A ComBio, maior empresa brasileira de fornecimento de energia térmica renovável para a indústria, projeta triplicar para cerca de R$2,4 bilhões o seu faturamento em cinco anos, vendo uma importante avenida de crescimento na demanda do setor de etanol de milho, disse o diretor comercial da companhia, Ricardo Blandy, à Reuters.
Contratado há pouco mais de um ano, Blandy recebeu a missão de expandir a companhia por meio de acordos com indústrias do agronegócio, notadamente de etanol de milho, que tem na oferta de biomassa para geração de energia o seu principal gargalo.
No Brasil, há 25 usinas de etanol de milho em operação, outras 18 em construção e 19 projetos adicionais, citou o executivo, em momento em que a oferta de biomassa já começa a ficar escassa para dar conta do crescimento recente de cerca de 20% ao ano na produção do biocombustível.
"O vapor é fundamental, faz parte do coração das indústrias", disse ele, destacando que a ComBio oferece um pacote completo para os seus clientes, cuidando da originação da biomassa para a geração de energia, do investimento e da operação dos projetos termelétricos das unidades produtoras.
Em Estados como o Mato Grosso, maior produtor de etanol de milho do Brasil, "o grande desafio" é a oferta de biomassa para mover as caldeiras de vapor para geração de energia, uma questão até maior do que o suprimento do cereal ou dos preços do biocombustível, avaliou o executivo.
"Há regiões onde é séria essa questão, e o Mato Grosso é um exemplo. Tem regiões com um déficit de biomassa assustador", afirmou ele.
O forte crescimento da indústria de etanol de milho e a oferta escassa de biomassa para geração de energia estão entre os fatores que levaram o Ministério Público de Mato Grosso a abrir uma investigação para avaliar se há ilegalidade no uso de madeira de matas nativas para geração de energia pelo segmento, conforme reportou a Reuters ao final de outubro. O processo está em curso.
No caso da ComBio, a oferta de biomassa segue os mais elevados padrões de sustentabilidade ambiental, que incluem um programa de rastreabilidade da matéria-prima, disse Blandy.
A empresa já fornece seus serviços para dez empresas de vários segmentos, como papel e celulose, mineração, alimentos, bebidas e petroquímica -- incluindo Klabin, Nexa Resources, CBA, Ingredion, Grupo Petrópolis e Braskem.
"Um dos diferenciais da empresa é que temos o programa de biomassa rastreada, a gente consome 1,5 milhão de toneladas por ano, de 14 tipos de biomassa", disse ele, citando casca de arroz, caroço de açaí, bambu, capim, além de cavaco de madeira.
A empresa conta com cerca de 80 fornecedores espalhados pelo Brasil, e exige que seus parceiros adotem práticas mais sustentáveis, acrescentou.
Mas a ComBio ainda não tem nenhum cliente do segmento de etanol de milho, algo que deve mudar em breve, disse o diretor, ressaltando que a oferta rastreada de matéria-prima é um dos diferenciais que tem atraído os novos parceiros.
"Já conversamos com os 30 principais produtores ou com projeto de etanol, e estamos a algumas semanas de divulgar os nossos primeiros contratos", disse ele, evitando dar detalhes.
A companhia, que deve faturar R$800 milhões em 2025, tem R$250 milhões adicionais em receita contratada nos próximos anos.
Para dar conta da demanda futura por biomassa pelo setor de etanol de milho, a ComBio está também se estruturando para iniciar projeto de plantio de eucalipto de aproximadamente 10 mil hectares em Mato Grosso nos próximos anos, revelou o executivo.
SOLUÇÃO COMPLETA
Além da solução da oferta de biomassa, a companhia também oferece no pacote os investimentos na geração de energia renovável e também cuida da operação da termelétrica com seu "know-how", de forma que as usinas possam focar no negócio principal, a produção de etanol, por exemplo.
O investimento na termelétrica a biomassa pode responder por até cerca de 30% dos aportes totais em uma usina de etanol de milho, que giram entre R$1 bilhão e R$1,5 bilhão.
"Fazemos com capital próprio ou com alavancagem nossa... captamos dívida com Banco Mundial, dívida com BNDES e outras bastante competitivas para fazer esses investimentos", afirmou o diretor da ComBio.
Ele lembrou ainda que, se no lado industrial (para a geração de energia térmica), há projetos que demandam entre R$150 milhões e R$300 milhões, do lado do ativo biológico há mais até R$300 milhões, dependendo do tamanho do empreendimento.
"Podemos falar de R$600 milhões de investimento da ComBio para garantir tanto o capex industrial quanto o florestal", exemplificou, ressaltando que a companhia está estruturada para resolver as "dores" do investimento, dos riscos de oferta de biomassa, além da operação do ativo térmico.