente conseguir conquistar a liderança", disse Yunes. Ele acredita que nesta sexta-feira, 28, o dia da megaliquidação, vai conseguir repetir esse feito.
A empresa nasceu vendendo itens menores de outras lojas e sempre teve uma logística dedicada para essa forma de operação. No entanto, nos últimos tempos começou a criar uma estrutura para comercialização de produtos de maior tamanho, como geladeiras e lavadoras.
Além disso, montou um novo centro de distribuição nas redondezas de Cajamar adequado para receber esses itens e treinou vendedores também.
O grupo já tinha como empresas participantes de seu marketplace Carrefour e varejistas especializadas em eletrodomésticos, como Fast Shop e Casa & Vídeo, e outras regionais como Gazin, do Paraná, Koerich, de Santa Catarina, e Le Biscuit.
No entanto, o ponto decisivo para quebrar essa barreira e liderar a venda de eletrodomésticos foi a entrada da Casas Bahia no marketplace, que ocorreu no início deste mês, disse Yunes.
"O tamanho da sinergia que tem as Casas Bahia foi importante. Por isso que o volume de venda acelerou muito rápido, foi um começo bem forte, surpreendente, e ajudou a gente ontem (quinta-feira, 27) a ser líder (nas vendas) de eletrodomésticos", afirmou.
Yunes não revelou qual foi o montante de vendas de eletrodomésticos que a empresa conseguiu atingir na quinta-feira. Ele declarou apenas que os números foram apontados pela consultoria Neotrust, que monitora as vendas no comércio online.
O executivo disse que a parceria com a Casas Bahia não é exclusiva e que a empresa estuda acordos semelhantes com outras varejistas regionais para reforçar a sua posição nos eletrodomésticos.
Remédios
Yunes disse que o Mercado Livre se prepara para agora crescer no e-commerce abrindo a venda de medicamentos. Recentemente, a companhia comprou uma farmácia porque a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) não permite o modelo de marketplace na venda de medicamentos, isto é, trazendo as farmácias de terceiros para dentro do ecossistema
"Estamos conversando com a Anvisa para atualizar a regulamentação", afirmou o líder do Mercado Livre no Brasil. O executivo afirmou que o País está atrasado nesse ponto e que em outros países da América Latina onde a empresa atua, como México, Argentina, Chile e Colômbia, ela vende medicamentos de terceiros em seu marketplace.
"Gostaríamos que essa regulação avançasse no primeiro trimestre (de 2026) e aí a gente pudesse trazer as farmácias para venderem através do Mercado Livre", diz o CEO, ressaltando que, se isso ocorrer, o marketplace estará completo no mix de produtos.