Copom mantém Selic em 15% ao ano pela 4ª vez seguida e empurra corte de juros para 2026

Em decisão unânime, comitê não sinalizou próximos passos; patamar da taxa básica de juros é o maior em quase duas décadas

10 dez 2025 - 18h48
(atualizado às 19h25)

BRASÍLIA - O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira, 10, última reunião de 2025, manter a taxa Selic em 15% ao ano. Alvo de pressão do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para baixar os juros, o colegiado optou pela manutenção em decisão unânime e empurrou o corte de juros para 2026, ano eleitoral.

"O cenário atual, marcado por elevada incerteza, exige cautela na condução da política monetária", justificou o colegiado. "O Comitê avalia que a estratégia em curso, de manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado, é adequada para assegurar a convergência da inflação à meta", diz o comunicado.

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O comitê, porém, não sinalizou seus próximos passos no comunicado, mantendo a indefinição sobre quando a trajetória de queda da Selic poderia ter início. O colegiado repetiu que seguirá "vigilante" e que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados.

Essa é a quarta reunião consecutiva em que a autarquia mantém o nível da Selic, que está no maior patamar desde julho de 2006.

De setembro de 2024 até a reunião de junho deste ano, o BC aumentou a taxa em 4,50 pontos, o segundo maior ciclo de alta dos últimos 20 anos - perdendo apenas para a alta de 11,75 pontos entre março de 2021 e agosto de 2022, que ocorreu após o fim da pandemia.

A decisão veio conforme previam 35 das 36 casas consultadas pelo Projeções Broadcast. A decisão do colegiado foi unânime. O resultado também veio em linha com a mediana do relatório Focus para a Selic no fim de 2025, que permaneceu em 15% nas últimas 24 semanas.

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Essa é a quarta reunião consecutiva em que a autarquia mantém o nível da Selic em 15% ao ano
Essa é a quarta reunião consecutiva em que a autarquia mantém o nível da Selic em 15% ao ano
Foto: Dida Sampaio/Estadão / Estadão

Tarifaço e política fiscal no radar

O Comitê diz que segue acompanhando os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos ao Brasil. "?O ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, com reflexos nas condições financeiras globais. Tal cenário exige cautela por parte de países emergentes em ambiente marcado por tensão geopolítica", diz o texto.

Também nesta quarta, o Federal Reserve (banco central dos EUA) anunciou um corte de 0,25 ponto porcentual nos juros americanos, para o intervalo entre 3,75% e 4% ao ano. Trata-se da segunda queda consecutiva das taxas no atual ciclo de flexibilização monetária do BC dos EUA.

No âmbito doméstico, o Copom afirmou que acompanha como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros, "reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza".

"O cenário segue sendo marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho", diz o Copom.

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O colegiado afirma que, para assegurar a convergência da inflação à meta nesse ambiente de expectativas desancoradas, "exige-se uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado".

Também enfatiza que a manutenção da Selic em 15% é compatível com a estratégia de convergência da inflação para ao redor da meta ao longo do horizonte relevante. "Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego", emenda.

Juros reais

Com a manutenção da Selic em 15%, o Brasil continua com a segunda maior taxa de juros reais do mundo, de 9,44%, segundo o ranking MoneYou/Lev Intelligence. O País está atrás apenas da Turquia, com 10,33%. A Rússia aparece no terceiro lugar, com 7,89%. Depois, figuram no ranking Argentina (7,14%) e México (4,21%).

O BC calcula que a taxa real neutra de juros do Brasil - que não estimula, nem deprime a economia - é de 5,0%.

Inflação

O Copom repetiu que considera os riscos para a inflação como "mais elevados do que o usual." No comunicado, o colegiado voltou a citar os mesmos três riscos para cima e três riscos para baixo no seu balanço.

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Entre os riscos de alta, o Copom mencionou: uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; maior resiliência da inflação de serviços, por causa de um hiato do produto mais positivo; e uma "conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário", por exemplo, causando uma desvalorização do câmbio.

Nos riscos de baixa, aparecem: eventual desaceleração da atividade doméstica mais acentuada do que o esperado, com impacto na inflação; uma desaceleração global mais pronunciada decorrente do choque de comércio e de um cenário de maior incerteza; e uma redução nos preços das commodities com efeitos desinflacionários.

Todos os riscos repetem exatamente o que foi mencionado no comunicado da reunião anterior, de 5 de novembro.

Projeções

O Copom revisou sua projeção para a inflação acumulada em 12 meses até o fim do segundo trimestre de 2027, de 3,3% para 3,2%. Esse se tornou o horizonte relevante da política monetária na última reunião do colegiado, em novembro.

A projeção continua acima do centro da meta, de 3%. Isso indica que a trajetória de juros embutida no relatório Focus é insuficiente para fazer a inflação convergir ao alvo no período de seis trimestres observado pelo BC. Hoje, a mediana para a Selic no fim de 2026 é de 12,25%.

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A projeção do Copom para o IPCA de 2025, no cenário de referência, diminuiu de 4,6% para 4,4%, abaixo do teto da meta, de 4,50%, pela primeira vez desde novembro de 2024, quando estava em 3,9%. O BC descumpriu a nova meta contínua de inflação em junho deste ano. Na carta aberta ao ministro da Fazenda, informou que esperava que o IPCA em 12 meses caísse abaixo de 4,50% no fim do primeiro trimestre de 2026.

A estimativa para a inflação de 2025 divulgada nesta quarta-feira leva em conta uma redução no preço do dólar, de R$ 5,40 na reunião anterior para R$ 5,35, além da evolução da taxa de câmbio conforme a paridade do poder de compra (PPC), a trajetória da Selic embutida no relatório Focus e o preço do petróleo seguindo a curva futura por aproximadamente seis meses, passando a aumentar 2% ao ano posteriormente - o chamado "cenário de referência" do BC.

A projeção do colegiado para o IPCA de 2026 passou de 3,6% para 3,5%, ainda acima do centro da meta, de 3%. Também nesse cenário de referência, o Copom ajustou a sua projeção para a inflação de preços livres em 2025, de 4,5% para 4,0%.

O Copom manteve as estimativas para os preços livres em 2026 (3,6%) e no segundo trimestre de 2027 (3,2%). A projeção para os preços administrados passou de 5,0% para 5,3% este ano, de 3,4% para 3,2% no próximo e de 3,5% para 3,4% no horizonte relevante.

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